Submersível desaparece na 'Geleira do Juízo Final' após descoberta inédita
De Ecoa, em São Paulo
20/08/2024 12h00
Um robô subaquático autônomo de propriedade da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, desapareceu misteriosamente na Antártida, depois de fazer descobertas científicas inéditas na geleira Thwaites, conhecida como "Geleira do Juízo Final".
O que aconteceu
Batizado de Ran, o veículo autônomo subaquático foi enviado para o local pela primeira vez em 2022. Ele foi programado por uma equipe internacional de pesquisadores para mergulhar na cavidade e escanear o gelo na Antártica Ocidental. A "geleira do Juízo Final", a maior do mundo, tem este apelido porque o seu colapso pode causar um aumento catastrófico do nível do mar.
Submersível sumiu em segunda expedição. Em janeiro de 2024, o grupo retornou com Ran à Plataforma de Gelo Dotson para repetir os levantamentos, na esperança de documentar mudanças. Eles conseguiram repetir apenas um mergulho sob a plataforma de gelo Dotson antes de Ran desaparecer sem deixar vestígios.
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Durante 27 dias, o submersível percorreu um total de mais de 1.000 quilômetros. O veículo subaquático atingiu 17 quilômetros na cavidade acima da qual a plataforma de gelo flutua.
Pesquisa custou 50 milhões de dólares. Este estudo de campo fez parte de uma missão de cinco anos em parceria entre os EUA e o Reino Unido para aprender mais sobre a Geleira Thwaites.
Estudo revela pistas sobre aumento do nível do mar. O artigo publicado na revista Science Advances no final de julho deste ano obteve os primeiros mapas detalhados cobrindo extensas áreas da parte inferior de uma geleira, o que pode ajudar a entender o fenômeno de derretimento das geleiras.
Embora tenhamos obtido dados valiosos, não conseguimos tudo o que esperávamos. Esses avanços científicos foram possíveis graças ao submersível único que Ran era. Esta pesquisa é necessária para entender o futuro da camada de gelo da Antártica, e esperamos ser capazes de substituir Ran e continuar este importante trabalho Anna Wåhlin, professora de Oceanografia na Universidade de Gotemburgo e principal autora do estudo
Os pesquisadores também observaram novos padrões na base da geleira. Como, por exemplo, que sua base não é lisa, mas tem um relevo de picos e vales com formações que lembram dunas de areia.
Os modelos atuais não conseguem explicar os padrões descobertos. Os pesquisadores supõem que isso pode ter sido formado pela água em movimento sob a influência da rotação da Terra.
Com o submersível, os cientistas também conseguiram medir as correntes abaixo da geleira pela primeira vez. Os cientistas já sabiam que as geleiras derretem mais rapidamente onde fortes correntes submarinas corroem sua base, mas, com o estudo de campo, eles conseguiram provar o porquê a parte ocidental da Plataforma de Gelo Dotson derrete tão rápido.
Já usamos dados de satélite e núcleos de gelo para observar como as plataformas de gelo mudam ao longo do tempo. Ao navegar com o submersível na cavidade, conseguimos obter mapas de alta resolução da parte inferior do gelo. É um pouco como ver o outro lado da lua pela primeira vez. Anna Wåhlin, professora de Oceanografia na Universidade de Gotemburgo
Os mapas que Ran produziu representam um grande progresso em nossa compreensão das plataformas de gelo da Antártica. Já tínhamos pistas de quão complexas são as bases das plataformas de gelo, mas Ran revelou uma imagem mais extensa e completa do que nunca. Karen Alley, glaciologista da Universidade de Manitoba e coautora do estudo