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Aos 80, ativista russa é perseguida por Putin na Rússia, mas ganha Nobel da Paz

Ativista russa de 80 anos segue em defesa dos DH apesar da repressão -
Ativista russa de 80 anos segue em defesa dos DH apesar da repressão

27/01/2023 17h18

A ONG Memorial, cofundada por ela e que ganhou o Nobel da Paz, foi fechada, e muitos de seus colegas fugiram da Rússia por medo de serem presos pelo presidente Vladimir Putin. Apesar disso, aos 80 anos, Svetlana Gannuchkina continua em Moscou, defendendo os direitos humanos.

Essa importante ativista russa participava de uma conferência no exterior, quando Putin enviou tropas para a Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado. Enquanto muitos compatriotas que se opunham à guerra decidiram deixar seu país, Gannushkina voltou para casa para intensificar suas décadas de trabalho pelos refugiados.

Em Moscou, foi detida brevemente, após um protesto contra a guerra e enfrenta crescentes problemas legais, mas não se intimidou.

"O que puder fazer para ajudar as pessoas, incluindo as pessoas na Ucrânia, estando do lado do bem e fazendo algo que possa ter ao menos algum impacto... Isso me permite viver", disse Gannushkina à AFP nos arredores da capital americana, Washington, D.C., onde esteve recentemente para visitar familiares.

A ONG Memorial, um pilar histórico da sociedade civil russa, cujo braço de direitos humanos Gannushkina ajudou a fundar em 1992, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2022 junto com ativistas ucranianos e bielorrussos.

O governo de Vladimir Putin fechou a organização em 2021, enquanto Gannushkina foi classificada como "agente estrangeiro", um termo visto como um instrumento para silenciar os críticos.

Apesar disso, a rede do Memorial continua funcionando.

Desde o início da guerra, há quase um ano, Gannushkina e seus colegas ajudaram cerca de 22.000 refugiados ucranianos em toda a Rússia.

Exaustos e traumatizados, alguns fazem fila em frente ao Comitê de Assistência Cívica de Moscou, uma associação dirigida por Gannuchkina. Chegam em busca de assistência jurídica e econômica e de uma escuta atenta.

'Não pode haver perdão'

"Suas histórias são horríveis. Veio uma mulher [de Mariupol, no sul da Ucrânia, cidade sitiada durante meses pelas forças russas] que viu sua mãe e a filha morrerem diante de seus olhos. Como ela consegue continuar vivendo?", pergunta Gannushkina.

"Não pode haver perdão", acrescenta, sobre a invasão russa da Ucrânia.

"Isso vai permanecer na história russa, uma parte vergonhosa da história russa, e nada ajudará", completa.

Embora ela peça aos países ocidentais que ajudem a Ucrânia, Gannuchkina também pede para que não se esqueçam das pessoas ameaçadas na Rússia.

Convidada pelas embaixadas ocidentais em Moscou para celebrar o Nobel do Memorial, a ativista solicitou a esses países que acolham as pessoas ajudadas por ela, incluindo as pessoas LGBT+ perseguidas. Ainda não teve uma resposta concreta.

"Ninguém ligou uma única vez e disse: estamos prontos para receber uma família", lembra.

"As palavras de apoio continuam sendo apenas palavras", criticou.

Formada em matemática, Gannouchkina se envolveu na defesa dos direitos humanos no final da década de 1980, quando muitos conflitos eclodiram em um espaço soviético em ruínas, provocando ondas de refugiados. A primeira guerra na Chechênia (1994-96) confirmou sua escolha de vida.

Agora, Gannushkina está determinada a continuar trabalhando com seus colegas ucranianos.

"Pelo menos de sua perspectiva, não representamos Vladimir Putin. Somos pessoas diferentes, somos seus oponentes", ressalta Gannushkina.

"Infelizmente, porém, somos oponentes fracos", lamenta.

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