Feira do Bem: lixo reciclável 'vira' frutas e verduras no Paraná
Quando a assistente administrativa Fabiane Cristina dos Santos, 41 anos, começou a frequentar a Feira do Bem, em Telêmaco Borba, município a 244 km de Curitiba, o pequeno Arthur tinha apenas oito meses de idade.
Acostumado desde pequeno a ir com a mãe até um dos pontos de coleta trocar materiais recicláveis por frutas e verduras, hoje, aos 4 anos, ele é um dos frequentadores mais assíduos da iniciativa.
Com um carrinho de mão, o menino entra na fila e recebe itens sazonais como bananas, batatas e laranjas. "Até hoje ele só come banana da Feira do Bem", conta Fabiane, que recebe pelo menos 9 kg de alimentos cada vez que entrega à Prefeitura caixas de leite, garrafas PET, plásticos e outros resíduos separados pela família.
A conversão feita é simples: a cada 3 kg de materiais reciclados entregues na feira, os moradores levam para casa 1 kg de frutas e verduras. Cada morador pode doar até 45 kg de resíduos por vez, o que permite receber em troca 15 kg de alimentos. "Compensa muito porque são verduras de ótima qualidade. Sempre consigo pegar as mais frescas. Ajuda muito no orçamento", define Fabiane.
Agricultura familiar e meio ambiente
A Feira do Bem foi criada pela Prefeitura em 2019 para fomentar a agricultura familiar e o tratamento final de recicláveis. São 26 pontos de troca distribuídos pela cidade três vezes por semana. A ideia é que as trocas aconteçam pelo menos duas vezes em cada ponto ao longo do mês.
Chefe da Divisão de Serviços Públicos do município, Maurício Diógenes de Castro relata que acompanhou a implantação da iniciativa de perto. Foi ele quem propôs, como vereador, o projeto de lei que fez com que a feira se tornasse um programa municipal.
Na época, reparei que tínhamos muito material reciclável indo parar nos bueiros. Também conversava com produtores da Vila Rural e via que estavam desmotivados porque plantavam e não tinham para quem vender. Comecei então a pesquisar o que poderíamos fazer.
Maurício de Castro
Com o programa em funcionamento, materiais que antes tinham descarte incorreto agora são enviados diretamente para as duas cooperativas de recicláveis de Telêmaco Borba. Somente no ano passado, a feira recebeu 2.750 toneladas de material. Em contrapartida, os moradores participantes levaram para casa cerca de 917 toneladas de produtos. Em cada ponto de coleta, as filas formadas chegam a ter mais de 500 pessoas.
Procura em crescimento
A participação da população na Feira do Bem, no entanto, nem sempre foi assim. Maurício de Castro lembra que nas primeiras edições foi preciso chamar os moradores de casa em casa. "Batemos nas casas perguntando se eles tinham algo para trocar, fomos explicando como funcionava o programa."
Inicialmente, era possível trocar pneus, eletrodomésticos e outros tipos de sucata por alimentos. Hoje, esses resíduos são alvo de outros programas, como o Recicla Digital e o Descarte Inteligente.
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Quero receberAos poucos, a situação foi mudando e, segundo Castro, a população passou a ver valor no que antes considerava lixo. A procura pela feira tem crescido 30% por ano.
Isso tem a ver com a dificuldade do poder de compra e também porque viram que eram produtos bons, além da possibilidade de ajudar o meio ambiente. No início, as pessoas pensavam que os produtos eram para os mais necessitados, mas a ideia é que sejam para todos os moradores.
Maurício de Castro
Ele explica que o dinheiro para fazer a feira acontecer vem da taxa de lixo de R$ 15,50, cobrada mensalmente pela Prefeitura junto a 26 mil contribuintes. O custo mensal é de R$ 344 mil.
Benefícios
Castro analisa que, além de evitar que os recicláveis entregues pela comunidade fossem parar no meio ambiente ou no aterro local, o programa também tem ajudado a fortalecer cooperativas da região. A começar pelas entidades que trabalham com coleta seletiva. "Entregamos o que recebemos para essas cooperativas, que conseguiram alavancar os salários dos catadores em 200%", comenta.
A feira também tem beneficiado produtores rurais familiares. Ao todo, 98% dos agricultores são de cooperativas situadas em Telêmaco Borba e cidades da região, como Ortigueira, Tibagi, São Jerônimo da Serra e Cândido de Abreu.
A população consegue acompanhar o cronograma de trocas por meio de um calendário divulgado no site da Prefeitura.
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