Indígenas marcham em Brasília e cobram demarcações de terras
De Ecoa
23/04/2024 13h53
Milhares de indígenas e apoiadores participaram, na manhã desta terça-feira (23), de uma caminhada pela área central de Brasília para exigir segurança e a demarcação de suas terras, um tema que opõe o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso, de maioria conservadora.
A marcha faz parte da programação do ATL (Acampamento Terra Indígena), - mobilização que, anualmente, reúne milhares de participantes de centenas de etnias na capital federal e que começou, oficialmente, nessa segunda-feira (22).
"Hoje é a marcha com o tema da emergência indígena", disse à AFP Jaqueline Arandurah, líder do povo Guarani Kaiowá, que se concentra no Mato Grosso do Sul. "Já fazem mais de 400 dias do governo do presidente Lula, e nossas terras não foram demarcadas", ressaltou.
A líder acrescentou que marcha "para dizer ao governo que é preciso garantir os direitos dos povos indígenas para amenizar a violência nos territórios".
A demarcação das terras indígenas foi uma promessa de campanha de Lula, que retomou essa política, abandonada por seu antecessor Jair Bolsonaro. Além disso, a demarcação contribui para a preservação do meio ambiente, apontam cientistas.
Até o momento, foram homologadas durante o governo Lula dez novas terras indígenas, incluindo duas anunciadas na semana passada. Mas os manifestantes exigem mais ações.
Este ano, o ATL está na 20ª edição. Segundo dirigentes da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), entidade organizadora do acampamento, a expectativa é atrair cerca de 8.000 representantes de mais de 200 etnias, além de integrantes de organizações sul e centro-americanas e da Indonésia, superando os resultados anteriores.
Portando faixas e cartazes, os participantes deixaram o acampamento montado no Eixo Monumental, ao lado do Centro Ibero-Americano de Culturas (antigo Complexo Cultural da Funarte) por volta das 9h.
Demarcação
Após ocuparem parte da principal via de Brasília, os manifestantes seguiram sob sol forte em direção ao Congresso Nacional, a cerca de quatro quilômetros de distância, onde foi realizada uma sessão solene.
Acompanhados por um carro de som, o grupo pedia que o Estado brasileiro conclua os processos de demarcação dos territórios tradicionais indígenas e garanta os direitos constitucionais dos povos originários, como o acesso à saúde e educação de qualidade, entre outras reivindicações.
Muitos dos participantes exibiam pinturas corporais e usavam adereços tradicionais característicos de seus povos, mas, por força de um acordo com autoridades de segurança pública do Distrito Federal, foram orientados a não portarem lanças, bordunas e arcos e flechas durante a marcha.
"Esta é uma marcha de luta, de resistência, para reivindicarmos ao governo brasileiro, ao Estado, aos Três Poderes [Executivo, Legislativo e Judiciário], que avance em nossos direitos. Principalmente em relação à demarcação das terras indígenas", disse Kleber Karipuna, um dos coordenadores-executivos da Apib, durante a caminhada.
A demarcação de terras é um tema polêmico no país. Seus críticos se concentram no poderoso agronegócio e em seus aliados no Congresso, que mantiveram na lei uma tese que limita os direitos dos indígenas sobre seus territórios, o chamado "marco temporal".
"Isso é uma ofensa. É dizer que somos os invasores, o que não somos", criticou Walderir Tupari, do povo Tupari, radicado no estado de Rondônia, ao afirmar que a Constituição do país está sendo violada. "A gente não está aqui desde 1988. Estamos aqui há muito tempo."
O STF (Supremo Tribunal Federal) declarou a tese inconstitucional em setembro passado, mas deve repetir o debate sobre a nova lei. O ministro do Supremo Gilmar Mendes decidiu ontem suspender todas as ações judiciais sobre a constitucionalidade da lei, até que o STF se pronuncie definitivamente sobre o tema.
Os manifestantes se aproximaram do Congresso Nacional pouco depois das 10h30 e ocuparam o gramado central do Eixo Monumental, onde se espalharam para acompanhar a transmissão da cerimônia que a Câmara dos Deputados realiza esta manhã, em homenagem aos 20 anos do Acampamento Terra Livre.
*Com informações da Agência Brasil e da AFP