O que incêndios florestais na Califórnia têm a ver com mudanças climáticas?
Os incêndios florestais que devastam partes da Califórnia desde terça-feira (7) são alguns dos piores que o estado americano já viu, deixando dez mortos até o momento. Os fogos são alimentados por uma série de fatores, mas as mudanças climáticas também desempenham importante papel no agravamento de condições que os provocam nas últimas décadas.
Cinco incêndios florestais queimam ao mesmo tempo a Califórnia neste momento. São eles os Palisades, Eaton, Hurst, Woodley e Lidia, distribuídos pelos condados de Ventura e Los Angeles, segundo autoridades americanas.
Fenômeno que é parte do ciclo natural da Terra nesta região se tornou maior, mais intenso, destrutivo e frequente nas últimas décadas. Os principais fatores relacionados à piora do quadro são a urbanização rápida da região, com o consequente aumento na produção de poluentes no ar —causando um efeito estufa potencializado, com tempo bem quente e seco— e a diminuição da área verde e úmida graças à construção de imóveis.
As árvores são cada vez mais afetadas por pragas que se proliferam em tempo quente e seco, morrem e viram combustível para as chamas nos entornos das cidades. Mudanças climáticas foram amplificadas por humanos e "produziram condições [meteorológicas] mais quentes e áridas que prolongam as secas e estressam a vegetação florestal facilitando o surto de pestes que matam árvores, levando à acumulação de 'combustível de superfície", apontou a 5ª Avaliação Nacional Climática, com resultado de 14 agências federais americanas, publicado em novembro de 2023.
Alterações das estações do ano estão mexendo com o calendário da temporada de incêndios. Temperaturas altas, ar mais seco e mudanças no ciclo de chuvas estão não só aumentando a frequência dos incêndios, mas provocando-os fora de época. É o caso dos incêndios atuais, que acontecem no inverno. Fenômenos como este são esperados para o fim da primavera, durante todo o verão e, ocasionalmente, no início do outono, segundo o NOAA (National Wildfire Coordinating Group e a National Oceanic e Atmospheric Administration), agência meteorológica do governo federal americano.
Faíscas seriam "humanas". Cerca de 85% dos incêndios florestais iniciam-se por ação humana e, em sua maioria, acidental, estima o Serviço Florestal dos EUA. Fogueiras em acampamentos, por exemplo, são levadas em consideração nestes números, mas o principal estopim destes 85% pode ser justamente o contato da vegetação seca com fios elétricos das cidades.
Aumento da incidência de eventos atmosféricos extremos também piora a situação. No caso dos incêndios atuais, os ventos de Santa Ana, extremamente poderosos, atingindo até 160 km/h, combinados à baixa umidade, levaram ao espalhamento rápido das chamas, em um ritmo difícil de conter.
Ventos estão mais rápidos. Uma reportagem da Associated Press apontou que velocidades dos ventos de Santa Ana registrados atualmente são maiores do que o de costume. A especialista em incêndios florestais da Universidade do Colorado, Jennifer Balch, estudou 60 mil incêndios desde 2001 e publicou em dezembro de 2024 um artigo na revista Science em que explica que os incêndios estão se tornando progressivamente mais rápidos.
Os incêndios se tornaram mais velozes. O grande culpado que suspeitamos é o aquecimento global que está tornando mais fácil queimar combustíveis quando as condições certas ocorrem. Jennifer Balch, especialista em incêndios florestais, à AP
Jatos também estão mudando: os ventos de Santa Ana são típicos do outono, mas cada vez mais têm ocorrido no inverno. Além disso, eles estão mudando a geografia dos incêndios, já que os jatos que frequentemente atingem montanhas se mudaram para vales, onde estão as áreas urbanas e habitadas. "E é onde há mais fontes potenciais de ignição", lamentou o pesquisador climático Daniel Swain da Universidade da Califórnia em Los Angeles nas redes sociais.
Avocados, abacates e limões também são vítimas. A Califórnia, em especial o condado de Ventura, tem algumas das maiores produções do país destas lavouras, mas, em 2017, uma reportagem do jornal The New York Times apontou que elas são justamente as mais afetadas por incêndios florestais, por serem plantadas nas encostas e deixarem folhas ou raízes no chão que servem de combustível para as chamas. Apesar de não terem sido consideradas diretamente responsáveis pelas tragédias daquele ano, as plantações foram bastante afetadas, com fazendas perdendo até 80% da produção.
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