SP pode ficar até 6°C mais quente até 2050, com ondas de calor de 150 dias
Colaboração para o UOL
26/07/2024 13h53
Um estudo aponta que a temperatura em São Paulo pode aumentar até 6°C até 2050, com ondas de calor prolongadas, conforme divulgado pela APqC (Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo), após análise de dados do Instituto Geológico e da Cetesb.
O que aconteceu
Um estudo realizado por pesquisadores do extinto Instituto Geológico e da Cetesb prevê um aumento significativo de até 6°C na temperatura de São Paulo até 2050. As ondas de calor podem ultrapassar 150 dias consecutivos no norte do estado, especialmente na região de Ribeirão Preto, segundo um cenário mais pessimista.
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Mudanças climáticas e impactos. As conclusões foram divulgadas pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que destaca a urgência de reconhecer a emergência climática.
O estudo usou quatro tipos de previsões do tempo, chamados de modelos climáticos. Eles foram melhorados por um modelo chamado Regional Eta do CPTEC/INPE. Eles olharam para dois futuros possíveis: um onde as pessoas trabalham para poluir menos (RCP 4.5) e outro onde as pessoas continuam poluindo muito (RCP 8.5).
RCP significa "Caminho de Concentração Representativa" e é como um plano que mostra o quanto de gases poluentes, como o dióxido de carbono, estarão na atmosfera até o ano 2100. Quando esses gases são muitos, eles fazem o planeta ficar mais quente (forçantes positivas). Se fossem poucos, poderiam fazer o planeta esfriar (forçantes negativas).
Quando consideraram a temperatura máxima anual, os pesquisadores identificaram que haverá aumento em todo Estado. As máximas podem avançar a partir de 3ºC a 4ºC, podendo chegar aos 6ºC na faixa central do Estado.
Influência moderadora do oceano. O litoral (Baixada Santista e litoral norte) deve registrar aumentos menores devido à influência moderadora do oceano, com variações de 0,5°C a 1,5°C.
Por outro lado, tanto o litoral como as demais regiões do Estado enfrentarão outros tipos de eventos extremos. Com o clima alternando entre seco e chuva forte, podendo causar escorregamentos de encostas, inundações e erosões.
Ondas de calor mais longas. A duração das ondas de calor pode aumentar significativamente, com projeções de 25 a 50 dias adicionais no sul do estado, mesmo no melhor cenário.
Redução na precipitação. As regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto podem enfrentar uma redução significativa na precipitação anual, exacerbando os desafios hídricos.
Eventos climáticos extremos. Há possibilidade de eventos extremos alternando entre períodos de seca e chuvas intensas, aumentando o risco de desastres naturais como deslizamentos e inundações.
Reações e Cobranças
Críticas à inação governamental. Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC, critica a falta de ação do governo diante das projeções alarmantes e a extinção de importantes institutos de pesquisa.
Chamada à ação. A APqC cobra do governo estadual a elaboração de um plano de ação eficaz para conter o aquecimento e preservar áreas de conservação.
Apenas 22,9% da vegetação florestal nativa estão preservadas. Dos estados brasileiros, São Paulo é aquele com maior grau de ocupação de seu território, maior contingente populacional e maior desenvolvimento econômico, diretamente associado ao desempenho de sua agricultura, indústria e serviços. Justamente por esses motivos é o trecho do território brasileiro com o maior grau de modificação dos espaços naturais, diz o estudo.
Necessidade de investimentos. Lutgens destaca a urgência de fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, exigindo investimentos financeiros e em recursos humanos para mitigar os impactos climáticos.
O estado de São Paulo só não está em uma condição ainda mais grave porque ao longo do último século, pesquisadores dos Institutos, como o Florestal, também extinto em 2020, atuaram para mapear e proteger os biomas nativos.
Helena Dutra Lutgens
As conclusões do estudo foram incorporadas ao ZEE (Zoneamento Ecológico-econômico) do Estado de São Paulo, orientando a gestão territorial. A implementação de políticas públicas efetivas é crucial para proteger a população e o meio ambiente do estado de São Paulo diante das mudanças climáticas.
É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, e isso exige investimentos financeiros e em recursos humanos.
Helena Dutra Lutgens