Por que a Vivo antecipou a meta net zero em cinco anos
Marina Filippe
Colaboração para Ecoa, de São Paulo
15/11/2024 05h30
A Vivo, marca comercial da Telefônica Brasil, pretende ser net zero - isto é, ter zero emissões líquidas de carbono por meio de redução e compensação - até 2035. Com essa meta, a Vivo adianta em cinco anos o prazo anunciado anteriormente e se coloca à frente de grande parte das empresas, que têm metas semelhantes para 2050. "Com tudo que estamos vivendo em relação às mudanças climáticas, 2040 é muito tarde. São muitas as iniciativas e os esforços que nos fazem acreditar na antecipação", diz Joanes Ribas, diretora de sustentabilidade da Vivo em entrevista ao UOL Ecoa.
Caso tudo dê certo, esta não será a primeira vez que a Vivo irá cumprir uma meta de sustentabilidade antes do previsto. Em 2018, a companhia atingiu o uso de energia renovável em 100% da operação 12 anos antes do previsto, e passou os anos seguintes focada em práticas de redução do escopo 1 e 2, relativos às emissões diretas. "O nosso desafio é continuar mitigando as emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE) ao mesmo tempo em que expandimos e trabalhamos novas tecnologias como o 5G. É um esforço de acompanhamento e melhoria constante", diz Ribas.
A companhia, que é carbono neutro desde 2019, emite atualmente 90% menos GEE se comparado à 2016. O resultado se dá a partir de práticas como mudança na matriz energética, incluindo projetos de geração distribuída em 69 usinas das mais variadas fontes; modernização dos equipamentos para que sejam utilizadas versões menos emissoras; frotas renovadas, com 5 mil veículos movidos à etanol; duzentos carros elétricos; entre outros. "As mudanças só foram possíveis porque todas as áreas da empresa entenderam a importância do tema como estratégia de negócios da companhia. Nem sempre ter frotas e equipamentos renovados é a opção mais econômica, mas é o certo a ser feito".
Cadeia de fornecedores
A partir de 2021, quando a Vivo havia reduzido 76% das emissões no escopo 1 e 2, foi percebida a necessidade de ampliar as iniciativas de redução no escopo 3, relativas às emissões indiretas, como na operação dos fornecedores. O primeiro passo foi mapear quais eram aqueles com operação mais intensiva em carbono. No processo, a companhia entendeu que 125 dos 1232 fornecedores eram responsáveis por 85% do total das emissões de GEE.
Para mudar o cenário, a Vivo contratou uma consultoria para atuar diretamente nessas empresas. "O papel da consultoria é engajar, iniciar o inventário de emissões, desenhar um plano de ação e definir metas. Nosso objetivo é que o fornecedor, sem custo, passe a trabalhar com iniciativas de redução das emissões, não apenas para atender aos critérios da Vivo, mas para de fato se comprometer com o clima e, possivelmente, assumir metas públicas", explica Ribas.
Para se ter ideia do avanço, em 2022, apenas 30% deles tinham inventário de emissões. Hoje, são 70%. "Os fornecedores passam a entender que eles ganham muito ao promover boas práticas, inclusive em processos de concorrência para trabalhar com outras empresas". Para Ribas, no cenário ideal todos os fornecedores passarão por esse processo, considerando o desafio do movimento constante de encerramento e assinatura de novos contratos, e a maior parte deles se comprometerá com organizações como a Science Based Targets (SBTi), de metas públicas para o atingimento do net zero. "É um trabalho constante de conscientização. As grandes empresas já tinham alguma ideia dos impactos ambientais, mas parte delas, especialmente as que são pequenas e médias, não".
Para o 2025, a Vivo espera realizar um evento de reconhecimento para as companhias que estão migrando de maturidade no tema e para aquelas que estão iniciando. "É uma forma de impulsionar a ação e mostrar que estamos acompanhando os indicadores para alcançar o objetivo de emissões líquidas zero, em todos os escopos, em 2035".
Próximos passos
De acordo com Ribas, os resultados são possíveis especialmente pela estruturação das metas desde 2015, quando a companhia foi influenciada pela assinatura do Acordo de Paris, que visa evitar o aquecimento global em 1.5ºC ou mais. Outro fator é o acompanhamento do tema em dois comitês de sustentabilidade, sendo um deles com gestores e o CEO, e outro com o conselho de administração, além da vinculação das metas aos bônus desde 2019.
Neste momento, o plano estratégico tem 120 indicadores acompanhados pelo conselho local e global. Entre as ambições está ampliar as práticas de economia circular com a maior participação dos consumidores. "Coletamos 150 toneladas de equipamentos e itens eletrônicos que seriam descartados em 17 anos. Agora, queremos coletar outras 225 toneladas até 2035", diz Ribas.
Para isto, a Vivo disponibiliza pontos de coleta em 1.800 lojas, treina os funcionários para abordar o tema e prevê novas estratégias de estímulo aos consumidores. "Queremos mostrar que cabos, conectores e até capas de smartphones que ficam guardadas em casa ou são jogadas no lixo têm um enorme impacto no meio ambiente. Hoje temos campanhas nos canais de comunicação, nas ações em escolas e nos eventos em que patrocinamos, mas entendemos que é possível fazer mais e estamos trabalhando para isto", afirma Ribas.
Ainda na frente ambiental, a companhia olha para florestas devido aos 10% de emissões atualmente compensadas. "Trabalhamos com 80% de crédito em proteção de florestas e 20% em regeneração". A intenção agora é ampliar os investimentos em regeneração de diferentes biomas.
Para outras frentes de trabalho, como diversidade e inclusão, a empresa quer ampliar para 40% o número de mulheres em posição de alta liderança e para 45% em posições de liderança, até 2035. No pilar de equidade racial, a intenção é ter 40% pessoas negras em cargos de liderança, com 45% no quadro de colaboradores em 2035. Atualmente, 42,1% de colaboradores da Vivo são negros, sendo que 33,1% estão em cargos de liderança. Há ainda grupos de diversidade de LGBTI+ e pessoas com deficiência.