'Escuro demais para ser branco': Lucas Pizane fala de colorismo; o que é?
Lucas Pizane desabafou hoje no Twitter sobre colorismo. Ele disse que se sentia em alguns ambientes "claro demais para ser preto, em outros, escuro demais para ser branco".
O ex-participante do BBB 24 revela que chegou a passar borracha na própria pele quando criança, aos sete anos, após ter o pedido de namoro negado por uma coleguinha por conta de sua cor de pele.
Mas o que é o termo colorismo, a que Lucas se refere?
tive um grande problema de identificação, na minha infância, por causa do colorismo. em alguns ambientes, eu era claro demais pra ser preto, em outros, escuro demais pra ser branco.
-- Lucas Pizane (@olucaspizane) January 29, 2024
até que, pedi a menina que eu gostava, na escola, em namoro e ela me disse que não poderia? https://t.co/zoHCccQQBa
O que é colorismo?
O colorismo, assim como o racismo, é um preconceito estrutural na sociedade brasileira que afeta pessoas de pele negra e está vinculado ao processo de embranquecimento.
Este fenômeno gera desigualdades com base no tom de pele, criando relações e cenários discriminatórios. Ele surge da crença de que a raça impõe limites a algumas pessoas, enquanto permite que outras prosperem, resultando na exclusão de indivíduos com fenótipos africanos.
Na perspectiva do antropólogo Messias Basques, doutor em antropologia pelo Museu Nacional, o colorismo estabelece uma "pigmentocracia", determinando o acesso a diferentes locais e oportunidades com base na tonalidade da pele.
Ele destaca que, em uma escala cromática, quanto mais próximo do branco, as pessoas são percebidas como mais humanas, menos selvagens, tribalizadas, atrasadas e primitivas.
'Pigmentocracia' do colorismo
Basques também aponta para a polarização entre branco e preto, onde aqueles que se aproximam do meio e do polo branco recebem mais vantagens sociais e oportunidades em comparação com aqueles de pele preta e fenótipo mais marcado pela ascendência africana.
Em 1976, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) permitiu que os indivíduos expressassem livremente sua identificação de cor no Censo Demográfico. Entre os mais de 136 registros, incluíam termos como "cor de burro quando foge", "meio-branca", "loira-clara" e "morena castanha". Atualmente, o levantamento padroniza as categorias de cor e etnia como amarelo, branco, indígena, pardo e preto. A população declarada como negra (pretos e pardos) no Brasil constitui mais de 56%.
Apesar de serem a maioria, enfrentam desigualdades sociais que se refletem nos acessos às diversas áreas da sociedade, especialmente entre pessoas mais retintas. O preconceito racial, nesse contexto, considera as características mais evidentes de ascendência africana.
Raízes do colorismo
Basques destaca que a presença de pessoas negras de pele clara em locais valorizados pela elite brasileira evidencia a dificuldade de inclusão da comunidade negra como um todo, não apenas pela aparência física, mas pelo racismo fundamentado em uma hierarquia baseada na pigmentação.
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Quero receberEle ilustra o impacto do colorismo nos EUA, mencionando a vida de Zora Hurston, uma autora e pesquisadora negra contemporânea de Katherine Dunham.
Enquanto Dunham, com pele mais clara, se destacou, Hurston foi enterrada sem identificação, apesar de sua genialidade prometida. Basques ressalta a importância de recordar esse episódio, pois Dunham e o colorismo influenciaram uma das primeiras leis de igualdade racial no Brasil.
O antropólogo menciona a visita de Hurston ao Brasil, onde foi impedida de entrar em um hotel, levando intelectuais, incluindo Gilberto Freyre, a protestarem contra a discriminação racial. Basques aponta a falta de ações afirmativas específicas para o colorismo e destaca que, sem um projeto de estado abordando essa questão, muitas iniciativas continuarão beneficiando principalmente pessoas negras de pele mais clara.
*Com informações de reportagem publicada em 08/09/2021.
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