Uma nova chance: a veterinária que salvou 10 mil animais da eutanásia
A paixão pelos animais falou mais alto quando há dez anos Maria Angela Panelli, médica veterinária e zootecnista, recebeu em seu consultório, em Barretos, no interior de São Paulo, uma maritaca com o bico quebrado da Polícia Ambiental.
"Na época, eles pediram para eutanasiar o animal, pois acreditavam que ela não podia mais viver. Foi quando pedi para tentar salvá-la produzindo um novo bico."
A veterinária salvou não apenas a maritaca, como abriu as portas para que outros 10 mil animais silvestres não fossem eutanasiados.
"Hoje, os policiais ambientais de Barretos não trazem mais os animais para serem mortos, mas para terem uma nova chance de viver", comemora.
Ortopedista animal
Conhecida na internet como ortopedista dos animais (@maria_angela_veterinaria2/), Maria Angela sempre gostou de bichos. Tanto que não pensou duas vezes ao escolher a zootecnia como profissão.
Brinco que gosto de bicho desde o útero.
Sua história com animais começou na década de 90, quando por meio de uma parceria com uma médica veterinária passou a salvar animais domésticos abandonados em Goiânia.
"Naquela ocasião, ainda era apenas zootecnista. Quando essa colega desistiu da parceria, resolvi cursar medicina veterinária também para poder lidar melhor com os animais domésticos", relembra.
Escolha que foi um divisor de águas na vida dela. Isso porque, além de poder lidar mais de perto nos cuidados dos animais, ao cursar medicina veterinária, Maria Ângela conheceu a ortopedia veterinária —prática até então rara em animais silvestres.
"Lembro que quando a maritaca chegou, não era comum fazer próteses para animais silvestres. Quando resolvi fazer o bico para ela e deu certo, percebi que poderia salvar muitos outros."
Desde então, Maria Angela não parou. No seu consultório já foram atendidos tucanos, gansos, onças, corujas, gambás, tartarugas, papagaios, lagartos e até pássaros de diversas espécies.
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Quero receberEla conta que as causas dos acidentes são as mais variadas. "Já recebi desde aves que se chocam com condomínios, quebrando o bico, a animais que foram vítimas de atropelamento, da caça predatória ou até que nasceram com o bico torto", diz.
Em média, o custo do tratamento de cada animal silvestre é de cerca de R$ 5.000. No entanto, tudo depende da espécie e do porte. Isso porque quanto maior o animal, normalmente maior é o custo.
"Parte do que ganho atendendo na minha clínica destino para o voluntariado e assim seguimos."
A médica veterinária conta que a prótese é similar um implante dentário e que a durabilidade é de cerca de anos para aves que se alimentam de sementes, e para a vida toda, no caso de pássaros que se alimentam somente de carne.
A maritaca Melancia
Entre os atendimentos que marcaram a carreira de Maria Angela está o da maritaca Melancia. Após ser encontrada sem as patas próximo a Hortolândia (SP), a ave ganhou próteses que a salvaram de ser eutanasiada.
"Foi um caso muito marcante, porque ela seria morta, mas uma conhecida minha trouxe ela na clínica para ver se tinha algo a ser feito. Fizemos implantes com titânio e colocamos uma sapata de borracha e deu super certo", conta.
Melancia ganhou uma nova chance de viver, bem como um novo lar. "Não há pagamento maior do que ver um animal voltar a viver, sem sofrer."
Questionada sobre se pensar em parar, Maria Angela diz: "Amo o que faço e quero continuar fazendo por muito tempo", afirma a veterinária, que atualmente recebe animais de todas as partes do Brasil em sua clínica em Barretos.
O que diz o conselho de classe
A reportagem de Ecoa entrou em contato com o CRMV-SP (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo) sobre a atividade da veterinária e o órgão respondeu que a "Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens vêm analisando as postagens divulgadas nas mídias sociais de profissionais da medicina veterinária, em especial quanto à publicidade e também quanto aos procedimentos, métodos, técnicas e condutas divulgadas, para eventual adoção de medidas cabíveis".
Todas as investigações são mantidas em sigilo. "Somente em eventual condenação para aplicação de penas de censura pública, suspensão ou cassação do exercício profissional é que o sigilo do processo ético é retirado", explica o órgão.
"É possível ponderar e alertar que é vedado ao profissional médico-veterinário expor a imagem de paciente como meio de difundir um procedimento ou resultado de um tratamento, exceto em contextos científicos e com autorização prévia. (...) O Código de Ética do Médico-veterinário também proíbe expor casos clínicos e exibir a imagem de pacientes sem consentimento, bem como preços de procedimentos, em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos profissionais em quaisquer meios de comunicação", continua o comunicado do CRMV-SP.
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