Taxas e área restrita: o que cidades do mundo fazem contra ar insalubre

Cidades em todo o Brasil vêm sofrendo com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar. Como fator agravante, incêndios espalhados pelo país fazem com que corredores de fumaça se formem e tomem conta do céu, derrubando a qualidade do ar a níveis como "insalubre" e "perigoso".

Na tentativa de diminuir a poluição e melhorar o ar que a população respira, cidades como Londres e Paris tomaram medidas para diminuir a circulação de veículos e até mesmo de pessoas em áreas delimitadas.

ULEZ: o projeto londrino que se espalha pelo Reino Unido

Projeto ULEZ ("ultra low emission zone", ou zona de emissão ultrabaixa em tradução livre), foi criado em 2019. Inicialmente implementada no centro de Londres, a medida visa a garantir melhor qualidade do ar aos moradores da cidade. Para incentivar a substituição da frota de automóveis que circulam fora das atuais normas de emissões consideradas aceitáveis, o ULEZ delimita um perímetro em que os carros mais poluentes não podem circular. Para definir as regras do projeto, as autoridades analisaram o ano de fabricação e o combustível usado pelos veículos.

Descumprimento rende cobrança aos motoristas. A medida estabelece pagamento de taxa diária aos veículos que estão fora das normas de emissões e que entram na zona delimitada: 12,50 libras esterlinas (cerca de R$ 91 na cotação atual). Para caminhões e ônibus, a taxa é proporcionalmente mais alta: o valor diário para esses veículos é de 100 libras (R$ 730).

Iniciativa teve resultado ótimo, segundo dados do governo do Reino Unido. De acordo com informações oficiais das autoridades britânicas, 13.500 carros a menos circulavam pela cidade diariamente logo no início do projeto, diminuindo a poluição em cerca de um terço do volume produzido antes da implementação do ULEZ.

Imagem de 2017 mostra a cidade de Londres antes do projeto ULEZ. Trânsito parado faz com que emissão de poluentes seja ainda maior
Imagem de 2017 mostra a cidade de Londres antes do projeto ULEZ. Trânsito parado faz com que emissão de poluentes seja ainda maior Imagem: Ben Stansall/AFP

Capital britânica tomou medida ainda mais ampla contra a poluição causada por automóveis. Em 2021, o perímetro definido no projeto ULEZ foi ampliado e, desde agosto de 2023, toda a área metropolitana está sob as regras do projeto. Com a ampliação, Londres tem a maior zona de baixa emissão em todo o mundo.

Valor definido no ULEZ não é a única taxa paga no trânsito de Londres: a capital tem, ainda, a chamada taxa de congestionamento. Cobrada diariamente, a taxa atinge todos os veículos que dirigirem dentro da zona delimitada, indicada no asfalto. A cobrança de 15 libras (quase R$ 110) acontece as 7h às 18h em dias de semana, e do meio-dia às 18h aos finais de semana e feriados bancários.

Iniciativas com fins ambientais foram adotadas em outras cidades inglesas. Segundo o governo britânico, Bath, Birmingham, Bradford, Bristol, Portsmouth, Sheffield e a região de Tyneside também têm as chamadas "zonas de ar limpo", onde os motoristas encontram regras no trânsito para diminuir a emissão de poluentes. A região metropolitana de Manchester, segunda maior metrópole da Inglaterra, está com os termos do ULEZ "sob revisão".

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Cidades na Escócia também têm zonas de baixa emissão. Em Glasgow, a LEZ (low emission zone) é aplicada aos ônibus desde 2018. Para os outros veículos, a aplicação das regras começou em junho de 2023. A cidade de Dundee foi incluída no projeto em maio deste ano, enquanto Aberdeen e a capital Edimburgo passaram a participar no último mês de junho.

Paris: bicicletas, árvores e planejamento urbano

Capital da França chegou a decretar feriado por causa da qualidade do ar. Em 2016, uma grave crise na qualidade do ar fez com que Paris adotasse medidas como o uso gratuito de transportes públicos e o rodízio de veículos —com automóveis elétricos, híbridos, movidos a gás ou com mais de três ocupantes autorizados a circular. A primeira hora de aluguel de carros elétricos e a primeira meia hora de aluguel para bicicleta do sistema Vélib foram gratuitas.

Prefeita Anne Hidalgo é conhecida pelas políticas voltadas à emergência climática na cidade. Segundo o C40, rede global com prefeitos contra a crise climática, Anne tem iniciativas como a construção ciclovias, transformação da margem do rio Sena, agora reservada exclusivamente para pedestres e ciclistas, e a proibição de trânsito em determinadas áreas da capital aos domingos e feriados. Também há planos de plantar 170.000 árvores até o final de 2026 e criar jardins ao longo da avenida Champs-Élysées.

