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Site criado em seis dias organiza necessidades de abrigos no RS

Abrigo montado em ginásio de Porto Alegre Imagem: Hygino Vasconcellos/Colaboração para o UOL

Julia Moióli

Colaboração para Ecoa

17/05/2024 04h00

Às 15h30 desta quinta-feira (16), o abrigo ACM, do bairro Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, tinha atingido sua capacidade máxima e precisava urgentemente de telefones celulares e manteiga de cacau. A Escola Estadual de Ensino Fundamental Porto Alegre, em Morro Santana, precisava de voluntários para trabalhar nos períodos da manhã e da noite. E a Capela São Francisco de Assis, em Estância Velha, tinha em seus estoques fraldas geriátricas tamanho G de sobra.

Contar com informações detalhadas, atualizadas e, acima de tudo, confiáveis sobre os abrigos gaúchos que recebem vítimas das enchentes tem sido possível, em parte, graças à plataforma SOS RS, que reúne dados de cerca de 536 centros voluntários, entre abrigos, abrigos de animais, centros de coletas e cozinhas solidárias, que podem ser acessados por nome ou endereço.

Desenvolvida em seis dias por mais de 7.000 voluntários, que já somaram mais de 470.340 horas de trabalho, no Tecnopuc (Parque Científico e Tecnológico da PUCRS), a SOS RS conta com registros sobre capacidade, lotação, necessidade de voluntários e doações, além de excedentes, ou seja, itens já disponíveis em quantidades suficientes nos locais.

"Em uma tragédia deste porte, a situação e as necessidades mudam a todo momento", diz Beatriz Valle, que lidera o time de comunicação da empreitada. "Com dados atualizados, é possível entender o que cada abrigo realmente precisa e direcionar as doações de forma mais eficaz."

Tem funcionado. Desde o dia 4 de maio, quando a solução digital começou a ser desenvolvida, já foi possível, por exemplo, alocar corretamente 600 mil litros de água por dia, totalizando cerca de 5 milhões de litros.

Como a SOS RS funciona

A plataforma é abastecida a cada duas horas com informações recebidas de "padrinhos" e "madrinhas", que são pessoas de confiança dentro dos abrigos da região metropolitana de Porto Alegre - embora se concentre na capital, a solução está em vias de criar braços também no interior do estado.

Um time de desenvolvedores, cientistas de dados, analistas, administradores e comunicadores voluntários, que trabalham de forma presencial e remota, organiza e disponibiliza esses dados na plataforma.

"Com isso, auxiliamos os abrigos a gerirem suas demandas e necessidades, inclusive com troca de informações e doações entre si, e indicamos as reais necessidades aos doadores", diz Valle.

O conteúdo também é disponibilizado para órgãos e instituições como Defesa Civil, centros de triagem, prefeituras e organizações civis que coordenam doações.

Nos últimos dias, a SOS RS fechou parcerias para treinamentos de voluntários com entidades internacionais, como a Cruz Vermelha e a ONG Cadena, que ajudou no terremoto do México.

Fake news

Desastres naturais como as enchentes do Rio Grande do Sul criam um clima de incerteza, que pode se tornar terreno fértil para a disseminação de desinformação.

Um estudo publicado em 2021 na revista científica Caribbean Studies fez uma avaliação de temas como desinformação, mídias sociais e gestão de desastres em Granada, ilha na região do Caribe que tem perdas anuais resultantes de catástrofes naturais estimadas em 1,7% do PIB, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). A conclusão é que a desinformação dificulta o processo de gestão de desastres, criando pânico desnecessário, desperdiçando recursos e minando a autoridade das equipes responsáveis.

Uma breve busca nas redes sociais sobre a tragédia gaúcha revela fake news sobre a atuação das autoridades, que vão do cancelamento de resgates a operações para esconder centenas de corpos.

A consultoria Quaest, especializada em monitoramento digital, coletou nas principais redes sociais e analisou uma amostra de mais de 732 mil menções às Forças Armadas durante a tragédia e concluiu que 70% delas foram negativas.

Nesse contexto, a tecnologia surge como potencial aliada por permitir a organização de dados, com o uso geolocalização de inteligência artificial.

"Ao manter contato próximo com times de lideranças comunitárias, mapear suas demandas e vulnerabilidades e trazê-las para dentro desse cadastro para que possam ser ouvidas e vistas, além de mostrar o destino das doações, contribuímos para diminuir o caos", diz Paula Moletta, gestora de projetos socioambientais que atua na frente de sustentabilidade da SOS RS.

"Nosso propósito é virar a chave para uma mudança: obviamente não queremos que a catástrofe se repita, mas, caso novos problemas ocorram, que ao menos esse caos de desinformação seja evitado."

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