Por que está fazendo tanto frio se o planeta está esquentando?
A onda recorde de frio que atinge o Brasil fez São Paulo registrar 5,6°C na madrugada desta terça-feira (27), a menor temperatura de agosto desde 1999, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Esse fenômeno levanta a questão de como o frio extremo se manifesta em um planeta que está esquentando.
O que aconteceu
A intensa onda de frio atingiu o Brasil, estabelecendo novos recordes de baixa temperatura, pode estar conectada ao aquecimento global. Em São Paulo, foi registrada a menor temperatura para o mês de agosto nos últimos 25 anos. Esse evento levanta preocupações sobre como o frio extremo pode ocorrer em um planeta que está cada vez mais quente.
Em muitas cidades europeias, como Berlim, Paris ou Londres, temperaturas de 5,6°C são relativamente comuns no inverno, especialmente durante o início ou o final da estação. Mas para o Brasil, um país tropical, registros de temperaturas tão baixas são incomuns.
Tendência de aquecimento global faz com que os recordes de calor sejam mais frequentes do que os de frio. O fenômeno é uma realidade comprovada por medições e análises científicas, com impactos claros. Segundo dados da Nasa, a última década foi a mais quente já registrada desde que as medições começaram, em 1880.
Nos Estados Unidos, as temperaturas altas se tornaram mais comuns que as baixas nos últimos 20 anos. Entre 1999 e 2019, os picos de calor ocorreram com duas vezes mais frequência do que os de frio. Isso reflete a tendência global de aumento das temperaturas.
As mudanças climáticas estão tornando os eventos extremos mais frequentes e intensos. O aquecimento global injeta mais energia no sistema climático, que já é naturalmente sensível. Isso resulta em eventos extremos mais frequentes e poderosos, como ondas de calor e frio intensas.
Apesar dessas ondas de frio, os invernos em muitas regiões do Hemisfério Norte estão, na verdade, se tornando mais quentes. Os invernos em 233 localidades dos Estados Unidos aqueceram, em média, 2,1°C entre 1970 e 2022.
A Europa e o Japão também registraram invernos anormalmente quentes em 2022 e 2023, refletindo o impacto das mudanças climáticas. Em 2022 e 2023, a Europa teve seu segundo inverno e outono mais quentes da história, enquanto no Japão, a temperatura média no inverno de 2023-2024 foi 1,27°C acima do normal, a segunda mais alta desde 1898.
Vórtice polar
Esses fenômenos estão ligados ao aquecimento acelerado do Ártico, que afeta o vórtice polar. O aquecimento do Ártico, quatro vezes mais rápido que no resto do planeta, desestabiliza o vórtice polar, um cinturão de ventos fortes que mantém o ar frio contido no polo Norte. Essa instabilidade permite que o ar gelado se expanda e desça para latitudes mais ao sul, como Canadá, Estados Unidos e Europa.
Eventos extremos, como a recente onda de frio no Brasil, ainda podem acontecer e são uma manifestação das mudanças climáticas globais. Mesmo assim, por aqui elas são menos intensas que no Hemisfério Norte. A maior distância em relação à Antártica e o clima tropical do país tornam os invernos naturalmente mais amenos.
*Fontes: Edmo Campos, professor emérito do Instituto Oceanográfico da USP; Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física e coordenador do CEAS, ambos da USP; Agência Meteorológica do Japão; Associated Press; Climate Central; Copernicus Climate Change Service; Nasa.
*Com informações de matéria publicada em 10 de junho de 2024.
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