Ibope descobre duas pesquisas eleitorais falsas em 2012
Maria Denise Galvani
Do UOL, em São Paulo
Resultados antigos ou deturpados e pelos menos duas pesquisas falsas com o nome do Ibope já circularam neste ano em cidades brasileiras. Segundo a diretora do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, acontecem pelo menos 20 casos do tipo em ano de eleições municipais.
A ocorrência mais grave foi em Fortaleza, no início de maio. “Houve uma panfletagem com um resultado de pesquisa eleitoral atribuído ao Ibope. Por coincidência, divulgamos uma pesquisa na cidade logo em seguida, que desfez o mal-entendido”, diz Cavallari, que participou do 5º Congresso Brasileiro de Pesquisa, nesta quarta-feira (27), em São Paulo. O caso, diz ela, foi reportado ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Estado do Ceará.
Em abril, o Ibope já havia desmentido a autoria de uma pesquisa em Itaporanga (SP), onde também circularam panfletos com o nome do instituto. Em Joinville (SC), o problema foi um resultado divulgado por uma partido mais de 20 dias depois da condução da pesquisa.
“Uma pesquisa antiga não reflete a posição do eleitorado naquele momento e pode induzir a uma informação errada”, afirma Cavallari.
“Outra coisa que acontece muito é as campanhas distorcerem o resultado de uma pesquisa, com um título ou um gráfico exagerados. Pode reparar, no horário eleitoral, a linha com a ascensão de um candidato só falta sair da tela, mesmo que tenha sido só um ponto.”
Pesquisa induz o voto?
De acordo com especialistas que participaram do congresso, pesquisa eleitoral não induz o voto da população.
“As pesquisas são às vezes compreendidas como de natureza persuasiva, mas na verdade elas têm natureza informativa”, afirma João Francisco Meira, presidente do Vox Populi.
Por isso, Meira afirma que deveria haver mais espaço para a divulgação de pesquisas qualitativas na imprensa. Hoje, elas são feitas sobretudo a pedido dos partidos, para orientar a estratégia de campanha. “Há uma dificuldade no Brasil de se publicar resultados de pesquisa qualitativa porque temos de lidar com o ‘furor’ dos partidos e dos candidatos, que acham que a pesquisa tem influência no voto”, diz ele.
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, diz que a lei eleitoral também restringe o uso das pesquisas de forma mais ampla na imprensa.
“Do jeito que está hoje, a legislação favorece os partidos a ponto de causar constrangimentos ao instituto. Dependendo do juiz, qualquer partido consegue impugnar o resultado de uma pesquisa”, afirma.
Houve uma tentativa de um partido, por exemplo, de impugnar a última pesquisa Datafolha sobre intenção de voto em São Paulo. A pesquisa foi divulgada nesta quarta-feira (27).
Outra queixa dos institutos de pesquisa com relação à lei eleitoral é a exigência de se registrar uma pesquisa com cinco dias de antecedência, o que dificulta a medição da resposta do eleitorado a fatos inesperados durante a campanha. Cavallari, Meira e Paulino concordam que um prazo de três dias seria mais adequado para captar a oscilação das intenções de voto.
Para Paulino, no entanto, o sistema de registro de pesquisas na Justiça tem sucesso para coibir fraudes como as sofridas pelo Ibope. “Há 20 anos, uma pesquisa falsa sairia estampada num anúncio em qualquer jornal. Hoje, acontecem muito menos fraudes”, diz ele.