'Escuro demais para ser branco': Lucas Pizane fala de colorismo; o que é?
Lucas Pizane desabafou hoje no Twitter sobre colorismo. Ele disse que se sentia em alguns ambientes "claro demais para ser preto, em outros, escuro demais para ser branco".
O ex-participante do BBB 24 revela que chegou a passar borracha na própria pele quando criança, aos sete anos, após ter o pedido de namoro negado por uma coleguinha por conta de sua cor de pele.
Mas o que é o termo colorismo, a que Lucas se refere?
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O que é colorismo?
O colorismo, assim como o racismo, é um preconceito estrutural na sociedade brasileira que afeta pessoas de pele negra e está vinculado ao processo de embranquecimento.
Este fenômeno gera desigualdades com base no tom de pele, criando relações e cenários discriminatórios. Ele surge da crença de que a raça impõe limites a algumas pessoas, enquanto permite que outras prosperem, resultando na exclusão de indivíduos com fenótipos africanos.
Na perspectiva do antropólogo Messias Basques, doutor em antropologia pelo Museu Nacional, o colorismo estabelece uma "pigmentocracia", determinando o acesso a diferentes locais e oportunidades com base na tonalidade da pele.
Ele destaca que, em uma escala cromática, quanto mais próximo do branco, as pessoas são percebidas como mais humanas, menos selvagens, tribalizadas, atrasadas e primitivas.
'Pigmentocracia' do colorismo
Basques também aponta para a polarização entre branco e preto, onde aqueles que se aproximam do meio e do polo branco recebem mais vantagens sociais e oportunidades em comparação com aqueles de pele preta e fenótipo mais marcado pela ascendência africana.
Em 1976, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) permitiu que os indivíduos expressassem livremente sua identificação de cor no Censo Demográfico. Entre os mais de 136 registros, incluíam termos como "cor de burro quando foge", "meio-branca", "loira-clara" e "morena castanha". Atualmente, o levantamento padroniza as categorias de cor e etnia como amarelo, branco, indígena, pardo e preto. A população declarada como negra (pretos e pardos) no Brasil constitui mais de 56%.
Apesar de serem a maioria, enfrentam desigualdades sociais que se refletem nos acessos às diversas áreas da sociedade, especialmente entre pessoas mais retintas. O preconceito racial, nesse contexto, considera as características mais evidentes de ascendência africana.
Raízes do colorismo
Basques destaca que a presença de pessoas negras de pele clara em locais valorizados pela elite brasileira evidencia a dificuldade de inclusão da comunidade negra como um todo, não apenas pela aparência física, mas pelo racismo fundamentado em uma hierarquia baseada na pigmentação.
Ele ilustra o impacto do colorismo nos EUA, mencionando a vida de Zora Hurston, uma autora e pesquisadora negra contemporânea de Katherine Dunham.
Enquanto Dunham, com pele mais clara, se destacou, Hurston foi enterrada sem identificação, apesar de sua genialidade prometida. Basques ressalta a importância de recordar esse episódio, pois Dunham e o colorismo influenciaram uma das primeiras leis de igualdade racial no Brasil.
O antropólogo menciona a visita de Hurston ao Brasil, onde foi impedida de entrar em um hotel, levando intelectuais, incluindo Gilberto Freyre, a protestarem contra a discriminação racial. Basques aponta a falta de ações afirmativas específicas para o colorismo e destaca que, sem um projeto de estado abordando essa questão, muitas iniciativas continuarão beneficiando principalmente pessoas negras de pele mais clara.
*Com informações de reportagem publicada em 08/09/2021.