Aumento de vagas de bicicletas e incentivo financeiro são outras medidas parisienses. Além de aumentar as vagas destinadas a bicicletas espalhadas pela cidade, Paris também tem trabalhado para aumentar a oferta de ciclovias. Na crise de 2016, os cidadãos que deixassem de usar seus carros ganhariam uma ajuda financeira para assinar algum dos serviços de bicicleta por aluguel disponíveis na cidade.

Colômbia terá metrô na capital

O trânsito de Bogotá, capital do país, foi considerado o pior em índice da empresa de tecnologia TomTom. A pesquisa indicou que os motoristas na cidade passam mais de dez dias por ano presos no congestionamento, com velocidade média de 17 quilômetros por hora. O trânsito parado, muitas vezes formado por carros antigos, ônibus e caminhões, aumenta ainda mais a poluição na região.

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A China vai ajudar o governo colombiano com projeto de metrô. Na tentativa de desafogar o trânsito e diminuir o número de automóveis circulando, Bogotá está contando com a ajuda da China para construir o transporte subterrâneo, que deve ficar pronto em 2028, de acordo com o Greenpeace.

Autoridades do país tentam convencer colombianos a usar outros tipos de transporte. O sistema de transporte público da capital, chamado TransMilenio, foi construído há 25 anos. Atualmente, não é a primeira opção da maioria dos moradores por ser defasado e superlotado. Além de já ter estabelecido regras de rodízio baseadas nas placas dos veículos, a cidade avalia começar a cobrar taxas similares à taxa de congestionamento londrina. Segundo o Greenpeace, mais faixas exclusivas para ônibus estão sendo construídas em Bogotá, assim como calçadas e ciclofaixas.

Cidades conhecidas pela poluição tentam reverter cenário

Ao redor do mundo, diferentes estratégias estão sendo tomadas pelas autoridades. De acordo com a agência de notícias DW, Bangkok, na Tailândia, viu os índices de poluição caírem gradativamente com a expansão das redes de teleférico e de metrô.

A Índia, que concentra as quatro cidades mais poluídas do mundo, também procura meios de melhorar a qualidade do ar. O governo do país pretende eletrificar 80% de sua frota de ônibus. De acordo com o site suíço IQAir, Begusarai, Guwahati, Déli e Mullanpur têm os ares mais poluídos. Em Déli, escolas foram fechadas em 2023 devido à péssima qualidade do ar.

No setor industrial, as companhias buscam a redução da poeira em obras da construção civil e a transição para combustíveis mais limpos e para tecnologias mais eficientes. O fechamento da usina de carvão Badarpur, em 2018, foi uma das principais medidas do governo contra a poluição. Estima-se que a usina era responsável por cerca de 10% da poluição do ar por material particulado somente em Déli.

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Homem caminha por Déli, na Índia, com horizonte encoberto por poluição
Homem caminha por Déli, na Índia, com horizonte encoberto por poluição Imagem: Anushree Fadnavis/Reuters

China e Coreia do Sul também têm projetos contra a poluição. Pequim, na China, incorporou limites rígidos de emissão para caldeiras domésticas responsáveis pela energia necessária para aquecimento e resfriamento de ambientes. O governo ofereceu subsídios às residências que fizessem a troca de caldeiras a carvão por gás natural ou eletricidade. De acordo com a DW, a renovação dessas caldeiras derrubou em 20% a poluição atmosférica na cidade. Em Seul, capital sul-coreana, a transição para aquecedores a gás aconteceu na década de 1990, e atualmente as autoridades avaliam alternativas ambientalmente mais sustentáveis, como bombas de calor.

Rodízio de veículos acontece há 27 anos em São Paulo. A cidade de São Paulo criou o rodízio em 1997, com o objetivo de diminuir a circulação de carros em determinados horários e em áreas demarcadas. O último número da placa indica em qual dia da semana o veículo não pode circular na zona do centro expandido.

De forma emergencial, para lidar com a qualidade do ar insalubre das últimas semanas, a prefeitura paulistana instalou tendas da operação Altas Temperaturas. Os equipamentos estão montados em pontos estratégicos das cinco regiões da cidade. Com funcionamento entre 10h e 16h, os cidadãos podem ter acesso a água, chás, sucos gelados e frutas.

Vias congestionadas em São Paulo. Apesar do rodízio de veículos, a fila de carros é vista em toda a cidade diariamente, agravando a poluição e a qualidade do ar
Vias congestionadas em São Paulo. Apesar do rodízio de veículos, a fila de carros é vista em toda a cidade diariamente, agravando a poluição e a qualidade do ar Imagem: Getty Images

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