Programa ensina uma profissão a quem mais precisa: 'Periféricas e capazes'

"Nunca tinha sido profissional de nenhuma área, hoje posso dizer que tenho um diploma e sou um profissional da área de pintura." Orgulhoso do seu feito, Alex Aparecido dos Santos, 34, teve sua vida transformada ao participar de um programa da Suvinil, chamado Pintar o Bem, que oferece acesso à educação e capacitação voltado ao mercado de pintura para pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica.

Nascido e criado na roça onde cortava cana e ajudava o pai pedreiro, Alex se mudou para a comunidade Vale do Jatobá, em Minas Gerais, em busca de novas oportunidades, mas não conseguiu se estabilizar e fez bicos de ajudante, garçom e vendedor ambulante.

Um dia um amigo me deu um convite do Pintar o Bem. No começo não botei fé, achei que fosse uma propaganda enganosa, mas conversei com um outro amigo que trabalhava como pintor havia 10 anos e perguntei se esse negócio de pintura dava dinheiro. Ele disse que sim e decidi me inscrever no curso. Alex, que participou da edição realizada em 2022 em Belo Horizonte

Alex com as filhas
Alex com as filhas Imagem: Arquivo pessoal

Conhecida como a mãe das três Anas em Paraisópolis, Luciana Araujo, 45, também foi uma das impactadas pela iniciativa que aconteceu na segunda maior favela de São Paulo em 2023. Antes de se tornar pintora profissional, porém, ela percorreu um longo caminho para sustentar e educar sozinha as três filhas pequenas após a morte do marido.

Meu mundo desabou quando meu marido faleceu. Ele era o provedor, eu era do lar, não conhecia o mundo lá fora. As dificuldades começaram a aparecer e tive que me virar, fiz bico de catadora de latinha, fazia doces para vender e trabalhei como diarista. Luciana Araujo

Luciana aprendeu uma profissão após morte do marido
Luciana aprendeu uma profissão após morte do marido Imagem: Arquivo pessoal

Com o objetivo de aumentar sua renda, Luciana colocou dois cômodos de sua casa para alugar e ficou morando em um com as três filhas, Ana Carolina, Ana Júlia e Ana Paula. Ao fazer um orçamento com um pintor, ela achou o valor caro, comprou a tinta, pintou ela mesma e gostou do resultado.

"Percebi que a pintura poderia ser rentável e me interessei em trabalhar na área. Me ofereci para pintar a casa das minhas amigas, mas os maridos não confiavam em mim, diziam que eu era mulher e não sabia pintar nada. Recebi muitos nãos, o máximo que eles deixavam era eu pintar uma parede ou um banheiro. Aprendi algumas coisas vendo tutoriais na internet, observando os pintores e pedindo dicas quando eles iam pintar a casa de algum conhecido."

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Impacto real

Turma do Pintar o Bem
Turma do Pintar o Bem Imagem: Divulgação

Criado em 2020 com o objetivo de oferecer apoio financeiro e qualificação aos pintores que ficaram sem trabalho durante a pandemia, em 2022 o Pintar o Bem mudou o seu formato e passou a auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Na atual fase, o programa atua em duas frentes:

Nas aulas teóricas, os alunos têm aulas de português, matemática, conteúdos socioemocionais, habilidades do mercado de trabalho, comunicação e organização financeira.

Nas aulas técnicas, eles aprendem técnicas de pintura, como aplicações, efeitos, misturas, uso das ferramentas, etc.

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Além disso, a iniciativa auxilia na construção de currículos, adequação de postura para entrevistas de emprego e concede bolsa-auxílio que pode chegar a cerca de R$ 1.100 para alunos que tiverem uma participação mínima de 75% no mês.

"A missão do Pintar o Bem é mais do que oferecer capacitação técnica, é permitir que os alunos tenham a vivência de uma profissão, colham os frutos de construir uma carreira e se desenvolvam pessoalmente. Na nossa visão, educação e capacitação são ferramentas poderosas de alavanca social, impactando positivamente na história e na realidade dos participantes e de seus familiares", afirma Celdia Bittencourt, gerente sênior de atendimento ao cliente e serviços ao mercado da Suvinil.

Alex conta que o que mais gostou durante o programa foi aprender a calcular a quantidade de tinta necessária por projeto e como se comunicar de forma profissional com o cliente.

Já Luciana gostou de aprender as técnicas, como avaliar se uma parede tem infiltração, qual a forma correta de aplicar massa corrida e de lixar. Ao final do curso, a turma que ela participou entregou a revitalização de 25 fachadas de casas de Paraisópolis.

Turma do Pintar o Bem colocando ensinamentos em prática em Paraisópolis (SP)
Turma do Pintar o Bem colocando ensinamentos em prática em Paraisópolis (SP) Imagem: Divulgação

Os critérios para participar do Pintar o Bem e as dinâmicas de funcionamento variam de acordo com o local onde será realizado e das parcerias para viabilizar a iniciativa. Desde o lançamento em 2020, o programa já impactou mais de 28 mil pessoas direta e indiretamente com investimento de mais de R$ 2 milhões da Suvinil e de seus parceiros.

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Segundo Celdia, uma pesquisa realizada com os formandos das primeiras nove turmas do Pintar o Bem apontou uma evolução equivalente a 2,5 anos escolares nos conhecimentos adquiridos pelos alunos por meio das aulas pedagógicas que receberam durante a formação.

Além disso, 96% deles relataram uma importante mudança de vida, e 40% já estavam atuando no mercado de pintura e tiveram um aumento de renda seis meses após o término do curso.

Perspectivas de futuro

É o caso do Alex que segue se estabelecendo como pintor e já ganhou cerca de R$ 30 mil em um ano e meio —contando o período que começou a trabalhar já no início do programa.

"Pela primeira vez consegui começar e concluir algo na minha vida. Minha meta agora é continuar me profissionalizando, fazer mais cursos e consolidar minha carreira."

Recém-formada, Luciana sonha em sair de Paraisópolis, transformar a casa onde mora em um ateliê, ensinar a mulheres o ofício da pintura e inspirá-las com a sua história.

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Luciana com as filhas no dia da formatura do curso
Luciana com as filhas no dia da formatura do curso Imagem: Arquivo pessoal

"Tive muitas dificuldades, mas nunca desisti. Criei minhas três filhas, hoje a mais velha é engenheira, a do meio está fazendo direito e a mais nova está no ensino médio. Quero transmitir o que aprendi e mostrar que mesmo sendo mulheres periféricas somos capazes, podemos sair do chão de terra, ir para o asfalto e ser o que quisermos", conta Luciana.

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