'Do Pasto ao Prato': aplicativo rastreia origem da carne bovina
De onde vem a carne que chega ao nosso prato? O que pode ser apenas curiosidade para algumas pessoas é assunto sério para os criadores do aplicativo "Do Pasto ao Prato".
Em funcionamento há dois anos, a ferramenta oferece informações para um consumo consciente da proteína animal disponível no mercado brasileiro. É possível saber se o alimento está relacionado ao trabalho análogo à escravidão, desmatamento, incêndios e a multas por inspeção sanitária. Os resultados mostram, por exemplo, que os maiores consumidores da carne produzida na Amazônia estão no estado de São Paulo. Além disso, um terço desse gado amazônico é abatido sem compromisso com a sustentabilidade.
Por enquanto, o aplicativo conta com 6.600 usuários e cerca de 24 mil produtos cadastrados em 27 estados. Coordenadora de Impacto da iniciativa, Dari Santos explica que o "Do Pasto ao Prato" é fruto de uma parceria entre a UCLouvain, o Stockholm Environment Institute e a Global Canopy, todas instituições não governamentais internacionais. Juntas, elas desenvolveram uma plataforma que conecta dados de municípios onde os animais foram criados, bem como de seus revendedores.
Todo o fluxo da cadeia percorrida pelo gado é verificada - começando nas fazendas de cria, recria e engorda, passando pelos frigoríficos e supermercados, até chegar ao consumidor final. As informações são cruzadas com dados públicos sobre multas pagas pelos frigoríficos por descumprir normas sanitárias ou de bem-estar animal, trabalho em condições análogas à escravidão nas fazendas criadoras e ao desmatamento de biomas nessas regiões.
"Já vínhamos pensando no impacto da pecuária para a exportação e vimos a necessidade de abordar o mercado doméstico, responsável hoje por mais de 70% do consumo da carne bovina no Brasil", observa Dari.
Como usar a ferramenta
A coordenadora de Impacto salienta que a ideia é que o consumidor utilize a ferramenta em seu celular ainda dentro do supermercado. É preciso inserir no aplicativo o número do selo de inspeção da peça de carne (que pode ser um selo municipal, estadual ou federal) ou o CNPJ do frigorífico. Essas informações devem estar disponíveis na embalagem do produto. Há também a opção de digitalizar o rótulo.
Em seguida, o usuário seleciona o tipo de carne e o comércio onde a peça está disponível. A medida conecta, então, informações do varejista ao frigorífico onde a carne foi comprada. O consumidor recebe em seguida uma devolutiva simplificada informando indicadores ambientais, sociais e sanitários relativos à produção da peça. A devolutiva também indica se o frigorífico tem ou não compromisso de sustentabilidade. "Os frigoríficos são ranqueados de acordo com o porte deles e a fiscalização que receberam", acrescenta Dari.
Caso o usuário não encontre o frigorífico envolvido, a orientação é solicitar ao suporte do aplicativo a inclusão do código de inspeção sanitária disponível na embalagem do produto. Nas situações em que a carne for adquirida via balcão do açougue, o consumidor tem o direito de solicitar o selo de inspeção da peça.
Carne que cruza o país
Rastrear as informações sobre a carne bovina disponível nos supermercados permite conhecer, entre outros dados, qual foi a maior distância percorrida pelo produto no Brasil. "A carne que mais viajou saiu do Rio Grande do Sul e foi parar no Acre. Foram mais de 5 mil km rodados", comenta Dari, ao pontuar que esse foi o caso de um produto considerado premium.
Em média, o deslocamento da carne bovina no país é de cerca de 1.600 km entre o município de localização do frigorífico e do varejista - um dado importante para o cálculo das emissões de carbono da atividade.
Para Dari, ao abrir as informações envolvendo a produção e comercialização da carne bovina, o "Do Pasto ao Prato" ajuda a tornar a pecuária mais transparente para o consumidor brasileiro. Ela destaca que, como os dados disponíveis na plataforma dependem da participação dos usuários, os registros devem crescer ainda mais. Além do produto escaneado, é possível consultar informações sobre todos os produtos já digitalizados.
Esses dados podem ajudar a subsidiar pesquisas acadêmicas sobre segurança alimentar e mudanças climáticas e campanhas por mudanças nas políticas de compras das empresas, bem como políticas públicas. "Nosso maior desejo é que haja uma mudança na postura dos supermercados em relação aos frigoríficos. O consumidor está mudando e precisamos mudar também a outra parte da cadeia", define a coordenadora.
Ela assinala que há estudos para ampliar a iniciativa para o rastreamento de carne suína e de frango. Mais informações podem ser encontradas no site do aplicativo.
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