PMDB escolhe ex-adversário Rafael Greca para disputar Prefeitura de Curitiba
Rafael Moro Martins
Em Curitiba
O ex-ministro do Turismo Rafael Greca será o candidato do PMDB à prefeitura de Curitiba. Ele recebeu 69 votos na convenção realizada neste sábado (23). Seu adversário, o deputado estadual Reinhold Stephanes Jr., teve 39 votos.
Apoiado pelo senador Roberto Requião, presidente municipal da legenda, Greca tentará ser prefeito de Curitiba pela segunda vez. Ele já comandou a cidade entre 1993 e 97, como sucessor de Jaime Lerner --adversário histórico de Requião.
“Fiquei dez anos com Lerner e fui feito candidato a prefeito. Agora, fiquei outros dez anos com Requião e fui novamente feito candidato a prefeito. Vi os dois lados fazendo política em Curitiba, e vou usar o melhor de cada um em favor da cidade. Do ponto de vista ideológico, o eleitor pode ter certeza de que terá um prefeito comprometido com o serviço público e a igualdade de oportunidades para todos”, disse ao UOL, antes da apuração do resultado.
Eleito pela primeira vez para o Palácio 29 de Março com o slogan “Quem é Jaime é Rafael”, Greca terá a missão de ser convincente para os eleitores do PMDB (que repudiam seu passado “lernista”) e, ao mesmo tempo, se esquivar da grande rejeição que Requião enfrenta na cidade.
Talvez por isso, Greca tinha a mais alta taxa de rejeição entre os então pré-candidatos a prefeito, segundo a única pesquisa realizada pelo Ibope este ano. Questionado a respeito, ele deu de ombros. “Você ainda acredita em pesquisa?”, rebateu.
Para Requião, Greca é “disparadamente o melhor candidato para Curitiba”. “Tenho acompanhado as entrevistas dos pré-candidatos [realizadas por uma emissora de televisão]. São de uma indigência absoluta”, disse o senador.
Quem é Rafael Greca
Prefeito de Curitiba entre 1993 e 97 pelo PDT, Greca surgiu na política sob Jaime Lerner (atualmente no PSB) a quem sucedeu na prefeitura.
Em 1997, migrou com Lerner --adversário histórico de Requião-- para o PFL. Pelo partido, foi o deputado federal mais votado do Paraná em 1998.
Pouco depois, seria convocado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para o Ministério do Esporte e Turismo. No ministério, Greca comandou as celebrações do quinto centenário do descobrimento do Brasil. A réplica da nau capitânia, porém, naufragou, e ele acabou demitido.
Enquanto isso, no Paraná, Lerner chegava ao fim de seu segundo mandato como governador com baixos índices de popularidade e, em 2002, viu o adversário Requião conquistar o governo do estado. Na mesma eleição, Greca elegeu-se deputado estadual, já com votação bem mais modesta.
Em 2004, numa mudança considerada surpreendente, Greca filiou-se ao PMDB. Pelo partido, disputou a reeleição para a Assembleia Legislativa, em 2006, mas fracassou. Em 2010, nova tentativa, e novo fracasso.
Para analistas da política paranaense, a ida ao PMDB custou a Greca os eleitores que apoiam Jaime Lerner (principal cabo eleitoral de sua eleição à prefeitura em 1992). Ao mesmo tempo, ele jamais foi aceito pelos eleitores peemedebistas. Agora, também enfrenta a rejeição aberta de integrantes do partido.
A convenção do PMDB escolheu a funcionária pública de carreira Marinalva Gonçalves como candidata a vice-prefeita ao lado de Greca.
Partido rachado
A vitória até certo ponto folgada de Rafael Greca na convenção não reflete a divisão interna que se instalou no PMDB de Curitiba. Durante anos comandante inquestionável da legenda, Requião enfrentou uma rebelião de aliados até então históricos.
Até a semana passada, Stephanes Jr. e a bancada de deputados estaduais do partido defendiam uma aliança com o prefeito Luciano Ducci (PSB), candidato à reeleição.
Ducci tem como principal cabo eleitoral o governador Beto Richa (PSDB), principal adversário de Requião no Paraná.
Ante o fracasso iminente da tese, o grupo decidiu lançar a candidatura de Stephanes Jr., oriundo do extinto PFL e filho de Reinhold Stephanes, ex-ministro na ditadura militar e nos governos de FHC e Lula.
“Eu defendia uma aliança, comigo como candidato a vice-prefeito, que era a melhor opção para o partido. Represento a renovação no PMDB. Se vencer, serei um divisor de águas entre um passado em que tudo era imposto e um futuro mais democrático”, afirmou, antes da divulgação do resultado.
No grupo pró-aliança estavam aliados históricos de Requião, como o secretário-geral da legenda, Doático Santos. Pela primeira vez, Requião admitiu estar “profundamente magoado” com os aliados. “Não vejo porque essa virada com a visão programática e ideológica do PMDB. Isso me decepciona enormemente.”
“Por que Doático não deixou a presidência do PMDB nos últimos oito anos? Porque o sustentei. Todos queriam tirá-lo”, atacou o senador, falando ao UOL na convenção. “Explicação para a traição, peça a eles, não a mim.”
“Eu representava um grupo na presidência, e não apenas a Requião. A candidatura de Greca repete um círculo vicioso de derrotas que não podemos aceitar. Queríamos que Requião estivesse conosco na aliança com Ducci. Infelizmente, não foi possível”, minimizou Doático.
Após a divulgação do resultado, um peemedebista do grupo resultado resumiu a situação ao UOL. “Com Stephanes Jr. ou sem, não importa. O grupo que queria a aliança com Ducci irá trabalhar pela eleição de Ducci.” Questionado a respeito, Greca foi lacônico: “Se eles vierem, serão bem recebidos. Mas, vencida a etapa partidária, a campanha agora é com o povo. E nesse lado terei boa vantagem.”