Falta de mão de obra qualificada é desafio para energia solar no Brasil

Com o crescimento da demanda para instalação de painéis de energia solar, o Brasil começa a enfrentar um desafio que já causa problemas nos EUA: a falta de mão de obra qualificada.

A energia solar fotovoltaica, junto com a eólica, é a fonte de energia renovável que mais cresce no Brasil. Em 2023, 93,1 % da eletricidade gerada veio de fontes renováveis, dos quais 16,5% são de geração solar, atrás apenas da geração hidrelétrica. De acordo com a Absolar (Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica), a participação da energia solar já está em 19,4% da matriz elétrica brasileira.

"Apesar do crescimento acelerado, falta gente, e o mercado se sustenta em grande parte com a mão de obra proveniente de outras áreas", diz Bruno Chavarry, diretor da Sunfor, empresa especializada em instalações solares.

O problema de depender de profissionais de outros setores é que a empresa precisa adaptar a forma que eles trabalham para que seja adequada ao mercado de energia.

O departamento de recursos humanos da companhia "sofre constantemente" para achar profissionais e, muitas vezes, busca prefeituras, balcões de empregos e, eventualmente, até usa carros de som para encontrar trabalhadores. Como é preciso dar treinamento, um dos critérios que a empresa usa é a "vontade de aprender do candidato".

No Brasil há dois tipos de geração de energia solar: quando se trata de uma usina, em grandes terrenos, que recebem milhares de painéis ou quando acontece em casas, edifícios comerciais que mandam instalar alguns paineis no telhado ou em uma área pequena.

Segundo Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar, cerca de dois terços da solar no Brasil são deste segundo tipo.

Ele afirma que a instalação em telhados de casas e comércios não chega a ser uma obra difícil, mas que é preciso contratar pessoas que saibam executar. As empresas especializadas nisso são chamadas de integradoras, e, segundo ele, há cerca de 20 mil no Brasil.

Nesse segmento, o maior problema é que os telhados são muito diferentes. "Para quem sabe fazer (a instalação) não é algo complexo", afirma.

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A situação muda bastante quando são as "fazendas" de energia solar. Nesse mercado, o negócio funciona da seguinte forma: uma companhia, geralmente com financiamento de um fundo, decide estruturar uma usina para vender a energia. Na prática, quem vai fazer a construção mesmo será uma segunda empresa, que nesse mercado é chamada de EPC (a sigla significa engenharia, compras e construção) -no jargão do setor, são as empresas "epecistas", como a Sunfor.

Um outro problema do setor é a rotatividade, diz Elvis Albarello, diretor-executivo da unidade de EPC da empresa A. Dias. A companhia começou a oferecer serviços de "epecista" em 2023 e, de lá para cá, trabalhou com 19 empreendimentos.

As obras demoram de 4 a 6 meses e, geralmente, há uma rotatividade de 100% da equipe -ou seja, se são necessários 25 profissionais para uma obra, durante o período de construção, uma parte das pessoas vai abandonar o projeto e, grosso modo, 50 pessoas vão ter passado pelo canteiro.

Segundo o executivo, há pelo menos uma hora de treinamento por dia (ele inclui nessa conta as orientações de segurança).

Chavarry, da Sunfor, diz que tenta manter a mesma equipe contratada, porque são profissionais que já vão conhecer os processos de trabalho da empresa.

O maior problema, segundo ele, é a falta de montadores fotovoltaicos, ou seja, o profissional que vai fixar as estruturas dos sistemas fotovoltaicos.

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"O número ainda é muito reduzido, e as grandes usinas de geração centralizada acabam absorvendo a maioria desses profissionais, o que gera um déficit para outros projetos menores".

Nos EUA, a instalação de painéis em "fazendas" de energia solar pode começar a ser feita por robôs. A empresa AES, do setor de energia renovável, está testando maquinário para prescindir de trabalhadores para a construção de usinas solares na tentativa de resolver o problema da falta de mão de obra.

Chavarry e Albarello afirmam que até existe alguma automação no setor, mas que isso está longe de ser comparável à robotização de setores como o das montadoras, por exemplo.

A A. Dias tem um drone que o próprio Albarello opera, mas só quando a "fazenda" solar está pronta: "O drone tem uma câmera térmica que consegue identificar as placas que estão com aquecimento além do normal, o que pode identificar que a célula pode estar danificada". A manutenção ou substituição de uma eventual placa com problemas acontece manualmente.

Koloszuk, da Absolar, afirma que uma robotização do setor só vai ganhar impulso quando isso representar uma queda de custo. "Mas não vejo isso no curto horizonte", diz ele.

Por ora, os custos estão caindo em uma outra parte do negócio. As "epecistas" também são as responsáveis por comprar os equipamentos. Elvis Albarello, da A. Dias, diz que a soma dos custos dos materiais representa cerca de 70% do total de uma obra, e os 30% restantes são os pagamentos de salários.

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Jovanio Santos, diretor de Novos Negócios da consultoria Thymos Energia, diz que a tendência é que os custos de materiais e equipamentos é de barateamento devido à "evolução tecnológica e ganho da escala na China, que expandiu a capacidade de produção das placas e tem conseguido atender demanda internacional".

Ainda que haja problemas de falta de mão de obra especializada no Brasil, a situação é bem menos do que em outros países, afirma Santos.

"Nós já temos uma matriz com muita energia renovável. Em países europeus que precisam descarbonizar 'a jato' para alcançar as metas do Acordo de Paris existe uma corrida para colocar parques renováveis em funcionamento e por isso falta muito mais mão de obra qualificada."

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