Prévias do PSDB em SP têm votação em padaria, sala comercial emprestada e rua sem saída
Leandro Rodriguez
Do UOL, em São Paulo
As prévias do PSDB, neste domingo (25), que escolheu José Serra como o candidato do partido a disputa pela Prefeitura de São Paulo, foram marcadas por votações esvaziadas em locais inusitados. Além de estacionamentos, o partido usou lugares emprestados e improvisados.
VOTAÇÃO EM LOCAIS INUSITADOS
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Área em obras, alugada pelo dono de uma padaria, vira local de votação na região da Ponte Rasa (zona leste) para mais de 307 partidários do PSDB
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Um pequeno escritório no bairro de Penha de França (zona leste) também serviu de zona eleitoral para as prévias do PSDB na capital paulista
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Colégio São Paulo, na Mooca (zona leste), cedeu suas instalações para a votação das prévias tucanas
Na região da Ponte Rasa (zona leste), os filiados votaram em uma área em obras, alugada pelo dono de uma padaria vizinha ao local na avenida Amador Bueno da Veiga, número 4380. Ao todo, 307 partidários estavam cadastrados, segundo Claudemir Sereno, responsável pela mesa de votação, mas apenas 65 registraram o seu voto.
O sistema eletrônico de votação não funcionou durante a primeira hora das prévias por problemas técnicos, o que levou alguns filiados a desistirem. Outros 17 usaram cédulas, depositadas em uma urna convencional.
Filiada ao PSDB há 20 anos, Andreia Marques Maia foi a última a comparecer ao local de votação. A tucana, que chegou para votar pedalando, disse que “a mudança [no PSDB] começa por mim e pelos filiados”. Ela não quis eclarar seu pré-candidato preferido.
"Problema" do PSDB
No bairro de Penha de França (zona leste), uma tímida faixa na fachada de um edifício comercial convidava os partidários tucanos para as eleições internas. Dos 520 filiados inscritos, apenas 140 subiram a escada que dá acesso à pequena sala comercial onde estavam a mesa de votação e o espaço reservado para o voto.
Acácio Augusto de Andrade, que vive na região e está filiado ao partido há dez anos, votou por volta das 14h30. Sem negar a capacidade do ex-governador José Serra para assumir a Prefeitura, Andrade diz querer renovação no partido.
“Faz tempo que o PSDB tem esse problema, de concentrar as decisões e candidaturas em quatro ou cinto pessoas”, lamentou, ao declarar o seu voto no pré-candidato e secretário estadual José Aníbal (Energia).
Rua sem saída
A pacata e apertada rua sem saída Doutor Ronaldo Porto Macedo, na Mooca (zona leste), tem ao fundo, no número 71, a entrada do colégio São Paulo --que cedeu suas instalações, em frente a típicas casas geminadas. A movimentação atípica no local foi completada pela presença de um veículo da Polícia Militar.
Uma faixa de boas vindas e uma mesa com sucos e lanches compunham o ambiente, em que o clima era de tranquilidade. Magali De Maio, que votou por volta das 14h, disse que foi às urnas hoje porque quer “mudanças para o país".
Entenda o processo
A eleição interna, inédita na capital desde a fundação do partido, em 1988, foi realizada neste domingo (25). Serra bateu o secretário do Estado de Energia, José Aníbal, 59, e o deputado federal Ricardo Tripoli, 59. No total, 6.229 filiados tucanos votaram. Serra teve 52% dos votos, contra 31,2% de Aníbal e 16,7% do Trípoli.
A entrada de Serra na disputa ocorreu de última hora, em 27 de fevereiro. O processo interno de escolha do candidato paulistano começou em outubro do ano passado, após pressão de Aníbal, Tripoli e dos secretários estaduais Bruno Covas (Meio Ambiente) e Andrea Matarazzo (Cultura) --que disputavam a indicação do partido.
A legenda organizou debates entre os quatro. O primeiro ocorreu em outubro de 2011, com abertura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).
Assim que Serra entrou nas prévias, Covas e Matarazzo deixaram a disputa e Serra herdou a maioria dos votos dos dois secretários. As prévias estavam marcadas para 4 de março, foram adiadas para este domingo (25), a pedido do grupo do ex-governador, que temia perder a indicação por ter entrado tarde na disputa interna.
Quando anunciou o ingresso na disputa interna do PSDB, Serra afirmou que sua intenção como candidato era conter o avanço do PT no país. Desde o começo, ele adotou a estratégia de discutir temas nacionais, em detremento dos assuntos diretamente relacionados à capital. Fez, inclusive, ataques, por meio de artigo publicado no jornal "O Estado de S.Paulo", ao candidato do PT, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad e à poítica educacional do governo federal.
Para cientista político Valeriano Costa, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a escolha do ex-governador é "a esperança de sobrevida" para o PSDB, em São Paulo. "Serra não queria ser o candidato. Esperava ser candidato à Presidência, em 2014, mas o PSDB não tinha escolha, pois poderia perder as eleições em São Paulo e correria risco de perder também, em 2014, para governador", afirma.