Turbulências estão mais frequentes - e a culpa é do aquecimento global
Turbulências estão mais comuns diante do aumento da temperatura média da terra. É isso o que mostra um estudo conduzido na Inglaterra. Ontem, ao menos 30 pessoas ficaram feridas após um avião que seguia para Montevidéu ter que pousar em Natal após sofrer uma forte turbulência. Imagens mostram que a aeronave ficou danificada e chapas se soltaram do teto.
As turbulências podem ter várias causas, entre elas a presença de uma frente fria e a variação da velocidade ou direção do vento em uma pequena distância. E, segundo o estudo, o aquecimento global tem interferido nessa dinâmica.
O que diz estudo?
Nas últimas quatro décadas, elas passaram a ser mais comuns. É o que indicou um estudo conduzindo na Universidade de Reading, na Inglaterra, que apontou que em uma localização específica sobre o Atlântico Norte —uma das rotas aéreas mais frequentadas globalmente—, a duração da turbulência passou de 17,7 horas por ano em 1979 para 27,4 horas em 2020, representando um aumento de 55%.
A quantidade de turbulência é proporcional à quantidade de mudança da velocidade do vento — que tem sido influenciado pelo aquecimento global. O cisalhamento vertical do vento é como um rio de ar que flui de oeste para leste, do qual as aeronaves normalmente se aproveitam para reduzir o tempo de viagem e o consumo de combustível. Na altitude em que os aviões voam, o aquecimento global está aumentando a diferença de temperatura entre o polo e o equador (a atmosfera superior no equador está se aquecendo mais rapidamente do que a atmosfera superior no polo norte).
Isso faz com que o cisalhamento vertical do vento na corrente de jato aumente nessa região.
Mark Prosser, pesquisador envolvido no estudo, em conversa com Ecoa no fim de 2023
As turbulências podem dobrar ou triplicar no período de 2050 a 2080. "Os riscos dependerão de quão bons seremos em prever a turbulência num futuro próximo. Se nos tornarmos extremamente habilidosos nisso, mesmo que os céus estejam mais turbulentos, os passageiros e a tripulação não perceberão, porque os pilotos podem navegar habilmente ao redor", diz o pesquisador Prosser. Se o nível dessa habilidade de previsão não melhorar rapidamente, os passageiros poderão experimentar ainda mais turbulências nos futuro.
Não necessariamente isso torna os voos mais perigosos. Em geral, apesar do desconforto, as turbulências costumam ser evitadas e geralmente contornadas. Luiz Carlos Barcena, comissário de voo há mais de 20 anos, explica que já existem rotas com maior incidência de turbulências e o tempo pode influir diretamente no voo.
No calor, existem as correntes térmicas onde o voo fica mais instável, e no frio a densidade do ar é maior e melhor para voar, mas isso não quer dizer que não terá turbulência. A melhor forma de se proteger desse fenômeno é a prevenção e comunicação, sempre que possível os pilotos desviam de formações de nuvens para tentar deixar o voo mais agradável.
Luiz Carlos Barcena, comissário de voo
Na dúvida, mantenha o cinto afivelado. Prosser, pesquisador envolvido no estudo, explica que não há expectativa de que caiam aviões diante de mais turbulências. No entanto, há uma maior preocupação nos desconfortos que elas podem provocar aos passageiros, caso não haja uma redução no uso de combustíveis fósseis, responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa.
Para quem está preocupado, a coisa mais importante a fazer é manter o cinto de segurança afivelado, pois isso reduzirá muito o risco de lesões e hospitalizações se você tiver a infelicidade de encontrar uma forte turbulência durante o voo.
Mark Prosser, pesquisador envolvido no estudo, em conversa com Ecoa
*Com informações de matéria publicada em 22/03/2024 e 06/10/2023.
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