'Ninguém mais vê céu azul': por que o ar está tão estranho no Brasil?

O céu azul e límpido deixou de ser visto em várias regiões do Brasil, encoberto pela densa fumaça das queimadas, que se intensificam enquanto a seca persiste, comprometendo a qualidade do ar.

O que aconteceu

A fumaça das queimadas está encobrindo o céu em grande parte do Brasil. O fenômeno é resultado da dispersão de partículas poluentes que se acumulam na atmosfera. Queimadas na Amazônia, Pantanal e no Sudeste são as principais responsáveis por esse cenário.

"Ninguém mais vê céu azul nesse país", diz a meteorologista Josélia Pegorim. A especialista destaca que a fuligem e outros poluentes estão encobrindo o céu de norte a sul, bloqueando a luz azul que normalmente dá o tom claro ao céu. Esse cenário reflete a gravidade das queimadas.

Meteorologistas apontam a falta de chuvas como um agravante. Pegorim explica que a ausência de pancadas de chuva impede que a fumaça seja dissipada, prolongando a condição de céu encoberto. A previsão é que as chuvas só retornem de forma regular a partir de outubro.

A concentração de monóxido de carbono (CO) na atmosfera sobre o Brasil tem sido monitorada com grande preocupação, especialmente devido ao aumento das queimadas. Os dados mais recentes, coletados por satélites da Nasa em 2019, já revelavam níveis elevados de CO na atmosfera, com concentrações em algumas regiões variando entre 120 e 160 partes por bilhão (ppbv). Esse aumento foi diretamente ligado às intensas queimadas na Amazônia e no Pantanal, exacerbadas pela seca prolongada.

As queimadas liberam grandes quantidades de CO, que se acumulam na atmosfera, podendo persistir por semanas e transportadas para áreas distantes. Embora esse gás se concentre principalmente em altitudes mais elevadas, ele pode ser trazido para as camadas inferiores da atmosfera, impactando a qualidade do ar que respiramos e causando riscos à saúde, como problemas respiratórios.

Sol do Apocalipse

Além de esconder o céu azul, a fumaça também deixa o sol alaranjado. Fenômeno que vem sendo chamado por alguns internautas de "Sol do Apocalipse". O professor Micael Amore Cecchini, do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo), explica que a coloração ocorre devido ao espalhamento da luz na atmosfera. As partículas de poluição intensificam as cores quentes, como o laranja e o vermelho, tornando o Sol visivelmente diferente.

A seca prolongada e a ausência de frentes frias agravam a situação. Com a atmosfera carregada de poluentes, a luz solar é filtrada pelas partículas em suspensão. Isso faz com que o Sol pareça mais intenso e alaranjado, um efeito que se estende por várias semanas.

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Esse fenômeno afeta diretamente a saúde e a agricultura. A poluição respirada nas regiões mais afetadas é comparada à inalação de fumaça de cigarro, segundo Cecchini. Além disso, a redução da luminosidade pode comprometer o ciclo de crescimento das culturas, prejudicando a produção agrícola.

A crise ambiental que o Brasil enfrenta reflete a combinação de fatores climáticos e humanos, segundo os especialistas. O aumento das queimadas, intensificado pelo desmatamento, aliado à seca, cria um cenário preocupante que se estende por várias regiões. Sem chuvas regulares, o país continuará lidando com a degradação do céu e da qualidade do ar.

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