Mais de mil livros: SC ganha biblioteca dedicada a autores negros

Conceição Evaristo, Abdias Nascimento, Milton Santos, Djamila Ribeiro. Esses são apenas alguns dos nomes que fazem parte do acervo da primeira biblioteca totalmente dedicada à literatura afro-brasileira e antirracista do estado de Santa Catarina.

Trata-se da Biblioteca João Ferreira de Souza, inaugurada em novembro no Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA), no Balneário Estreito, em Florianópolis. Ao todo, são mais de mil livros de autoria negra disponíveis para a comunidade interna e externa. A instituição catarinense atende cerca de 230 jovens, a maioria negros, vindos de famílias de baixa renda e de comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Membro da diretoria do CCEA, Priscila Cristina Freitas relata que a iniciativa é fruto de uma parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT). Foram investidos cerca de R$ 140 mil no projeto, compreendendo desde a reforma e adequação de um espaço de 80 metros quadrados à compra do acervo. O público atendido também participou do planejamento.

Consultamos os jovens sobre que personalidades negras eles almejavam ver ali. Fizemos então um mapeamento das obras, trazendo escritores negros e negras internacionais, como bell hooks e Chimamanda Ngozi Adichie, escritores brasileiros e, também, do Sul, como Fábio Garcia, Edenice Fraga e Jeruse Romão.
Priscila Freitas, escritora

Reconhecimento

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Imagem: Divulgação

Foram os jovens, inclusive, que decidiram o nome que a primeira biblioteca negra do estado receberia. Eles escolheram homenagear João Ferreira de Souza, mais conhecido como 'Seu' Teco. Falecido em 2020, aos 84 anos, ele foi um dos fundadores do CCEA há 25 anos, ainda na comunidade Monte Serrat.

"Grandes lideranças ali, 'Seu' Teco e dona Darcy Vitória de Brito viram que havia muita violência, tiroteios, crianças na rua. As pessoas não tinham espaço de lazer. Então, junto com mulheres da comunidade, pensaram em propostas para que essas crianças não ficassem nas ruas e tivessem um espaço para reforço escolar", lembra Priscila.

Ela é neta de 'Seu' Teco e, como escritora, também teve seu livro, "O Orocongo do Menino Gentil", disponibilizado no acervo da nova biblioteca.

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Do trabalho nascido a partir de um movimento comunitário para enfrentar a criminalidade, hoje o CCEA desenvolve ações voltadas à educação, mundo do trabalho, assistência social, cultural e esportiva, com projetos no contraturno escolar, como o Jovem Aprendiz.

A entidade faz parte da rede Instituto Padre Vilson Groh e oferece também acolhimento institucional na antiga sede, no Monte Serrat.

Abertura de horizontes

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Imagem: Divulgação

Para Priscila, a biblioteca negra do CCEA será uma ferramenta para oferecer diferentes horizontes à comunidade, principalmente, para os jovens assistidos. "Eles precisam saber que é possível fazer o que eles têm como sonho, é possível potencializar isso, e ver que não é algo distante deles, que existem escritores negros próximos. É possível ser escritor, ilustrador ou o que mais quiserem ser", diz Priscila.

A escritora salienta que, ao mesmo tempo, o acervo disponibilizado também ajuda a preencher uma lacuna cultural vista em outras bibliotecas públicas de Florianópolis, incluindo as escolares. Essas lacunas dizem respeito não só à forma como a população negra é descrita na literatura, mas também têm relação com um imaginário social que exclui escritores e escritoras afrodescendentes na região "Sul do Brasil.

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Em alguns casos, se existe um livro sobre a população negra, acontece de ser com aquele olhar negativo, sem dizer de nós para nós. Então, é preciso pensar nesse olhar diferente sobre a população negra e as suas contribuições para o país. Isso tem a ver com autoestima, empoderamento, e o livro é uma ferramenta crucial para esse momento de descoberta de si mesmo. Mostramos que nós estamos aqui e produzindo.
Priscila Freitas, escritora

Os empréstimos na biblioteca do CCEA já estão disponíveis. A instituição planeja ainda utilizar o espaço para ações culturais como lançamento de obras, grupos de leitura e apresentações. Informações sobre como ter acesso às obras podem ser obtidas diretamente com o centro cultural.

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