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Comer larvas e grilos está liberado na União Europeia: 'Nojo é obstáculo'

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Imagem: iStock

28/01/2023 06h00

Trocar bifes por grilos pode reduzir a emissão de gases do efeito estufa, mas convencer as pessoas a comê-los será complicado. As larvas do besouro cascudinho e os grilos domésticos tornaram-se o terceiro e quarto insetos com aval para serem vendidos como alimento em países da União Europeia (UE).

Na terça-feira, a UE deu luz verde para a venda das larvas do cascudinho em pó, congeladas, em pasta e em formas secas. Os grilos poderão ser vendidos como pó parcialmente desengordurado. As autoridades reguladoras ainda analisam pedidos para liberar o consumo de outros oito insetos.

Para muitos, a ideia de comer criaturas que se retorcem e rastejam não é exatamente atraente. Mas os insetos, já considerados uma iguaria por restaurantes de vanguarda de todo o mundo, são parte normal e saudável da dieta em diversos países, do México à Tailândia.

Eles também atraíram a atenção de pesquisadores e empresas que querem tornar a agricultura mais sustentável e alimentar a crescente população do planeta.

Cortar as emissões de carne é 'enorme desafio'

A maior parte da emissão de gases do efeito estufa no setor de alimentos, responsável por cerca de um quarto do aquecimento global, vem das carnes e dos laticínios.

Vacas e cordeiros arrotam metano, um gás com forte efeito estufa, e os fazendeiros derrubam florestas para criar pastos e cultivar soja, três quartos da qual destinam-se a alimentar animais.

Se grilos fritos e saladas de larvas substituírem alguns bifes e hambúrgueres, eles estariam ajudando a impedir a extinção de espécies e a frear a mudança climática.

"É um desafio muito grande lidar com a crescente demanda por produtos animais", diz Tim Searchinger, diretor técnico do programa de alimentação do World Resources Institute, uma organização de pesquisa ambiental dos EUA. "Temos que buscar todas as alternativas."

"Ninguém será forçado a comer insetos"

A decisão da Comissão Europeia de aprovar os dois novos insetos como alimentos não parece fazer parte de um impulso para mudar as dietas, embora ressalte que seu consumo "contribui positivamente para o meio ambiente e para a saúde e a subsistência".

O objetivo da novas normas é esclarecer que essas larvas e grilos são seguros para quem não tem alergias, e determinar que os alimentos que os contêm devem indicar isso no rótulo.

"Ninguém será obrigado a comer insetos", frisou a Comissão Europeia em um post no Twitter.

Ainda assim, a iniciativa poderia acelerar a mudança para dietas menos ambientalmente danosas. Na Alemanha, cerca da metade da população planeja reduzir o consumo de carne.

Nos Estados Unidos, as pessoas estão comendo mais carne, mas trocando a carne bovina por carnes menos poluentes como o frango. A proteína de inseto poderia oferecer uma alternativa barata, particularmente em alimentos processados.

De 35% a 60% do peso seco dos insetos é composto por proteína. O extremo inferior é mais alto do que a maioria das fontes de proteína vegetal, e o extremo superior é mais alto do que as carnes e os ovos. Os insetos são melhores do que os rebanhos para transformar as calorias que comem em calorias em seu corpo. Eles também se reproduzem e ganham peso rapidamente.

Poucos estudos tentaram estimar os danos ambientais causados pelo consumo de insetos. Uma avaliação publicada em 2021 concluiu que a produção de proteína da larva-da-farinha, cujo consumo como alimento já foi aprovado pela UE em 2021, utiliza 70% menos terra e gera 23% menos gases do efeito estufa do que a mesma quantidade de proteína de frango.

Estudos anteriores também chegaram à conclusão que os insetos são melhores para o meio ambiente do que as carnes, mas piores do que as plantas.

Nojo continua sendo 'maior obstáculo'

Ainda assim, convencer as pessoas a comer mais insetos pode ser complicado.

Três quartos dos consumidores europeus não estão dispostos a trocar as carnes por insetos e outros 13% estão indecisos, segundo um relatório de 2020 da Organização Europeia de Consumidores, uma entidade parcialmente financiada pela UE.

Na Alemanha, 80% das pessoas dizem ter nojo da ideia de comer insetos, segundo um relatório de 2022 da agência ambiental da Alemanha, a UBA.

"O nojo é considerado o maior obstáculo para a introdução de insetos no mercado de alimentos do Ocidente", escreveram os autores.

Embora as dietas ocidentais incluam alimentos associados à decomposição, como queijo gorgonzola e fungos, as pesquisas para entender se essas barreiras podem ser superadas ainda estão em estágios iniciais.

Um estudo publicado em dezembro revelou que as pessoas estavam mais dispostas a comer insetos depois de serem informadas sobre os seus benefícios ambientais.

Um outro estudo em 2020 indicou que convenções sociais alteraram o quanto as pessoas estavam dispostas a comer gafanhotos. "Como os seres humanos são uma espécie particularmente social, usar essa natureza social pode se mostrar particularmente útil", escreveram os autores.

Insetos como alternativa à ração

Outro papel para a proteína de insetos poderia ser usá-la para alimentar outros animais. Isso contornaria as normas culturais que impedem que algumas pessoas queiram comer insetos.

Se insetos como larvas de minhocas e de moscas fossem alimentados com resíduos orgânicos, esse processo poderia reciclar grandes quantidades de alimentos desperdiçados.

Mas criar insetos para alimentar outros animais acrescenta uma etapa no processo de produção de alimentos, o que significa que mais energia é perdida devido à ineficiência. Apenas algumas das calorias que o inseto come chegarão até a galinha criada com ração para insetos, e apenas algumas dessas calorias chegarão até a pessoa que comer a galinha.

Se os insetos fossem alimentados com culturas como soja ou milho, e esses insetos fossem então usados como ração para o gado, o planeta poderia ficar ainda pior do que se os animais comessem os grãos diretamente.

"O problema é que você tem que passar por duas conversões", disse Searchinger. "Há algum potencial [para alimentar os insetos com rejeitos orgânicos], mas não é, em última análise, tão eficaz quanto produzir diretamente a ração".