COP29: países menos desenvolvidos criticam acordo, enquanto UE comemora
O acordo alcançado na COP29, que estabelece US$ 300 bilhões (R$ 1,7 trilhão) anuais de financiamento climático para os países menos desenvolvidos "não é ambicioso", criticou o representante do bloco dos 45 países com menor renda.
"Este objetivo não é o que esperávamos conseguir. Depois de anos de discussões, não é ambicioso para nós", disse Evans Njewa, diplomata do Malauí e chefe do bloco de Países Menos Desenvolvidos.
Por outro lado, a União Europeia comemorou o acordo alcançado entre cerca de 200 países na COP29, no Azerbaijão, como "o início de uma nova era" no financiamento climático dos países em desenvolvimento.
"A COP29 será lembrada como o início de uma nova era para as finanças climáticas", disse o comissário da UE para o Clima, Wopke Hoekstra.
Os US$ 300 bilhões serão destinados a países em desenvolvimento que precisam de recursos para abandonar o uso de carvão, petróleo e gás, os principais responsáveis pelo aquecimento global, além de se adaptarem ao aquecimento futuro e cobrirem os danos causados por eventos climáticos extremos. Embora o valor fique aquém do US$ 1,3 trilhão solicitado por esses países, é três vezes maior do que o acordo de US$ 100 bilhões anuais firmado em 2009 e que está expirando.
O chefe do clima da ONU, Simon Stiell, disse que "não é hora pra dar uma volta da vitória" depois que as nações na COP29 no Azerbaijão concordaram com um acordo financeiro amargamente negociado.
"Nenhum país conseguiu tudo o que queria, e deixamos Baku com uma montanha de trabalho ainda a fazer. Então, não é hora para a volta da vitória", disse Stiell em uma declaração.
O projeto propõe que os países ricos contribuam com "pelo menos" US$ 300 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,7 trilhão) anuais até 2035 para que as nações em desenvolvimento façam frente às consequências das mudanças climáticas. A proposta original do país era de financiamentos de até US$ 1,3 trilhão (aproximadamente R$ 7,5 trilhões)
Outra decisão é que os países ricos poderão cumprir as metas climáticas pagando aos países da África ou da Ásia ao invés de reduzir as próprias emissões de gases de efeito estufa, após três anos de um debate espinhoso sobre o comércio de créditos de redução de emissões de carbono.
Até agora, os créditos de carbono eram usados sobretudo por empresas que queriam reduzir as emissões, a fim de se apresentarem como companhias com um balanço de emissões de carbono neutro, e o faziam em um mercado alheio à normativa internacional e marcado por muitos escândalos.
Tensão
As negociações da COP29, em Baku, se estenderam pelo segundo dia extra neste sábado. No começo da tarde, no horário local, discordâncias sobre o financiamento climático levaram delegações de nações insulares e países em desenvolvimento a abandonarem negociações, acusando falta de inclusão. As conversas foram interrompidas.
Em coletiva de imprensa no início da noite (hora local), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou que a COP30, a ser realizada em Belém em 2025, precisa ser um marco de solidariedade entre países. Durante o encerramento da COP29, em Baku, ela reconheceu os desafios da presidência brasileira e afirmou que o foco será apresentar metas climáticas ambiciosas para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
Em referência à dificuldade para o acordo do financiamento climático, Marina reforçou a urgência de cooperação: "É fundamental resgatar o sentido de solidariedade para enfrentar essa emergência." O Brasil se comprometeu a mediar diferenças e a fortalecer o diálogo para avançar na agenda climática global, em meio às expectativas para Belém.
Entre os resultados da COP29, foi aprovado o mercado de carbono, permitindo a compra e venda de créditos de emissões. Contudo, o mecanismo é criticado por ambientalistas, que o consideram uma licença para poluir.
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