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Clima arrasador: o sumiço de espécie de cacto por aumento do nível do mar

Cacto arbóreo de Key Largo Imagem: Reprodução/Susan Kolterman/Museu de História Natural da Flórida

Giovanna Arruda

Colaboração para Ecoa

18/07/2024 04h00

A espécie de cacto Pilosocereus millspaughii foi extinta nos Estados Unidos devido ao aumento do nível do mar, segundo uma pesquisa divulgada neste mês. Os cientistas acreditam que se trata da primeira extinção local de uma espécie por esse motivo, cuja origem está nas mudanças climáticas.

O que aconteceu

Pesquisa conclui estudos de especialistas nas últimas décadas. Publicado no Journal of the Botanical Research Institute of Texas, o estudo é resultado do monitoramento da população do cacto arbóreo de Key Largo (Pilosocereus millspaughii) desde seu descobrimento, em 1992. Segundo os pesquisadores, o aumento do nível do mar foi o principal fator que causou a extinção da espécie no país, cuja única população estava na região de Florida Keys, arquipélago no extremo sul do estado norte-americano.

Alterações no clima impossibilitaram a sobrevivência da espécie. O estudo afirma que o aumento do nível do mar fez com que a água salgada chegasse aos cactos, prejudicando seu crescimento. O consumo da planta por parte de mamíferos herbívoros (espécies que se alimentam de plantas) também contribuiu para a extinção do cacto.

Localização geográfica tem efeitos climáticos agravados. Além do avanço do mar, a região de Florida Keys está no caminho de ciclones com alto potencial de destruição. De acordo com a pesquisa, desde os anos 2000 ao menos 19 grandes ciclones impactaram o arquipélago, sendo o furacão Irma, em 2017, o que mais causou danos à região. A passagem dos ciclones causam não só danos instantâneos, como também impactos a longo prazo, como degradações no solo.

Declínio acompanhado pela pesquisa. De acordo com o estudo, em 2021 foram encontrados apenas "seis fragmentos doentes" da espécie no local onde a população do cacto já havia sido de cerca de 150 caules. Na ocasião, os pesquisadores recolheram as amostras do cacto, que foram levadas para cultivo em ambiente controlado, com o objetivo de garantir sua sobrevivência.

Outras espécies locais podem ter o mesmo fim do Pilosocereus millspaughii. De acordo com Jennifer Possley, diretora de conservação regional do Jardim Botânico Tropical de Fairchild, na Flórida, e autora principal do estudo, outros cactos e todas as plantas raras presentes em Florida Keys "estão ameaçadas por um destino parecido".

Infelizmente, o cacto arbóreo de Key Largo pode ser um termômetro de como outras plantas costeiras poderão responder às mudanças climáticas Jennifer Possley, responsável pelo estudo

Como é o cacto

Beleza única e papel no ecossistema local. Segundo o Museu de História Natural da Flórida, o Pilosocereus millspaughii podia ultrapassar os seis metros de altura e apresentava flores "cor de creme" e aromáticas. Suas flores refletem a luz da lua, o que atrai morcegos polinizadores. Já as frutas têm tons de vermelho e roxo vivos, atraindo aves e mamíferos.

Cacto arbóreo de Key Largo Imagem: Reprodução/James Lange/Journal of the Botanical Research Institute of Texas

Espécie de cacto agora está presente somente em outras poucas ilhas do continente. De acordo com o estudo, o Pilosocereus millspaughii atualmente pode ser encontrado em algumas ilhas no Caribe, como o norte de Cuba e nas Bahamas.

Mudança climática na flora e na fauna

Segundo os pesquisadores, os principais motivos de extinção de cactos vêm mudando ao longo das décadas. A colheita excessiva, a pecuária e a agricultura eram os maiores causadores da extinção de cactos. O aquecimento global, porém, se tornará o principal risco à sobrevivência dessa espécie.

Medidas para combater a extinção. Em casos nos quais a recuperação do habitat natural é vista como "improvável ou impossível" pelos especialistas, há mecanismos de intervenção para evitar a extinção. A principal opção para conservação é o recolhimento emergencial dos exemplares ameaçados (plantas ou até mesmo animais) e sua transferência para locais favoráveis para sua continuidade.

Extinções e migrações. As mudanças climáticas não afetam somente a flora: animais também estão sujeitos aos impactos, correndo risco de extinção e apresentando mudanças nos padrões de migração em massa.

Planos futuros para preservação. De acordo com o estudo, o cuidado com as amostras de cacto retiradas de seu habitat natural deve continuar, para que as plantas possam florescer e dar frutos, o que possibilitaria armazenar suas sementes para reintrodução na natureza ou ao menos manter a existência da espécie em cativeiros. No caso dos cactos presentes em Florida Keys, amostras foram plantadas em regiões mais altas em relação ao nível do mar, na tentativa de criar um novo ambiente para que as plantas possam crescer naturalmente.

Cacto arbóreo de Key Largo pode ultrapassar os seis metros de altura Imagem: Reprodução/Susan Kolterman/Museu de História Natural da Flórida

União de esforços é necessária para evitar novas extinções. De acordo com o estudo, a extinção do cacto arbóreo de Key Largo deve ser visto como um alerta para os impactos do aquecimento global para a flora local e mundial.

A cooperação contínua entre agências federais, estaduais e locais, universidades, organizações ambientais, jardins botânicos, voluntários e outras partes interessadas será necessária para conservar e recuperar essas espécies únicas antes que seja tarde demais
Conclusão do estudo publicado no Journal of the Botanical Research Institute of Texas

Aquecimento global e o avanço do mar

Aumento da temperatura do planeta pode elevar ainda mais o nível do mar. Segundo a agência de notícias AFP, este marcador aumentou de 15 a 25 cm entre 1900 e 2018. Um aumento de 43 cm é esperado para 2100, caso a temperatura mundial aumente em 2ºC em relação à temperatura da era pré-industrial (1850 a 1900).

Elevação do mar pode ser ainda pior até o fim do século. Ainda segundo a AFP, o aumento pode chegar a 84 cm caso o planeta tenha um aquecimento de 3 ou 4ºC. De acordo com a Nasa, o nível médio global do mar subiu cerca de 0,76 cm entre 2022 e 2023, cerca de quatro vezes mais do que entre 2021 e 2022. Desastres naturais como aumento de tempestades e inundações de grande porte podem ser os resultados mais frequentes do fenômeno.

Intervenção humana agrava as consequências. Atividades realizadas principalmente pelas indústrias acentuam o aquecimento global, derretendo camadas de gelo em montanhas e geleiras e aumentando o nível dos oceanos. Além de derreter grandes estruturas de gelo, o aquecimento global também eleva a temperatura marítima, o que faz a água se expandir e avançar cada vez mais.

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