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Por que ataques de abelhas estão crescendo no Brasil?

Imagem: iStock

Rone Carvalho

Colaboração para Ecoa

16/01/2024 04h05

Uma ferroada próxima da sobrancelha deixou Lucas*, 25, com o olho inchado durante três dias. "Tive que procurar atendimento médico, pois não desinchava."

Assim como ele, aproximadamente 185 mil brasileiros precisaram de ajuda médica nos últimos dez anos após serem ferroados por abelhas. Uma média de dois atendimentos por hora.

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Importantes para a produção agrícola e segurança alimentar, as abelhas sofrem de forma acelerada com as mudanças da paisagem brasileira, a partir do desmatamento, uso abusivo de agrotóxicos e da escassez de árvores.

O resultado é um efeito dominó: em busca de alimento, elas ficam cada vez mais perto de ambientes urbanos e dos seres humanos, o que consequentemente causa mais acidentes.

Para se ter uma ideia, entre 2012 e 2022, 550 pessoas morreram após serem ferroados por abelhas.

No Brasil, a maioria dos acidentes são causados por abelhas não nativas. Espécies que foram introduzidas a partir de 1839, quando europeus não conseguindo produzir mel e própolis com espécies nativas, resolveram trazer linhagens da África e Europa para o território brasileiro.

O resultado foi um cruzamento acidental entre as subespécies, resultando na Apis mellifera "made in Brasil": nem tão agressivas quanto as abelhas africanas, mas capazes de ferroar ao se sentirem ameaçadas.

O que, normalmente, as pessoas chamam de ataques, na verdade, são formas de defesa. Uma abelha não ataca ninguém por nada, ela só ataca ao se sentir ameaçada. Tanto que ferroar uma pessoa não é uma vantagem, pois logo em seguida ela morre. Ou seja, acaba se sacrificando pela vida das outras. Ingrid Naiara Gomes, bióloga e pesquisadora da UFMG

Por que as abelhas estão atacando mais?

Ameaça: A principal causa de ataques envolvendo abelhas é em defesa da colmeia. Por isso, ao verificar uma colmeia tome distância e acione o Corpo de Bombeiros para que possa fazer a retirada dos insetos de maneira correta.

Fome: Outra combinação que tem contribuído para o aumento de ataques é a perda de habitat, por conta do uso intensivo de agrotóxicos e desmatamento. Em busca de alimento, elas estão se aproximando cada vez mais das áreas urbanas, tendo mais contato com seres humanos.

Migração: Entre outubro e março é comum que parte das abelhas de uma colmeia migre através de enxames em busca de um novo território. Essa transição, normalmente, faz com que o número de casos de acidentes envolvendo abelhas também aumente durante o verão.

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Calor: Outro fato é o excesso de calor. Com o aumento de temperatura dos últimos anos, provocados pelas mudanças climáticas, pesquisadores apontam que diversas espécies de abelhas estão ficando mais agressivas.

Odor: Algumas substâncias químicas, como perfumes e produtos de limpeza, também podem atrair abelhas, confundindo-as com cheiro de flores, onde comumente coletam néctar ou pólen. O problema é que ao se aproximarem do ser humano que porta as substâncias, diante de uma reação, elas se sentem ameaçadas e ferroam.

Ruído: Quando estão sob intenso ruído as abelhas tendem a atacar mais. É por isso, que ao tomarem as cidades, em busca de alimento, muitas acabam ferroando com maior facilidade.

O que fazer ao ser picado por uma abelha

Quando uma pessoa é ferroada por uma abelha, automaticamente ocorre uma reação em cadeia: o inseto morre, o veneno passa a agir no corpo humano ocasionando uma reação tóxica e o ferrão preso na pele desperta uma espécie de "alarme" para que outras abelhas da colônia fiquem em alerta.

Por isso que ao ser ferroado e estar próximo de uma colmeia a primeira coisa a fazer é correr para longe para que outras abelhas também não venham para cima.

Em seguida, retire o ferrão para que o veneno pare de ser injetado em seu organismo e procure ajuda médica, principalmente em caso inchaço extremo na região da ferroada e diante de sensações de tontura e dificuldades respiratórias

Já para quem é alérgico, uma única ferroada pode ser capaz de gerar o choque anafilático. Por isso, o recomendado é procurar ajuda médica o mais rápido possível.

