Mundo registrou 41 dias a mais de calor extremo em 2024

De pequenas ilhas no oceano Índico, como Mayotte, aos países ricos do Golfo, passando por cidades europeias e os subúrbios superlotados da África, nenhuma região escapou aos impactos das catástrofes naturais intensificadas pelo aquecimento global em 2024.

O ano mais quente já registrado, 2024, bateu recordes de temperatura, tanto na atmosfera como na superfície do mar. Este calor reforçou ciclones, ondas de calor e outros fenômenos meteorológicos em todo o mundo.

Segundo a rede de cientistas WWA (World Weather Attribution), referência em estudos sobre a influência da mudança climática em desastres naturais, quase todas as grandes catástrofes analisadas nos últimos 12 meses foram agravadas pelas consequências das emissões de gases de efeito estufa pela atividade humana.

Os impactos do aquecimento causado pelos combustíveis fósseis nunca foram tão claros ou tão devastadores como em 2024. Vivemos uma nova era perigosa. Friederike Otto, diretora da WWA

Ondas de calor mortal

O calor extremo, responsável por um impacto mortal, expôs a população mundial, em média, a 41 dias a mais de temperaturas extremas em 2024, de acordo com dados da WWA e da Climate Central. Em algumas regiões próximas ao Equador, como pequenos estados insulares em desenvolvimento, esse número ultrapassou 150 dias extras.

Na Arábia Saudita, temperaturas de 51,8°C causaram a morte de mais de 1.300 peregrinos durante o hajj. No México, a intensidade do calor matou dezenas de macacos bugios, enquanto no Paquistão, milhões de crianças ficaram em casa devido a temperaturas superiores a 50°C. O calor também obrigou o fechamento da Acrópole, na Grécia, durante um verão recorde na Europa.

Inundações e furacões

Uma foto tirada em Picanya, perto de Valência, leste da Espanha, em 30 de outubro de 2024, mostra carros empilhados em uma rua após enchentes
Uma foto tirada em Picanya, perto de Valência, leste da Espanha, em 30 de outubro de 2024, mostra carros empilhados em uma rua após enchentes Imagem: JOSE JORDAN/AFP
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O aquecimento dos oceanos intensificou ciclones e inundações. Em abril, os Emirados Árabes Unidos enfrentaram um volume de chuva equivalente a dois anos em apenas um dia, paralisando o aeroporto de Dubai. Na África Ocidental, enchentes históricas deixaram 1.500 mortos e quatro milhões de pessoas necessitando de ajuda humanitária.

No Brasil, o Rio Grande do Sul foi palco de uma tragédia climática histórica em 2024. Chuvas torrenciais, amplificadas pelas mudanças climáticas, causaram enchentes devastadoras, afetando milhares de famílias, destruindo infraestrutura e causando 182 mortes. Cidades inteiras ficaram submersas, enquanto deslizamentos de terra agravaram a situação.

Nos Estados Unidos, furacões como Milton, Beryl e Helene causaram destruição no sul do país e no Caribe. No Pacífico, supertufões devastaram as Filipinas, enquanto o ciclone Chido, no Oceano Índico, afetou Mayotte e Moçambique, com intensidade amplificada pelo clima em transformação.

Secas e incêndios

Vista aérea mostra casas flutuantes e barcos sobre o leito seco do rio Tarumã-Açu, afluente do rio Negro, próximo a Manaus
Vista aérea mostra casas flutuantes e barcos sobre o leito seco do rio Tarumã-Açu, afluente do rio Negro, próximo a Manaus Imagem: Bruno Kelly - 16.out.2024/Reuters

Enquanto algumas regiões enfrentaram chuvas excessivas, outras sofreram com secas severas. No Brasil, a Amazônia registrou uma seca histórica, com o fogo destruindo dez vezes mais floresta do que o desmatamento. Em 2024, mais de 29 milhões de hectares de terra foram queimados no país, uma área maior que o estado de São Paulo.

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Nos países do sul da África, a falta de chuva colocou 26 milhões de pessoas em risco de insegurança alimentar. Na América do Norte, incêndios florestais devastaram o Canadá e o oeste dos Estados Unidos, enquanto na Amazônia, uma das regiões mais úmidas do mundo, o fogo avançou sobre biomas inteiros.

Custos

Os eventos climáticos extremos em 2024 resultaram em milhares de mortes e perdas econômicas devastadoras. Segundo a Swiss Re, as catástrofes geraram prejuízos de US$ 310 bilhões (R$ 1,91 trilhão). Nos Estados Unidos, os danos superaram US$ 1 bilhão, enquanto, no Brasil, a seca reduziu em US$ 2,7 bilhões o setor agrícola entre junho e agosto.

Estudos apontam que 26 dos 29 eventos climáticos extremos analisados em 2024 foram claramente associados às mudanças climáticas causadas pelo ser humano. A queima de combustíveis fósseis continua a elevar as temperaturas globais, aproximando o planeta de superar o limite de 1,5°C fixado pelo Acordo de Paris.

Jennifer Francis, cientista climática do Woodwell Climate Research Center, que não participou da pesquisa, endossou os resultados. "O clima extremo continuará a se tornar mais frequente, intenso, destrutivo, caro e mortal até que sejamos capazes de diminuir a concentração de gases que levam ao aquecimento da atmosfera", afirmou à agência de notícias AP.

Alerta semelhante foi feito pelas Nações Unidas em um ano que registrou aumento das emissões de dióxido de carbono oriundas da queima de combustível fósseis.

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*Com informações de AFP e DW

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