Crise climática piora inflação e eleva preços dos alimentos, mostra estudo
De Ecoa
22/03/2024 15h15
Um estudo alemão publicado ontem (21) pela revista Nature indica que as mudanças climáticas podem representar uma ameaça à estabilidade de preços, com os impactos do clima na economia sendo cada vez mais evidentes.
De acordo com a pesquisa revisada por pares, com o aumento da temperatura até 2035, a inflação de alimentos pode ter uma alta de até 3,23 pontos percentuais em média globalmente por ano. Foram analisados dados de índices de preços ao consumidor de 121 países entre 1996 e 2021 para quantificar os impactos das condições climáticas na inflação.
Temperaturas mais altas causam aumento da inflação tanto em países de renda mais alta quanto mais baixa, e os efeitos variam de acordo com as estações e regiões, com impactos adicionais da variação diária da temperatura e de chuvas extremas.
"O calor extremo do verão de 2022 aumentou a inflação de alimentos na Europa em 0,43 a 0,93 ponto percentual", afirma o estudo.
Embora maiores nos preços dos alimentos, esses impactos também se traduzem em efeitos consideráveis na inflação de bens e serviços que pode crescer até 1,2 ponto percentual anualmente até 2035.
"As futuras mudanças nas condições climáticas esperadas devido às emissões de gases de efeito estufa implicam em perdas consideráveis no bem-estar quando avaliadas por meio desses canais de impacto microeconômico e macroeconômico."
Os pesquisadores constataram que a resposta à temperatura média é fortemente não linear, de modo que aumentos nos meses e regiões mais quentes causam maiores impactos inflacionários. Portanto, aumentos nas temperaturas médias em latitudes mais altas causam pressões inflacionárias para cima quando ocorrem no mês mais quente do ano, opondo-se às pressões para baixo quando ocorrem em meses mais frios. Por outro lado, aumentos nas temperaturas médias em latitudes mais baixas, ou seja, em países mais próximos da linha do Equador, causam pressões inflacionárias para alta durante todo o ano.
"A evidência empírica dos impactos históricos dos choques climáticos na inflação sugere que o aquecimento contínuo e a intensificação de extremos climáticos e variabilidade devido às emissões de gases de efeito estufa causadas pelos homens podem ter consequências para a inflação futura."
Os pesquisadores concluem que sem uma considerável redução das emissões de gases do efeito estufa, as pressões sobre a inflação continuarão significativas, levando à necessidade de ação dos bancos centrais para considerar a mudança climática futura em suas previsões.