Concentração de CO2 na atmosfera bate recorde em 2023

A concentração de dióxido de carbono (CO2), um dos gases causadores do efeito estufa, na atmosfera da Terra atingiu em 2023 o nível mais alto já medido na história da humanidade, com 420 partes por milhão (ppm), o que significa um aumento de 151% em relação à era pré-industrial.

Os dados foram divulgados pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) nesta segunda-feira (28), a menos de 15 dias do início da COP29, em Baku, e mostram que, apesar das promessas de redução feitas pela maioria dos países, as emissões de carbono continuam crescendo.

De acordo com a OMM, entre as principais causas do aumento estão incêndios florestais, as elevadas emissões de CO2 por atividades humanas e a redução da absorção de dióxido de carbono em florestas.

A última vez que a Terra teve uma concentração tão alta de CO2 foi entre 2 milhões e 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura média global era entre 2º e 3ºC superior aos patamares atuais, e o nível dos mares era de 10 a 20 metros mais elevado.

Em 2022, a concentração de dióxido de carbono era de 417,9 ppm; em 2021, de 415,7 ppm. Nos últimos 20 anos, segundo a organização, o nível de dióxido de carbono aumentou 11,4%, ritmo de crescimento mais elevado na história da humanidade.

Ainda de acordo com a OMM, a concentração do metano, outro gás causador do efeito estufa, atingiu 1934 partes por bilhão (ppb) em 2023, alta de 265% em relação aos níveis pré-industriais, enquanto a de dióxido de nitrogênio chegou a 336,9 ppb (+125%).

Outro ano, outro recorde. Isso deveria ligar o alarme em todas as instâncias decisórias. Não há dúvidas de que estamos muito longe de cumprir o objetivo do Acordo de Paris de manter o aquecimento global muito abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. Não são meras estatísticas. Cada parte por milhão e cada fração de grau de incremento da temperatura comportam consequências reais para nossas vidas e nosso planeta. Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.

As análises de dados do órgão estimam que pouco menos da metade das emissões de CO2 permanece na atmosfera, pouco mais de um quarto é absorvida pelos oceanos e menos de 30% pelos ecossistemas terrestres - embora isso possa variar anualmente por causa de fenômenos naturais como El Niño e La Niña.

Negociações se aproximam

Aprovado por 195 países, o Acordo de Paris tem a meta de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C, e de preferência evitar que esse aumento ultrapasse 1,5°C. Para isso, os países precisam promover grande cortes nas emissões de efeito estufa. Um aquecimento maior do que o previsto no acordo coloca em riscos diversos ecossistemas e pode provocar um colapso no planeta.

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Com a próxima rodada de negociações a ser realizada na COP29 se aproximando, a ONU também divulgou que as NDCs (contribuições nacionalmente determinadas) já apresentadas pelos países são suficientes para reduzir as emissões globais em 2,6% nesta década em comparação com o nível de 2019. Cientistas, porém, estimam que um corte de 43% nas emissões até 2030 é necessário para alcançar as metas do Acordo de Paris.

As conclusões do boletim divulgado nesta segunda-feira foram consideradas um "momento de virada" por Simon Stiell, secretário-geral da UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima).

Os NDCs são compromissos assumidos pelos países para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O Brasil se comprometeu a reduzir as emissões em 48% até 2025 e em 53% até 2030, em relação aos níveis de 2005.

"Os atuais planos climáticos nacionais estão muito aquém do que é necessário para impedir que o aquecimento global prejudique todas as economias e destrua bilhões de vidas e meios de subsistência em todos os países", disse ele.

Para Stiell, as novas NDCs devem divulgar um caminho claro para evitar que isso aconteça. O estabelecimento de metas mais ambiciosas depende do que ocorrerá na COP29, onde cerca de 200 países irão discutir um novo sistema global de comércio de emissões e um aporte financeiro anual de 100 bilhões de dólares (R$ 570 bilhões) para ajudar os países em desenvolvimento a atingirem suas metas climáticas.

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