Europa é o continente que aquece mais rápido, quase o dobro da média global
A Europa é o continente de aquecimento mais acelerado, e suas temperaturas aumentam quase o dobro da velocidade média global, informaram nesta segunda-feira (22) duas das principais organizações de monitoramento climático, a OMM (Organização Meteorológica Mundial), pertencente à ONU, e o Copernicus, a agência climática da UE (União Europeia). As entidades advertiram sobre as consequências para a saúde humana, o derretimento de geleiras e a atividade econômica.
As duas organizações apontaram em relatório conjunto que o continente tem a oportunidade de desenvolver estratégias específicas para acelerar a transição para recursos renováveis, como a energia eólica, a solar e a hidrelétrica, em resposta aos efeitos da mudança climática.
"A crise do clima é o maior desafio da nossa geração. Os custos das medidas climáticas podem parecer altos, mas os da inação são muito maiores", adverte Celeste Saulo, secretária-geral da OMM .
No ano passado, o continente gerou 43% de sua eletricidade a partir de recursos renováveis, em comparação com 36% do ano anterior, afirmam as agências em seu relatório anual do Estado do Clima na Europa. Pelo segundo ano consecutivo, mais energia foi gerada na Europa a partir de fontes renováveis do que de combustíveis fósseis.
As médias dos últimos cinco anos revelam que as temperaturas atuais na Europa estão 2,3 ºC acima dos níveis pré-industriais, em comparação com o aumento global de 1,3 ºC, de acordo com o estudo. A cifra está apenas abaixo da meta estabelecida no Acordo de Paris de 2015, assinado por quase 200 países, para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC.
Ao lado de 2020, 2023 foi o ano europeu mais quente, cerca de 1ºC acima do período de referência, 1991 a 2020. Ao todo, tratou-se de um ano complexo e diversificado, resume o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo: "Em 2023, houve na Europa os maiores incêndios florestais já registrados, foi um dos anos mais úmidos, com fortes ondas de calor marinhas e inundações devastadoras em larga escala."
"A Europa registrou mais um ano de aumento nas temperaturas e de intensificação de eventos climáticos extremos, incluindo estresse térmico com temperaturas recordes, incêndios florestais, ondas de calor, perda de gelo nas geleiras e falta de neve", indicou Elisabeth Hamdouch, subdiretora de unidade para o Copernicus na comissão executiva da UE.
Relatório inclui alerta vermelho
O relatório é um complemento continental ao relatório da OMM sobre o estado do clima global, que é publicado anualmente há três décadas. A versão 2024 incluiu um "alerta vermelho" de que o mundo não está fazendo o suficiente para combater as consequências do aquecimento global.
O Copernicus informou que março foi o décimo mês consecutivo a estabelecer um recorde mensal de altas temperaturas. A temperatura média da superfície do oceano em frente à Europa alcançou seu nível mais alto em 2023, de acordo com o relatório europeu.
O relatório europeu deste ano concentra-se no impacto das altas temperaturas na saúde humana, destacando o aumento de mortes relacionadas ao calor em todo o continente. No ano passado, a estimativa é de mais de 150 óbitos como consequência direta de tempestades, inundações e incêndios florestais.
O ano 2023 na Europa também bateu o recorde de dias com calor extremo - o qual a ciência define como uma sensação térmica acima de 46ºC, quando torna-se indispensável tomar medidas para evitar consequências como a insolação.
O custo das perdas econômicas relacionadas ao clima em 2023 alcançou cerca de 13,4 bilhões de euros (R$ 74,5 bilhões) na Europa, mais de 80% devido a inundações.
"Centenas de milhares de pessoas foram afetadas por eventos climáticos extremos em 2023, que foram responsáveis por grandes perdas em nível continental, estimadas em pelo menos dezenas de bilhões de euros", disse o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo. "Infelizmente, é improvável que esses números diminuam, pelo menos no futuro próximo".
As temperaturas de 2023 afetaram, ainda, todas as geleiras europeias, que perderam muito gelo, nos Alpes até mesmo em dimensão fora do comum - também pelo fato de, no inverno, a precipitação de neve também ter sido excepcionalmente baixa. Nos últimos dois anos, as geleiras alpinas reduziram seu volume em 10%, indica o serviço Copernicus.
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Quero receberEsse fato evidencia as conexões entre calor, neve e seca: devido à camada de neve insuficiente, o nível do rio Po, nos Alpes italianos, permaneceu abaixo da média, e essa água fez falta ao norte da Itália, já afligido pela seca.
Calor e seca também alimentam os incêndios florestais, que em 2023 ocorreram em toda a Europa, consumindo uma área equivalente a Londres, Paris e Berlim juntas. O maior incêndio já registrado na União Europeia foi na Grécia, destruindo uma superfície comparável ao dobro da metrópole Atenas.
No entanto, os autores do estudo destacaram algumas exceções, como o fato de as temperaturas permanecerem abaixo da média na Escandinávia e na Islândia, apesar de estarem acima da média em todo o continente em geral.
(Com agências internacionais).
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