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Cientistas descobrem 'novo El Niño'; fenômeno pode mudar clima da Terra

Colaboração para o UOL

12/08/2024 05h30

Fenômeno denominado pelos especialistas como "novo El Niño" tem início do outro lado do mundo, na região da Austrália e da Nova Zelândia. Pesquisadores dizem ter encontrado "um novo interruptor no clima da Terra".

O que aconteceu

Pode desencadear mudanças climáticas. Cientistas descobriram que uma pequena área do sudoeste do Oceano Pacífico, próxima à Nova Zelândia e à Austrália, pode desencadear mudanças climáticas que afetam todo o Hemisfério Sul.

É parecido com o El Niño. O novo padrão climático observado compartilha algumas características com o já conhecido El Niño e foi chamado de "Onda Número 4 do Padrão Circumpolar do Hemisfério Sul", ou SST-W4. As descobertas foram publicadas na revista científica Journal of Geophysical Research: Oceans no dia 6 de julho.

Cientistas simularam 300 anos de condições climáticas. De acordo com comunicado oficial, o estudo combinou componentes atmosféricos, oceânicos e de gelo marinho para criar uma representação ampla do sistema climático da Terra. A partir dos dados gerados na simulação, os especialistas identificaram um padrão recorrente de variações da temperatura da superfície do mar no Hemisfério Sul.

Esta descoberta é como encontrar um novo interruptor no clima da Terra. [O estudo] mostra que uma área relativamente pequena do oceano pode ter efeitos de amplo alcance no clima global e nos padrões climáticos. Balaji Senapati, da Universidade de Reading, na Inglaterra, autor da pesquisa

Como funciona o "novo El Niño"

El Niño aquece as águas e os ventos nos trópicos. A depender de sua intensidade, as consequências climáticas podem ser extremas Imagem: Getty Images

Tudo começa na Austrália e na Nova Zelândia. Segundo Senapati, o padrão climático funciona como uma reação em cadeia, criando quatro áreas alternadamente quentes e frias nos oceanos e formando um círculo completo no Hemisfério Sul. "Quando a temperatura do oceano muda nesta pequena área, desencadeia um efeito cascata na atmosfera. Isso cria um padrão que viaja por todo o Hemisfério Sul, carregado por fortes ventos do oeste", diz o pesquisador.

Diferença entre o novo padrão e o El Niño. Ao contrário do El Niño, que começa nos trópicos, o fenômeno descoberto no estudo tem início nas latitudes médias, mais ao Sul da região do Equador.

Mudança no padrão dos ventos. A alteração na temperatura dos oceanos causa mudanças também na temperatura da atmosfera e no padrão dos ventos. "Quando a onda atmosférica muda os padrões do vento, ela afeta a forma como o calor se move entre o oceano e o ar. Isso altera a profundidade da camada superior de água mais quente do oceano, o que pode tornar as mudanças de temperatura mais fortes ou mais fracas", explica o estudo.

Agricultor mostra espiga de milho seca nas Filipinas, onde El Niño agravou clima e causou seca em março deste ano Imagem: Jam Sta Rosa/AFP

Fenômeno acontece independentemente de outros sistemas meteorológicos conhecidos. De acordo com o estudo, o novo padrão descoberto no Hemisfério Sul ocorre mesmo com a atuação do El Niño (fase de aquecimento das correntes e dos ventos dos trópicos em direção ao Equador) e da La Niña (fase de esfriamento das águas na região). "Isso sugere que [o fenômeno descoberto] sempre fez parte do clima da Terra, mas só foi notado recentemente", diz Senapati.

Descoberta pode ajudar os cientistas a entenderem melhor eventos climáticos no Hemisfério Sul. De acordo com Senapati, entender esse novo padrão no Pacífico pode melhorar não só a previsão do tempo e do clima, mas também auxiliar os especialistas na explicação de mudanças climáticas que atingem toda a região e compreender a gravidade crescente dos eventos extremos nesses locais.

El Niño e La Niña afetam clima do planeta. Ambos os fenômenos são estudados por especialistas há décadas e são considerados um conjunto de mudanças que acontece periodicamente no sistema de ventos e correntes no Oceano Pacífico tropical. As consequências dos fenômenos, que ocorrem geralmente entre dois e sete anos, afetam o clima em todo o planeta, que sofre com inundações, secas e outros desequilíbrios climáticos.

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