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Abril de 2024 foi o mais quente da história, o 11° recorde seguido

Inundações catastróficas no RS são resultado direto da crise climática Imagem: Reuters

De Ecoa

Com informações da AFP e da Ansa

08/05/2024 08h57

O mês de abril de 2024 foi o mais quente registrado na história, com uma temperatura média de 15,03 °C, o que representa 1,58 °C a mais do que um mês de abril médio da era pré-industrial (1850-1900), de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (8) pelo observatório Copernicus, sistema de observação da Terra da União Europeia.

"Cada grau adicional de aquecimento climático é acompanhado por eventos climáticos extremos, tanto mais intensos quanto mais prováveis", diz Julien Nicolas, climatologista do Copernicus. Um exemplo concreto disso é a calamidade atual no Rio Grande do Sul, com inundações que afetaram 80% das cidades do estado. Ao todo, são 95 mortes, milhares de refugiados climáticos e 1,4 milhão de pessoas prejudicadas.

As últimas semanas também foram marcadas por ondas de calor extremo na Ásia, da Índia ao Vietnã.

O que aconteceu?

  • Novo recorde. Segundo relatório do Copernicus (C3S), abril passado registrou uma temperatura média de 15,03 ºC, 0,14 ºC acima do recorde anterior, de 2016, e 0,67 ºC maior que a média do período entre 1991 e 2020.
  • Ainda de acordo com o C3S, trata-se do 11º mês consecutivo de recorde mensal de calor, reforçando as projeções daqueles que acreditam que 2024 pode superar 2023 como ano mais quente na história.
  • O índice foi 1,58 ºC maior que a temperatura média de abril entre 1850-1900, a chamada era pré-industrial, que serve de referência para metas contra o aquecimento global.
  • Nos últimos 12 meses, a temperatura média global foi 1,61ºC acima da era pré-industrial, superando a marca de 1,5ºC, meta mais ambiciosa do Acordo de Paris para o fim deste século. No entanto, são necessários pelo menos 20 anos acima desse patamar para sacramentar que o objetivo foi descumprido.
  • O mês passado foi o segundo abril mais quente já registrado na Europa, assim como março e todo o período de inverno.

Os números mostram o quão notáveis são as condições de temperatura global que estamos experimentando atualmente. Julien Nicolas, climatologista do Copernicus em entrevista à AFP

Anomalias mensais da temperatura do ar superficial global (°C) em relação a 1850-1900 desde janeiro de 1940 a abril de 2024. O ano de 2024 aparece com uma linha amarela grossa, 2023 com uma linha vermelha grossa e todos os outros anos com linhas finas sombreadas de acordo com a década, indo de azul (década de 1940) a vermelho tijolo (década de 2020) Imagem: C3S/ECMWF. Fonte dos dados: ERA5

O aquecimento global é causado pelas emissões de gases do efeito estufa, como dióxido de carbono (CO2) e metano, que continuam aumentando, apesar dos alertas de cientistas de que elas precisam iniciar imediatamente uma trajetória de queda para garantir o cumprimento da meta de 1,5 ºC até o fim do século.

Se essa tendência se mantiver, a humanidade deve conviver nas próximas décadas com aumento constante do nível do mar, ameaçando áreas costeiras, com ondas de calor mais frequentes e um crescente número de fenômenos extremos, incluindo furacões, secas e inundações, como aquelas que atingem o Rio Grande do Sul.

Contrastes do clima extremo

Abril foi úmido do que o normal em grande parte da Europa, mas mais seco no sul do continente e em partes dos Bálcãs e da Rússia. A situação é semelhante fora da Europa: em grande parte da América do Norte, Ásia Central e Oriental, Golfo Pérsico e sul do Brasil, chuvas intensas causaram inundações, que continuaram em maio. Mas, no norte do México, ao redor do Mar Cáspio e em grande parte da Austrália, a seca tem predominado.

Oceanos: ligeira desaceleração

A temperatura da superfície dos oceanos bateu um recorde mensal em abril, com uma média de 21,04 °C fora das zonas próximas aos polos, marcando o décimo terceiro recorde mensal consecutivo.

Esse aquecimento ameaça a vida marinha, aumenta a umidade na atmosfera e coloca em perigo a capacidade dos oceanos de desempenhar seu papel crucial na absorção das emissões de gases de efeito estufa de origem humana. No entanto, a temperatura mostrou uma ligeira desaceleração em comparação com março e seu recorde absoluto, de todos os meses (21,07 °C).

El Niño mais calmo

O fenômeno climático natural El Niño "continuou enfraquecendo" em abril, caminhando para "condições neutras", estima o Copernicus. Essa variação natural afeta a zona equatorial do oceano Pacífico e induz um aquecimento global. "El Niño atingiu seu pico no início do ano", observa Julien Nicolas, o que pode explicar uma diminuição em certos valores: em abril, a anomalia da temperatura do ar é menos pronunciada do que em março, em comparação com a era pré-industrial, e a temperatura da superfície do oceano é menos quente do que em março.

"Os modelos de projeção indicam uma possível transição para condições La Niña na segunda metade do ano, mas as condições ainda são bastante incertas", continua o climatologista. La Niña é o oposto de El Niño, produzindo efeitos contrários. No entanto, a saída de El Niño não alterará a tendência fundamental do aquecimento causado pela atividade humana.

"Este fenômeno se sobrepõe a tendências de longo prazo que persistem e estão diretamente relacionadas ao aquecimento devido ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera e às quantidades de calor que são absorvidas e armazenadas, especialmente nos oceanos", destaca Nicolas. Essas tendências continuarão "empurrando a temperatura global para novos recordes", prevê Carlo Buontempo, diretor do C3S.

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