Seca na Sicília causa racionamento de água e perdas na agricultura
De Ecoa*
02/03/2024 04h00
A ilha italiana da Sicília declarou estado de emergência devido a uma seca que destruiu colheitas, secou pastagens e obrigou restrições no abastecimento de água.
De acordo com especialistas, a mudança climática provocada pela atividade humana aumenta a intensidade e a frequência de fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor, secas e incêndios florestais.
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A Sicília destruiu 95% das suas zonas úmidas nos últimos 150 anos, transformando-as em áreas urbanas ou terras agrícolas, apesar do seu papel fundamental na prevenção da seca, afirma o geólogo Giuseppe Amato, da Legambiente.
A ilha, que bateu recorde europeu de calor em 2021, com 48,8ºC, tem dezenas de cidades racionando água para uso agrícola e residencial.
O mundo passa pelo fevereiro mais quente já documentado, após oito recordes consecutivos de temperaturas mensais, com efeitos devastadores sobre o acesso à água em todo o mundo.
Incêndios são uma das principais consequências dessa seca, devastando mais de 51 mil hectares na Sicília no ano passado, segundo o ISPRA, o instituto italiano de proteção ambiental.
Agricultura em risco
A agricultura na Sicília, uma das regiões mais meridionais da Europa, foi citada como uma preocupação especial pelo serviço de monitoramento de safras da União Europeia, o Mars, que em dezembro alertou sobre as secas na região do Mediterrâneo.
Dos pomares de laranjas e amêndoas às oliveiras e vinhedos, os agricultores sicilianos sofrem com colheitas perdidas ou de má qualidade, após meses de escassez de chuvas e temperaturas recordes no verão passado.
O cinturão de cultivo de trigo em torno do vulcão Etna encolheu, o que também significa falta de forragem para o gado.
Perto do Lago Nicoletti, no centro da Sicília, os produtores de pêssegos Leonforte, embalados individualmente nas árvores para protegê-los à medida que amadurecem, podem perder pomares inteiros devido à seca.
O impacto na vida animal é significativo, especialmente para aves migratórias entre a África e a Europa, com lagos como o Pozzillo enfrentando secas alarmantes.
Racionamento
As 25 barragens da Sicília utilizadas para irrigação e abastecimento de água estão com 23% menos água do que no ano anterior devido ao acúmulo de sedimentos. O desperdício de água é um problema, com 52,5% da água perdida devido a vazamentos nas tubulações na Sicília.
Diante da grave seca, os habitantes da ilha estão estocando água potável, enfrentando racionamento e disponibilidade limitada a cada dois dias. A escassez de água não é novidade para os sicilianos. Muitos deles têm cisternas nos telhados para coletar a água da chuva. Mas o sistema de armazenamento mostrou-se insuficiente diante dos longos períodos de seca dos últimos anos.
Alguns habitantes passaram a encher suas banheiras quando o abastecimento está disponível para ter água à mão para lavar roupas e cozinhar quando o abastecimento é interrompido, disse o proprietário de restaurante Federico Castronovo.
"Até mesmo fazer chá de ervas ou cozinhar macarrão torna-se uma tarefa cansativa", disse Maria Maneri, estudante e garçonete da cidade de Agrigento, no sul da Sicília, que frequentemente precisa carregar uma sacola pesada com garrafas cheias de água.
"A água em Agrigento é ouro", disse Antonio, morador que não quis dar seu sobrenome, acrescentando que ele enche regularmente tanques e garrafas na fonte mais próxima da cidade.
*Com informações de Reuters e AFP