Filtros com nanotecnologia tratam água poluída e mudam vidas na Amazônia
Adriana Amâncio
Colaboração para Ecoa
22/02/2024 04h04
Desde o ano passado, a região amazônica enfrenta a pior seca de todos os tempos. O problema provocou morte de animais, comprometeu a navegação —única forma de transporte para algumas comunidades— e dificultou o acesso à água potável, o que coloca a saúde em risco, sobretudo em comunidades de várzea, onde a água é mais poluída.
Mas, nas 25 comunidades dos municípios de Santarém e Oriximiná, no Oeste do Pará, cerca de 7.400 pessoas estão livres do risco de pegar doenças por causa da água. Tudo graças a um filtro coletivo que conta com uma micromembrana produzida com nanotecologia, recurso que usa a matéria numa escala atômica, menor que o centímetro.
"Essa micromembrana tem capacidade de reter até 99,9% dos vírus, das bactérias e da sujeira, facilitando a vida das famílias que não têm microssistema de água", explica Jussara Salgado, coordenadora do Programa de Infraestrutura Comunitária do Projeto Saúde & Alegria. O projeto é o responsável por levar as tecnologias para essas comunidades afetadas pela seca extrema.
O filtro soluciona um clássico e controverso problema da Amazônia: as comunidades que sofrem sem acesso à água potável, mesmo estando rodeadas por volumosos rios e igarapés.
Para se ter uma ideia, o documento "A vida sem saneamento - para quem falta água no Brasil", do Instituto Trata Brasil, afirma que na região Norte quase 2 milhões de moradores não têm acesso à rede geral de água tratada.
Esse número representa mais de 22% da população. Os estados do Pará e Amazonas se destacam, pois, juntos, possuem 1 milhão e 400 mil pessoas sem acesso à água tratada.
Maria Ivone Rego, 65 anos, viveu a vida toda na Praia do Surubim Açú, em Santarém (PA). Ela, que diz nunca ter visto uma seca como a que afetou a região no último semestre, recebeu um filtro coletivo e se livrou de ter de fazer longas caminhadas até o rio para buscar água —que ainda é imprópria para consumo, repleta de barro e outros sedimentos.
Jessé Campos, morador da comunidade Santa Terezinha, em Aritapera, Santarém, conta que a sua comunidade consumia água contaminada e que até mesmo a água imprópria ficou escassa com a seca. "A gente puxava água do rio e tomava assim mesmo. Esse projeto chegou para melhorar muito a nossa saúde e a nossa vida", comenta.
Manoel Edivaldo Pereira, presidente da Associação Comunitária de Aritapera de Cima, na área rural de Santarém, diz que o filtro, que tem capacidade de armazenar até 25 mil litros de água, veio para amenizar as doenças na região.
"Esse filtro veio na hora certa. Com a estiagem, muitas crianças e idosos sofreram com infecções [devido ao consumo de água imprópria]", avalia.