Corredor de fumaça intoxicante paira sobre Brasil e é visto do espaço
Fuligem de queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal atingem pelo menos dez estados brasileiros. Imagens de satélite flagram a gravidade do corredor de fumaça formado em diversas partes do Brasil e que deve durar até a próxima sexta-feira (23).
O que aconteceu
Fogo castiga e fumaça se espalha pelo Brasil. Queimadas precoces estão devastando a Amazônia e o Pantanal desde a última sexta-feira (16). A fumaça causada pelas queimadas já atingiu pelo menos dez estados, com avanço registrado nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) indicam que 1.540 focos de incêndio seguem ativos no Brasil e 73,7% deles estão concentrados na Amazônia e no Cerrado.
Corredor de fumaça. Segundo a MetSul Meteorologia, a fuligem das queimadas foi carregada por uma corrente de jatos quentes e secos, típica desta época do ano, e que se forma a cerca de 1.500 metros de altitude, criando o chamado corredor de fumaça pelo país. Além do impacto no Amazonas, em Roraima e no Pará, onde a fumaça fica mais próxima à superfície, mapas do Copernicus (Programa de Observação da Terra da União Europeia) indicam que a fuligem conseguiu alcançar com maior força os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nestes locais, os poluentes ficam em suspensão na atmosfera, deixando o céu acinzentado e com aspecto "fosco".
Poluição atmosférica também foi percebida em outros estados. A fumaça foi identificada em diversos municípios de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, que registraram níveis críticos de poluição atmosférica nesta terça-feira (20). O corredor de fumaça deve permanecer até a próxima sexta-feira (23), quando uma frente fria encontrará os ventos quentes da Amazônia e ajudará a dissipar as partículas de fuligem.
Fuligem brasileira atingiu outros países da América do Sul. Satélites da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), dos Estados Unidos, captaram alta densidade de fumaça sobre o Peru, a Bolívia e o Paraguai.
Fumaça eleva poluição atmosférica. O Brasil liderou o ranking dos países com a pior qualidade do ar entre as estações avaliadas pelo Air Quality Index, uma plataforma que calcula o índice de qualidade do ar em todo o mundo. Itaquaquecetuba (SP), Ponta Grossa (PR), Corumbá (MS), São Paulo (SP), Humaitá (AM) e Curitiba (PR) contribuíram para a baixa nota do país. Os municípios registraram nível de ar "insalubre", "muito insalubre" ou "perigoso", com alta concentração de partículas finas, como as PM 2.5, e as partículas denominadas PM 10.
Perigo paira no ar. As partículas suspensas no ar incluem poeira de diferentes origens, como fuligem, agricultura, incêndios florestais e queima de biomassa. A reação química com outros poluentes, como aqueles que são resultado da queima de combustíveis fósseis, piorou a condição de respiração nestas regiões.
Satélites acompanham queimadas e fumaças no Brasil. Registros feitos nos últimos dias por agências como Nasa, NOAA e Copernicus ilustram a expansão do fogo e das fumaças no Brasil e nos países vizinhos.
Os perigos para a saúde
Fuligem pode causar problemas respiratórios. No dia 13 de agosto, alerta da Fiocruz Amazônia recomendou o uso de máscaras com sistema de filtragem especial (N95 ou PFF2) para moradores de Manaus com histórico de comorbidades ou doenças respiratórias.
O que mais preocupa este ano em relação aos anteriores é que não se sabe, ao certo, se o que está acontecendo é simplesmente uma antecipação do período crítico ou se, realmente, neste ano teremos um período mais longo de exposição à fumaça tóxica, já que o pico da poluição em 2023 foi em outubro. Seria algo inusitado e extremamente preocupante, pois estenderia o sofrimento da população e traria consequências muito piores. Jesem Orellana, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz, em nota oficial, sobre eventual exposição prolongada à fumaça tóxica causada pelos incêndios
Inalação de fumaça tóxica pode desencadear diferentes sintomas. Alguns dos efeitos mais comuns são tosse seca, falta de ar, irritação dos olhos e da garganta, congestão nasal e alergias na pele. "Indiretamente, o problema pode contribuir para o agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias como rinite, asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica ou mesmo SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave)", explica Orellana.
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Quero receberFocos de incêndio são recordes no Brasil
Dispersão da fumaça acontece em meio a uma escalada de incêndios florestais em todo o país. Monitoramento do Inpe indica que o Brasil registrou 88,9 mil focos de queimadas desde o início de 2024. O resultado para o mesmo período só foi pior em três ocasiões: 2004, 2007 e 2010.
Recorde no Pantanal. No bioma, os 7,7 mil focos já registrados em 2024 representam o número mais alto de incêndios desde o início da série histórica, em 1998. Análise publicada em junho pela Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, definiu os incêndios no Pantanal como "excepcionalmente precoces e intensos". De acordo com a agência, a falta de chuvas na região secou a vegetação e ajudou o fogo a se espalhar antes da temporada.
Cerrado também sofre. Segundo o Inpe, 2024 é o pior ano em área total queimada em duas décadas. Entre janeiro e julho, já haviam sido registrados 113,6 mil km² devastados pelo fogo, sendo que metade deste território está no Cerrado. O valor é 65% maior que o identificado no mesmo período do ano passado.
*Com informações da agência de notícias DW
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