500 mil copos: o que é feito com o plástico descartado na São Silvestre?
Antoniele Luciano
Colaboração para Ecoa
29/12/2023 04h02
Corrida de rua mais famosa e tradicional do Brasil, a São Silvestre tem números grandiosos. A prova realizada no próximo dia 31 de dezembro conta com cerca de 35 mil atletas inscritos, que usarão cerca de 500 mil copos de água para se hidratar e refrescar o calor ao longo do percurso de 15 km.
Mas esse material descartado não vai para o lixo e é transformado em novos produtos pelo Movimento Plástico Transforma (MPT).
No ano passado, os 190 mil copinhos recolhidos foram usados na fabricação de 214 mesas e 420 cadeiras. O mobiliário foi doado para escolas de Pernambuco.
Integrante do grupo técnico do MPT, Simone Carvalho explica que a ação é fruto de parcerias entre diferentes agentes, como recicladoras e indústrias.
Depois de recolhidos no percurso da prova, os resíduos são encaminhados para a etapa de retirada dos lacres de alumínio.
Já na recicladora, o plástico é transformado em um granulado. Esse material segue para a indústria parceira, que o utiliza para fabricar novos produtos.
Esses copos já tinham uma destinação, mas não se mostrava para a população o que era feito. Nosso objetivo é mostrar que, quando temos consumo consciente e o descarte correto, conseguimos trazer esse material de volta para o ciclo produtivo na forma de novos produtos que beneficiam a sociedade. Simone Carvalho
Trabalho conjunto
No caso dos 750 kg de plástico coletados durante a São Silvestre de 2022, a empresa Plastimil fez a reciclagem, enquanto a Colorfix foi responsável pelo desenvolvimento das cores nos materiais e a Tramontina Delta usou a resina final para fabricar o novo mobiliário escolar.
Rui Baldasso, diretor da Tramontina, relata que diversos testes de qualidade foram realizados com o material até que fosse possível chegar ao modelo produzido, o Conjunto Infantil Sophia, mobiliários em polipropileno que já faziam parte da linha de produtos da fabricante.
"Aceitamos prontamente esse desafio e iniciamos o desenvolvimento de um produto que, mesmo sendo fabricado com resina pós-consumo, mantém os mesmos padrões de qualidade e segurança encontrados nos mais de 22 mil itens que compõem o portfólio da Tramontina", afirma.
As novas mesas e cadeiras foram enviadas a escolas públicas situadas ao redor do parque fabril da Tramontina em Moreno, na região metropolitana de Recife, em Pernambuco, além da ONG Movimento Inspire, instituição apadrinhada pela empresa. Cerca de 680 crianças foram beneficiadas.
Diversificação de produtos
Em edições anteriores da São Silvestre, o MPT transformou os copos plásticos recolhidos em diferentes produtos.
A coleta realizada em 2019 resultou na produção de 1,8 mil lixeiras.
Devido à pandemia, a entrega das unidades ocorreu somente em 2021. Foram repassados a escolas do interior de São Paulo 900 kits com uma lixeira colorida para resíduos orgânicos e outra para recicláveis.
O plástico coletado na corrida de 2021, por sua vez, foi transformado pela empresa Monte Líbano em 1,2 mil caixas organizadoras para uso em salas de aula.
Por meio da iniciativa, foram beneficiadas 6 mil crianças em 13 unidades de educação infantil da cidade de São Paulo.
De acordo com a integrante do grupo técnico do MPT, a escolha das instituições atendidas costuma seguir critérios de logística junto aos parceiros. Em geral, essas instituições já estão próximas dos fabricantes, o que reduz o custo do transporte dos produtos e, também, as emissões de carbono geradas nessa etapa.
Agenda para 2023
Neste ano, a 98ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre também contará com a iniciativa. Mas falta ainda definir qual será o produto. Por enquanto, a novidade é que a coleta inicial será feita por uma cooperativa.
A ação do MPT na prova é fruto de uma parceria entre o movimento, a Fundação Cásper Líbero e a organizadora da corrida, a Yescom. Já o MPT é uma iniciativa da Braskem e Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico).
Além de projetos como o da São Silvestre, o MPT também tem em andamento ações como o Espaço Economia Circular no Museu Catavento, em São Paulo. A instalação traz informações sobre a criação dos plásticos, seus diferentes tipos e aplicações, bem como jogos e projeções sobre reciclagem, consumo e descarte conscientes.