Txai Suruí é detida por seguranças da ONU na COP16: "Fiquei assustada"

A ativista indígena Txai Suruí foi detida nesta quarta-feira (30) na COP16 da Biodiversidade da ONU após protestar com cartazes contra o marco temporal.

A manifestação liderada por Txai buscava fazer eco aos protestos em Brasília contra a PEC 48, que busca instituir o marco temporal das terras indígenas.

Seguranças da ONU abordaram o grupo e informaram que não poderiam seguir com a manifestação. De acordo com Txai Suruí, todos entregaram os cartazes sem resistência, mas uma das oficiais da ONU a puxou pelo braço com força.

"Ela me pegou pelo braço e minhas mãos estão pintadas com tinta, que simboliza nosso sangue. E ela falou: você me sujou. Aí torceu meu braço. Foi quando comecei a gritar por socorro. Fiquei assustada, não esperava", contou Txai à reportagem.

Momento da abordagem a Txai Suruí em Cali
Momento da abordagem a Txai Suruí em Cali Imagem: Foto cedida por Diogo Hungria

Ainda segundo Txai, os crachás de credenciamento dela e de outros ativistas foram arrancados pelos policiais, que os detiveram e levaram para uma sala da segurança da COP.

"Foi desproporcional", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre o uso da força policial da ONU contra a ativista.

Apesar de os ativistas brasileiros terem pedido uma autorização à ONU para o ato, a resposta não chegou a tempo e eles decidiram manter a manifestação, limitada ao pronunciamento de discursos e exibição de cartazes em uma área de circulação de negociadores e ministros da COP.

"O episódio cria problemas não só nesta COP, mas em COPs futuras", avalia Marina Silva, que tem à frente a missão de preparar a COP30 do Clima da ONU, prevista para acontecer em Belém no final de 2025.

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A reportagem apurou que o chefe de segurança de eventos da ONU responsável pela COP16 da Biodiversidade em Cali, Dario Conte, está previsto para liderar a segurança na COP30.

Nós obviamente tomamos esse episódio como um sinal para que tenhamos todos os cuidados, porque vamos ter uma COP em Belém com centenas de milhares de populações indígenas e de outros movimentos fazendo manifestações. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente

De acordo com membros do governo brasileiro, a organização da COP30 precisará adaptar a segurança a um contexto democrático, após uma sequência de conferências do clima realizadas em países sob governos autoritários, como é o caso das três últimas edições, ocorridas no Egito (2022), nos Emirados Árabes (2023) e no Azerbaijão (no próximo novembro).

O que a segurança da ONU não esperava é que os ativistas seriam socorridos pelos chefes da delegação brasileira. Avisadas, a ministra Marina Silva e a negociadora-chefe do Brasil na COP16, Maria Angélica Ikeda, foram à sala de segurança e intercederam pelos ativistas, que recuperaram seu credenciamento e receberam pedidos de desculpas do secretariado da COP.

Secretária responsável pela relação da COP16 com os participantes, Chantal Robichaud desculpou-se pela ação da segurança e ofereceu aos ativistas a opção de fazer um novo protesto no dia seguinte. A secretaria da COP também afirmou ao governo brasileiro que deve registrar em plenário um pedido formal de desculpas pelo ocorrido.

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