SP pode ficar até 6°C mais quente até 2050, com ondas de calor de 150 dias

Um estudo aponta que a temperatura em São Paulo pode aumentar até 6°C até 2050, com ondas de calor prolongadas, conforme divulgado pela APqC (Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo), após análise de dados do Instituto Geológico e da Cetesb.

O que aconteceu

Um estudo realizado por pesquisadores do extinto Instituto Geológico e da Cetesb prevê um aumento significativo de até 6°C na temperatura de São Paulo até 2050. As ondas de calor podem ultrapassar 150 dias consecutivos no norte do estado, especialmente na região de Ribeirão Preto, segundo um cenário mais pessimista.

Mudanças climáticas e impactos. As conclusões foram divulgadas pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que destaca a urgência de reconhecer a emergência climática.

O estudo usou quatro tipos de previsões do tempo, chamados de modelos climáticos. Eles foram melhorados por um modelo chamado Regional Eta do CPTEC/INPE. Eles olharam para dois futuros possíveis: um onde as pessoas trabalham para poluir menos (RCP 4.5) e outro onde as pessoas continuam poluindo muito (RCP 8.5).

RCP significa "Caminho de Concentração Representativa" e é como um plano que mostra o quanto de gases poluentes, como o dióxido de carbono, estarão na atmosfera até o ano 2100. Quando esses gases são muitos, eles fazem o planeta ficar mais quente (forçantes positivas). Se fossem poucos, poderiam fazer o planeta esfriar (forçantes negativas).

Quando consideraram a temperatura máxima anual, os pesquisadores identificaram que haverá aumento em todo Estado. As máximas podem avançar a partir de 3ºC a 4ºC, podendo chegar aos 6ºC na faixa central do Estado.

Influência moderadora do oceano. O litoral (Baixada Santista e litoral norte) deve registrar aumentos menores devido à influência moderadora do oceano, com variações de 0,5°C a 1,5°C.

Por outro lado, tanto o litoral como as demais regiões do Estado enfrentarão outros tipos de eventos extremos. Com o clima alternando entre seco e chuva forte, podendo causar escorregamentos de encostas, inundações e erosões.

Ondas de calor mais longas. A duração das ondas de calor pode aumentar significativamente, com projeções de 25 a 50 dias adicionais no sul do estado, mesmo no melhor cenário.

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Redução na precipitação. As regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto podem enfrentar uma redução significativa na precipitação anual, exacerbando os desafios hídricos.

Eventos climáticos extremos. Há possibilidade de eventos extremos alternando entre períodos de seca e chuvas intensas, aumentando o risco de desastres naturais como deslizamentos e inundações.

Reações e Cobranças

Críticas à inação governamental. Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC, critica a falta de ação do governo diante das projeções alarmantes e a extinção de importantes institutos de pesquisa.

Chamada à ação. A APqC cobra do governo estadual a elaboração de um plano de ação eficaz para conter o aquecimento e preservar áreas de conservação.

Apenas 22,9% da vegetação florestal nativa estão preservadas. Dos estados brasileiros, São Paulo é aquele com maior grau de ocupação de seu território, maior contingente populacional e maior desenvolvimento econômico, diretamente associado ao desempenho de sua agricultura, indústria e serviços. Justamente por esses motivos é o trecho do território brasileiro com o maior grau de modificação dos espaços naturais, diz o estudo.

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Necessidade de investimentos. Lutgens destaca a urgência de fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, exigindo investimentos financeiros e em recursos humanos para mitigar os impactos climáticos.

O estado de São Paulo só não está em uma condição ainda mais grave porque ao longo do último século, pesquisadores dos Institutos, como o Florestal, também extinto em 2020, atuaram para mapear e proteger os biomas nativos.
Helena Dutra Lutgens

As conclusões do estudo foram incorporadas ao ZEE (Zoneamento Ecológico-econômico) do Estado de São Paulo, orientando a gestão territorial. A implementação de políticas públicas efetivas é crucial para proteger a população e o meio ambiente do estado de São Paulo diante das mudanças climáticas.

É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, e isso exige investimentos financeiros e em recursos humanos.
Helena Dutra Lutgens

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