Temperatura na Grande Barreira de Corais é a maior em 400 anos
As temperaturas da água dentro e ao redor da Grande Barreira de Corais da Austrália aumentaram para o nível mais quente em 400 anos na última década, colocando o maior recife do mundo sob ameaça, de acordo com pesquisa publicada nesta quinta-feira (8).
O recife australiano, o maior ecossistema vivo do mundo, se estende por cerca de 2.400 km ao largo da costa do estado de Queensland, no norte do país.
Um grupo de cientistas de universidades de toda a Austrália perfurou núcleos no coral e, da mesma forma que se conta os anéis de uma árvore, analisou as amostras para medir as temperaturas do oceano no verão local desde 1618.
Combinados com dados de navios e satélites que remontam a cerca de cem anos, os resultados mostram que as temperaturas do oceano, estáveis por centenas de anos, começaram a subir a partir de 1900 como resultado da influência humana, concluiu a pesquisa.
De 1960 a 2024, os autores do estudo observaram um aquecimento médio anual de 0,12°C por década.
Desde 2016, o recife passou por cinco verões de branqueamento em massa de corais, quando grandes partes do recife ficam brancas devido ao estresse térmico, colocando-as em maior risco de morte.
Esses verões ocorreram durante cinco dos seis anos mais quentes dos últimos quatro séculos, segundo o estudo.
"O mundo está perdendo um de seus ícones", disse Benjamin Henley, acadêmico da Universidade de Melbourne e um dos coautores do estudo.
"Acho que isso é uma tragédia absoluta. É difícil entender como isso pode acontecer em nosso tempo de vida. Portanto, é muito, muito triste."
O último ponto de dados de temperatura, de janeiro a março deste ano, foi o mais alto já registrado e "muito acima" de qualquer outro ano, disse Henley.
Os recifes de coral protegem as linhas costeiras contra a erosão, abrigam milhares de espécies de peixes e são uma importante fonte de receita do turismo em muitos países.
Pelo menos 54 países e regiões sofreram branqueamento em massa de seus recifes desde fevereiro de 2023, à medida que a mudança climática aquece as águas superficiais do oceano, informou a NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA).
Entre eles, o Brasil pode sofrer o pior evento de branqueamento de corais da história, à medida que as águas extremamente quentes danificam os recifes da maior reserva marinha do país, no litoral de Alagoas e Pernambuco, ameaçando o turismo e a pesca da região.
A Grande Barreira de Corais não está atualmente na lista de patrimônios mundiais da Unesco que estão em perigo, embora a ONU recomende que ela seja adicionada.
A Austrália vem fazendo lobby há anos para manter o recife — que contribui com 4,2 bilhões de dólares para a economia do país anualmente — fora da lista de ameaçados de extinção, pois isso poderia prejudicar o turismo.