La Niña Atlântica: resfriamento brusco do oceano pode impactar o Brasil?

O resfriamento periódico das águas do Pacífico, fenômeno conhecido como La Niña, é previsto pelos especialistas para o segundo semestre de 2024. Além do padrão já conhecido no Pacífico, a queda na temperatura da superfície do mar vem sendo observada também no Atlântico. A eventual ocorrência de dois La Niñas simultâneos pode impactar as condições climáticas no Brasil e em várias regiões do mundo.

O que aconteceu

O que é o La Niña? O fenômeno consiste no resfriamento das camadas mais superficiais, até aproximadamente cem metros de profundidade, do Oceano Pacífico Tropical, na região equatorial próxima ao Peru e Equador. O La Niña faz parte de um ciclo natural mais amplo, conhecido como Enso (El Niño Oscilação Sul), que inclui estados de aquecimento (El Niño), condições neutras e de resfriamento (La Niña).

Periodicidade e duração. O La Niña pode ocorrer em intervalos de tempo que variam entre dois e sete anos, e se estender por muitos meses. O fenômeno foi registrado em 2016, 2010, 2007, 1998 e 1995, segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, sendo que o episódio mais recente aconteceu entre julho de 2020 e fevereiro de 2023.

Atlântico também estaria passando pelo La Niña. Após uma sequência de meses com aquecimento recorde no Oceano Atlântico por conta dos efeitos do El Niño, registros da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) indicam que houve um rápido resfriamento das águas na região, principalmente nos últimos dois meses.

Detalhe indica queda na temperatura do Oceano Atlântico entre janeiro e julho de 2024
Detalhe indica queda na temperatura do Oceano Atlântico entre janeiro e julho de 2024 Imagem: Divulgação/NOAA

Sequência de resfriamento intrigou especialistas. O Atlântico Norte tem estado extremamente quente mas, desde o início de junho, a temperatura da superfície do mar no Atlântico equatorial central tem sido 0,5ºC a 1ºC inferior à média para essa época do ano, segundo a MetSul Meteorologia. A queda na temperatura vem sendo acompanhada pelos meteorologistas, que buscam entender o que causou o novo padrão observado no local.

Oscilação brusca. De acordo com a MetSul, 2024 começou com temperaturas extremamente altas da superfície do mar no Atlântico equatorial, quando as temperaturas excederam 30ºC. Segundo a agência, esse foi o período mais quente desde 1982. "Igualmente notável foi a rápida transição para águas mais frias. Nunca antes o Atlântico equatorial oriental oscilou tão rapidamente de um evento extremo para outro", declarou a MetSul em nota.

Índices pré-estabelecidos auxiliam especialistas a monitorar os fenômenos. O ONI (Índice Niño Oceânico) é a medida utilizada para verificação da temperatura dos oceanos. De acordo com a NOAA, o El Niño é caracterizado por um ONI positivo maior ou igual a +0,5ºC. Já o La Niña é caracterizado por ONI negativo menor ou igual a -0,5ºC. Ainda segundo a NOAA, para ser classificado como um episódio completo de El Niño ou La Niña, os limites indicados pelo ONI devem ser excedidos por pelo menos três meses consecutivos.

Condições no Oceano Atlântico poderiam se enquadrar no La Niña. Caso a temperatura do Atlântico permaneça abaixo da média por mais um mês, a definição do La Niña seria, então, aplicada neste oceano.

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Impactos do La Niña no Atlântico

Combinação do La Niña em dois oceanos pode causar impactos climáticos no mundo todo. Além da umidade, a temperatura ao redor do mundo também poderia sofrer consequências por conta do resfriamento de dois oceanos simultaneamente. A formação e a força de furacões podem sofrer alterações em seus padrões. De acordo com a MetSul, o fenômeno no Atlântico demonstrou "aumentar a probabilidade de furacões poderosos se desenvolverem perto de Cabo Verde".

Impacto no clima do Brasil. O resfriamento das águas do oceano torna a circulação do ar mais úmida em parte da América do Sul, o que se reflete de forma diferente nas regiões do Brasil. No Norte e no Nordeste, o resfriamento intensifica a chuva, enquanto no Sul a precipitação fica abaixo da média, podendo alcançar períodos de seca. Já no Centro-Oeste e no Sudeste não há uma definição concreta, e as condições de chuva podem variar de acordo com a evolução do La Niña.

Setor agrícola pode sofrer consequências. No Brasil, a mudança climática causada pelo La Niña pode ameaçar diferentes cultivos, como o de soja, de milho e de trigo. Eventuais secas e períodos de estiagem, especialmente no Rio Grande do Sul, pode prejudicar safras de café, citrus e cana-de-açúcar.

Resultados dos fenômenos serão acompanhados por especialistas. Caso o La Niña seja de fato declarado no Oceano Atlântico, o acontecimento simultâneo ao fenômeno no Pacífico poderá resultar em padrões climáticos inéditos ao redor do mundo. Para os meteorologistas, ainda não está claro se um La Niña poderá afetar o desenvolvimento do outro.

La Niña deve se confirmar em 2024

Agência dos Estados Unidos indica probabilidade alta. Segundo a NOAA, há ao menos 66% de chance de que o La Niña aconteça ainda em 2024. O fenômeno teria início já em setembro e se estenderia durante todo o inverno do Hemisfério Norte (de novembro a janeiro). De acordo com dados da NOAA, a temperatura média global da superfície do mar em julho já foi mais baixa do que no mesmo período de 2023.

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Nova temporada do La Niña já era esperada pelos especialistas. O início do La Niña havia sido previsto graças ao enfraquecimento do El Niño (aquecimento das águas do oceano) no primeiro semestre de 2024.

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