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Saara fica verde e ganha lagos, mas isso não é uma boa notícia

Deserto do Saara Imagem: Getty Images

De Ecoa, em São Paulo

24/09/2024 05h30

Parte do Saara está ficando verde após fortes chuvas registradas nos últimos dias — um dos locais mais secos do mundo teve uma precipitação cinco vezes maior que a média de setembro. Imagens de satélites mostraram o "esverdeamento" do deserto, que também ganhou lagos inesperados.

Antes das chuvas

Deserto do Saara no dia 14 de agosto de 2024 Imagem: NASA

Depois das chuvas

Deserto do Saara no dia 10 de setembro, após chuvas. É possível observar mais verde e formação de 'lagos' Imagem: NASA

O que aconteceu

Zona de convergência está atuando na região. A Zona de Convergência Intertropical (ITCZ, na sigla em inglês) é formada por uma faixa de nuvens, tempestades e chuvas que se espalha por todo o Equador. A zona existe graças ao encontro dos ventos alísios vindos de ambos os hemisférios, que provocam as precipitações por conta de sua umidade.

Movimentação da ITCZ tem sido atípica. Segundo registros recentes, a zona de convergência está se deslocando mais do que o habitual em direção ao norte, principalmente nos últimos três meses. Com a ITCZ se encaminhando para o norte da África, fortes sistemas de trovoadas se deslocam para o Oceano Atlântico, em latitude mais elevada e sobre águas mais frias.

Cientistas ainda não sabem explicar o motivo dessa oscilação neste ano. No entanto, há algumas hipóteses: uma delas é intenso calor no Oceano Atlântico Norte, que aumentou a diferença de temperatura entre os hemisférios; a outra são as mudanças climáticas.

Como no Hemisfério Norte há mais terra do que o Hemisfério Sul, essa região tende a se aquecer mais e, portanto, poderia empurrar a ZCIT mais para o norte.
Francesco S.R. Pausata, professor de ciências atmosféricas da Universidade de Quebec ao The Washington Post

As chuvas também caíram como consequência da formação de um ciclone extratropical - incomum na região. Os pesquisadores identificaram mais de 38 mil episódios de chuva intensa no Saara, mas apenas 30% deles ocorreram no verão. Destes, poucos foram associados a um ciclone extratropical.

Embora algum grau de precipitação ocorra nesta região todos os verões, o que é único este ano é o envolvimento de um ciclone extratropical.
Moshe Armon, professor do Instituto de Ciências da Terra e da Universidade Hebraica de Jerusalém para a NASA

Devido às fortes chuvas que estão mais ao norte que o habitual, houve um maior aumento de vegetação. Imagens de satélites mostram uma zona mais "verde" em regiões da faixa centro-norte de África.

Chuvas destruíram comunidades. Segundo a NASA, grande parte da chuva caiu em áreas escassamente povoadas, no entanto, há relatos de inundações repentinas em povoados do Marrocos, que causaram danos em estradas e interrupção no fornecimento de eletricidade e água. O Programa Alimentar Mundial da ONU estima que as inundações afetaram mais de 4 milhões de pessoas em 14 países.

Eventos de chuva extrema não são comuns no Saara. Segundo o Severe Weather, altos níveis de precipitação no local são muito raros, atingindo o Saara, em média, menos de uma vez por década. "[Os eventos de chuva na região] são geralmente um sinal de que talvez algo esteja mudando no sistema climático da Terra, indicando um estado incomum da atmosfera", indica o portal.

Saara tem mais de 9 milhões de quilômetros quadrados. Toda a extensão do deserto é marcada por clima quente e seco. O Saara está localizado sob uma crista subtropical, um sistema permanente de alta pressão. A presença da crista faz com que o ar desça, o que torna a atmosfera seca e estável e evita a formação de nuvens e, consequentemente, de chuvas.

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