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Carlos Nobre: 'COP no Brasil estimularia luta por redução de desmatamento'

O cientista Carlos Nobre  - Divulgação
O cientista Carlos Nobre Imagem: Divulgação

Clarice Couto, enviada especial

Estadão Conteúdo, de Sharm El-Sheikh

16/11/2022 11h56

O climatologista Carlos Nobre, uma das maiores referências em mudanças climáticas do Brasil e que acompanhou a participação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento promovido por governadores da Amazônia Legal na 27ª Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-27), avaliou como "excelente" a ideia de realizar na Amazônia brasileira a COP-30, em 2025.

A proposta foi mencionada pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) e bem-recebida por Lula, que disse que levará a questão ao secretariado da COP.

"[A ideia de ser sede da COP] É muito boa porque faz a gente olhar para frente. Com uma COP daqui a três anos, vamos lutar muito para reduzir enormemente o desmatamento e aí o Brasil vai ser um grande líder, talvez um dos maiores do mundo", afirmou Nobre logo após o término do evento.

Nobre é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo e diretor da Amazon Third Way Initiative/Projeto Amazônia 4.0.

O pesquisador afirmou que o Brasil pode se tornar o primeiro país do mundo a atingir sua meta do Acordo de Paris - reduzir suas emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 e se tornar carbono neutro (compensando as emissões que não puderem ser evitadas) até 2050.

Diminuir o desmatamento será determinante para atingir essa meta já que, lembrou Nobre, cerca de 50% das emissões brasileiras decorrem do desmatamento, "quase todo ilegal". Já a China tem 80% de suas emissões relacionadas à queima de combustíveis fósseis.

"Se o Brasil conseguir reduzir o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, que são muito altos ainda, vai se tornar o primeiro país do mundo com altas emissões a atingir seus objetivos do Acordo de Paris. Podemos atingir a meta de 2030 antes de 2030 e a de 2050, em 2040", afirmou Nobre.

Desmatamento zero na Amazônia.

No caso do bioma amazônico, especificamente, Nobre argumenta que é preciso "zerar" o desmatamento, ainda que o Código Florestal permita que proprietários de terras desmatem 20% de suas áreas.

A medida é necessária, defende ele, porque a Amazônia está muito próxima do chamado tipping point, estágio a partir do qual o bioma não conseguirá mais se recuperar, o que trará impactos severos para a biodiversidade da região e o clima do planeta.

"Para salvar a Amazônia, que está muito próxima do tipping point, precisaremos zerar o desmatamento - em toda a Amazônia, não só a brasileira. Temos mais de 1 milhão de metros quadrados desmatados e outro 1 milhão degradado, então não tem nenhuma necessidade de desmatar mais, podemos triplicar a produção de alimentos na região sem desmatar uma única árvore", enfatizou o climatologista.