"Os venenos têm muitos componentes e, principalmente, enzimas, que se a pessoa levar múltiplas ferroadas, pode ser injetado uma grande quantidade desse veneno ocasionando em reação tóxica: mal-estar, problemas na função do rim, do fígado, da pressão arterial", explica Alexandra Sayuri Watanabe, médica do departamento científico de anafilaxia da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

Apesar de não haver protocolos específicos para o diagnóstico dos acidentes provocados por abelha, no Brasil, eles são feitos a partir do relato do paciente e, em casos mais graves, através de exames de urina tipo 1 e hemograma.

O tratamento, normalmente, é feito a base de anti-inflamatórios não hormonais e anti-histamínicos; e corticosteroides sistêmicos. Contudo, todos requerem prescrição médica.

Em caso de ataque, evite aplicar fórmulas caseiras para aliviar o problema. Além disso, não cubra os locais atingidos pelas ferroadas com faixas ou ataduras, aumentando a temperatura da área e fazendo o veneno circular mais rápido no organismo. O ideal é baixar a temperatura dos locais atingidos com água fria e compressas com gelo.

Como evitar acidentes com abelhas

A remoção das colônias de abelhas situadas em lugares públicos ou residências deve ser efetuada por profissionais devidamente treinados e equipados, preferencialmente à noite ou ao entardecer, quando os insetos estão calmos.

Evite aproximar-se de colmeias de abelhas africanizadas sem estar com vestuário e equipamentos adequados (macacão, luvas, máscara, botas ou fumigador).

Sons de motores de aparelhos de jardinagem, por exemplo, causam extrema irritação em abelhas. O mesmo ocorre com som de motores de popa. Por isso, evite usá-los próximos de onde existem colmeias.

Principais dúvidas sobre o tema

Por que as abelhas são importantes?
Quando a abelha pousa numa flor para coletar néctar ou pólen, grãos de pólen ficam presos nos seus pelos. Em razão do movimento da abelha entre flores de plantas da mesma espécie, os grãos são levados ao estigma (parte superior da flor). Essa ação garante a produção de frutos e sementes, além da reprodução de diversas espécies de plantas.

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Como as abelhas se comunicam?
As abelhas são dotadas de um sistema de comunicação dos mais complexos e precisos entre os animais, sendo utilizados sinais mecânicos (danças), sonoros e químicos. As interações químicas se processam pela produção de feromônios, substâncias secretadas por diversas glândulas que são percebidas pelos receptores olfativos presentes nas antenas.

O que as abelhas comem?
Basicamente, néctar e mel, como fonte de carboidratos, e pólen, como fonte de proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, além de beberem água. No caso das abelhas melíferas, a rainha é alimentada com geleia real.

Qual a função das abelhas rainhas?
A rainha dá origem a todos os indivíduos da colônia, pela postura de ovos fertilizados (operárias e novas rainhas) e não fertilizados (machos). A sua presença na colônia e os feromônios que exala sinalizam para as operárias que ela é a líder reprodutora, além de?determinar o comportamento das operárias na colônia.

E o das abelhas operárias?
Elas são responsáveis pelo trabalho dentro e fora das colônias. Quando jovens, ficam com os trabalhos internos de limpeza e manutenção. Depois que envelhecem, passam a se dedicar à coleta de néctar, pólen, água e resina, além de defenderem a colônia.

Quanto tempo vive uma abelha?
O tempo de vida varia entre os indivíduos da colônia. No caso da?Apis mellifera, uma rainha pode viver, em média, dois anos de idade. As operárias em média 45 dias e os machos, quando não acasalam com uma princesa, até 80 dias. Porém, quando acasalam com uma princesa, morrem após a cópula.

Fontes: Ingrid Naiara Gomes, bióloga e pesquisadora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); Alexandra Sayuri Watanabe, médica do departamento científico de anafilaxia da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia); Fernando Noll, pesquisador do departamento de ciências biológicas da Unesp de São José do Rio Preto (SP); Felipe Andrés León Contrera, professor do Instituto de Ciência Biológicas da UFPA (Universidade Federal do Pará).

Referências: Ministério da Saúde; Associação Brasileira de Estudos das Abelhas e USP.

*O entrevistado pediu para não ser identificado.

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