Sul da Europa pode deixar de produzir vinhos de qualidade devido ao clima
De Ecoa*
28/03/2024 04h00
As mudanças climáticas estão causando uma nova dinâmica na produção vinícola global, afetando desde o rendimento das uvas até a qualidade do vinho, de acordo com um artigo publicado na terça-feira (26) na Nature Reviews Earth & Environment. Algumas regiões do mundo podem deixar de produzir vinho de maneira rentável, enquanto outras passariam a ter condições de desenvolver a atividade.
O estudo afirma que existe um risco "substancial" de perda de capacidade de produzir vinho de forma rentável para as atuais regiões produtoras. De acordo com a pesquisa, 90% das regiões vinícolas do sul da Europa e da Califórnia, nos EUA estão nessa situação.
Essas mudanças não apenas afetam o sabor e aroma da bebida, mas também impactam diretamente a viabilidade econômica das regiões vinícolas. O aumento da temperatura e a escassez de água ameaçam a produção em áreas historicamente quentes e secas, gerando consequências sociais e econômicas negativas.
Ao fazer um mapeamento global da evolução das regiões vinícolas diante das mudanças climáticas, os pesquisadores estudaram os desdobramentos da variação de temperatura, precipitação, umidade, radiação e níveis de CO2 na produção vinícola mundial, bem como as estratégias de adaptação necessárias para enfrentar esse cenário em transformação.
Regiões do norte sairão ganhando
Atualmente, as regiões vinícolas predominantes estão concentradas em latitudes médias, como Califórnia (EUA), sul da França, norte da Espanha e Itália, Barossa (Austrália), Stellenbosch (África do Sul) e Mendoza (Argentina), onde as condições climáticas permitem o amadurecimento ideal das uvas, sem excesso de calor e com baixa pressão de doenças.
Contudo, cerca de 90% das regiões vinícolas tradicionais, especialmente aquelas situadas em áreas costeiras e de baixada na Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia, correm o risco de desaparecer até o final do século devido à crescente seca e à frequência elevada de ondas de calor provocadas pelas mudanças climáticas.
Por outro lado, de 11% a 25% das regiões onde a viticultura já está estabelecida poderão ver a sua produção melhorar, e novas regiões poderão surgir em latitudes e altitudes mais elevadas. Por exemplo, no sul da Grã-Bretanha, onde a cultura é agora embrionária.
Outras regiões que poderão ver seu potencial se desenvolver, são o norte da França, a Bélgica, a Holanda ou mesmo a Dinamarca.
Os pesquisadores recomendam, portanto, que os produtores se adaptem, variando especialmente as castas.
De acordo com o artigo, mudanças no material vegetal, sistemas de treinamento e manejo de vinhedos são algumas das estratégias que podem ser adotadas para lidar com o novo cenário climático. No entanto, tais adaptações podem não ser suficientes para manter a viabilidade econômica da produção de vinho em todas as áreas.
Além disso, novas regiões vinícolas vão surgir em locais antes considerados inadequados, aproveitando o aumento das temperaturas. No entanto, esse crescimento traz consigo desafios ambientais, como a ameaça à preservação de habitats naturais, afirmam os autores do estudo.
*Com informações da RFI