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Corredor de fumaça intoxicante paira sobre Brasil e é visto do espaço

Colaboração para Ecoa*

21/08/2024 05h30

Fuligem de queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal atingem pelo menos dez estados brasileiros. Imagens de satélite flagram a gravidade do corredor de fumaça formado em diversas partes do Brasil e que deve durar até a próxima sexta-feira (23).

O que aconteceu

Fogo castiga e fumaça se espalha pelo Brasil. Queimadas precoces estão devastando a Amazônia e o Pantanal desde a última sexta-feira (16). A fumaça causada pelas queimadas já atingiu pelo menos dez estados, com avanço registrado nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) indicam que 1.540 focos de incêndio seguem ativos no Brasil e 73,7% deles estão concentrados na Amazônia e no Cerrado.

Corredor de fumaça. Segundo a MetSul Meteorologia, a fuligem das queimadas foi carregada por uma corrente de jatos quentes e secos, típica desta época do ano, e que se forma a cerca de 1.500 metros de altitude, criando o chamado corredor de fumaça pelo país. Além do impacto no Amazonas, em Roraima e no Pará, onde a fumaça fica mais próxima à superfície, mapas do Copernicus (Programa de Observação da Terra da União Europeia) indicam que a fuligem conseguiu alcançar com maior força os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nestes locais, os poluentes ficam em suspensão na atmosfera, deixando o céu acinzentado e com aspecto "fosco".

Imagens do sistema Copernicus mostram impacto das queimadas na América do Sul Imagem: MetSul/Copernicus

Poluição atmosférica também foi percebida em outros estados. A fumaça foi identificada em diversos municípios de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, que registraram níveis críticos de poluição atmosférica nesta terça-feira (20). O corredor de fumaça deve permanecer até a próxima sexta-feira (23), quando uma frente fria encontrará os ventos quentes da Amazônia e ajudará a dissipar as partículas de fuligem.

Fuligem brasileira atingiu outros países da América do Sul. Satélites da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), dos Estados Unidos, captaram alta densidade de fumaça sobre o Peru, a Bolívia e o Paraguai.

Fumaça eleva poluição atmosférica. O Brasil liderou o ranking dos países com a pior qualidade do ar entre as estações avaliadas pelo Air Quality Index, uma plataforma que calcula o índice de qualidade do ar em todo o mundo. Itaquaquecetuba (SP), Ponta Grossa (PR), Corumbá (MS), São Paulo (SP), Humaitá (AM) e Curitiba (PR) contribuíram para a baixa nota do país. Os municípios registraram nível de ar "insalubre", "muito insalubre" ou "perigoso", com alta concentração de partículas finas, como as PM 2.5, e as partículas denominadas PM 10.

Sol com tonalidades avermelhadas foi flagrado em diferentes cidades do RS. Poluentes dos incêndios em diferentes regiões do Brasil foram levados ao estado pelos ventos Imagem: Reprodução/MetSul Meteorologia

Perigo paira no ar. As partículas suspensas no ar incluem poeira de diferentes origens, como fuligem, agricultura, incêndios florestais e queima de biomassa. A reação química com outros poluentes, como aqueles que são resultado da queima de combustíveis fósseis, piorou a condição de respiração nestas regiões.

Satélites acompanham queimadas e fumaças no Brasil. Registros feitos nos últimos dias por agências como Nasa, NOAA e Copernicus ilustram a expansão do fogo e das fumaças no Brasil e nos países vizinhos.

Imagem de satélite gerada pela NOAA ilustra a densidade de aerossóis, verificados quando há muita fumaça. A tonalidade mais escura indica maior concentração desses aerossóis Imagem: Reprodução/MetSul/NOAA AEROSOL WATCH

Os perigos para a saúde

Fuligem pode causar problemas respiratórios. No dia 13 de agosto, alerta da Fiocruz Amazônia recomendou o uso de máscaras com sistema de filtragem especial (N95 ou PFF2) para moradores de Manaus com histórico de comorbidades ou doenças respiratórias.

O que mais preocupa este ano em relação aos anteriores é que não se sabe, ao certo, se o que está acontecendo é simplesmente uma antecipação do período crítico ou se, realmente, neste ano teremos um período mais longo de exposição à fumaça tóxica, já que o pico da poluição em 2023 foi em outubro. Seria algo inusitado e extremamente preocupante, pois estenderia o sofrimento da população e traria consequências muito piores. Jesem Orellana, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz, em nota oficial, sobre eventual exposição prolongada à fumaça tóxica causada pelos incêndios

Inalação de fumaça tóxica pode desencadear diferentes sintomas. Alguns dos efeitos mais comuns são tosse seca, falta de ar, irritação dos olhos e da garganta, congestão nasal e alergias na pele. "Indiretamente, o problema pode contribuir para o agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias como rinite, asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica ou mesmo SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave)", explica Orellana.

Focos de incêndio são recordes no Brasil

Dispersão da fumaça acontece em meio a uma escalada de incêndios florestais em todo o país. Monitoramento do Inpe indica que o Brasil registrou 88,9 mil focos de queimadas desde o início de 2024. O resultado para o mesmo período só foi pior em três ocasiões: 2004, 2007 e 2010.

Incêndios no Pantanal ameaçam diversas espécies de animais que vivem no bioma Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Recorde no Pantanal. No bioma, os 7,7 mil focos já registrados em 2024 representam o número mais alto de incêndios desde o início da série histórica, em 1998. Análise publicada em junho pela Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, definiu os incêndios no Pantanal como "excepcionalmente precoces e intensos". De acordo com a agência, a falta de chuvas na região secou a vegetação e ajudou o fogo a se espalhar antes da temporada.

Cerrado também sofre. Segundo o Inpe, 2024 é o pior ano em área total queimada em duas décadas. Entre janeiro e julho, já haviam sido registrados 113,6 mil km² devastados pelo fogo, sendo que metade deste território está no Cerrado. O valor é 65% maior que o identificado no mesmo período do ano passado.

*Com informações da agência de notícias DW

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