Disputa entre Lacerda e Patrus põe à prova poderio de Aécio e tradição petista em Belo Horizonte
Carlos Eduardo Cherem, Guilherme Balza e Rayder Bragon
Do UOL, em Belo Horizonte
A eleição em Belo Horizonte, tratada como prévia da disputa presidencial de 2014, colocará à prova o poder de fogo do senador Aécio Neves (PSDB), principal cabo eleitoral do prefeito e candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB), 66, e a tradição petista na capital mineira, materializada na candidatura do ex-ministro Patrus Ananias, 60.
Nos últimos dias, com o crescimento de Patrus nas pesquisas, a disputa entre ambos se acirrou: segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (6), o petista alcançou 43% dos votos válidos, contra 50% de Lacerda, reduzindo uma diferença que beirou os 30 pontos percentuais no início da disputa eleitoral.
Além de Lacerda e Patrus, participam da disputa Maria da Consolação (PSOL), Vanessa Portugal (PSTU) --ambas com 2% das intenções de voto--, Alfredo Flister (PHS), Tadeu Martins (PPL) e Pepê (PCO) –os três não pontuaram na última pesquisa Datafolha.
A grande expectativa do eleitorado é se haverá segundo turno em Belo Horizonte. Enquanto os socialistas creem na vitória no primeiro turno, os petistas, baseados em pesquisas internas, cravam que a disputa avançará para a segunda etapa.
PSB e PT rompem
O pleito deste ano foi marcado pelo rompimento de PSB e PT, que se revezam no comando da capital mineira desde 1993, quando o próprio Ananias assumiu a prefeitura após derrotar o então deputado federal Aécio Neves. O socialista Célio de Castro, vice de Patrus, sucedeu o petista em 1997 e acabou reeleito em 2000, em chapa com Fernando Pimentel (PT).
Após Castro sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) em novembro de 2001, Pimentel assumiu a gestão e foi reeleito em 2004. Quatro anos depois, Pimentel costurou a candidatura do neófito Marcio Lacerda, que já tinha apoio do PSDB de Aécio Neves, seu padrinho político e grande incentivador de sua entrada no PSB um ano antes. Em um episódio raro, petistas e tucanos integraram a mesma coligação, mesmo a contragosto de setores e lideranças do PT, entre elas o próprio Patrus.
Ao longo da gestão de Lacerda, a relação entre socialistas e petistas progressivamente se desgastou, provocando a saída de secretários de governo do PT. O vice-prefeito, Roberto de Carvalho (PT), tornou-se desafeto de Lacerda, expondo publicamente as críticas ao prefeito. O estopim para a saída do PT da coligação de Lacerda foi a negativa dos socialistas em compor com os petistas na coligação proporcional (de vereadores).
O rompimento das siglas agradou Aécio, que, com as eleições presidenciais no horizonte, tenta aproximar PSDB e PSB. Por outro lado, a cisão incomoda o ex-ministro Walfrido Mares Guia --ex-ministro do Turismo de Luiz Inácio Lula da Silva e amigo do ex-presidente--, que praticamente não se envolveu na campanha do correligionário.
Apesar do afastamento de PSB e PT, Lacerda e Patrus evitam trocar críticas diretas e costumam adotar tom amistoso quando se referem um ao outro. Ao longo da campanha, as críticas do petista ao adversário centraram-se, sobretudo, na saúde e no que ele considera o distanciamento da prefeitura dos programas do governo federal.
Lacerda também evitou criticar Patrus e preferiu repetir o slogan “deixa o homem trabalhar”, usado por Lula em 2006. Bem avaliado pela maioria da população, o candidato socialista insistiu que é preciso que ele continue no cargo para avançar as políticas públicas do primeiro mandato.
Campanha e guerra de vídeos
A rivalidade entre as candidaturas manifesta-se mais em correligionários e militantes, que inclusive trocaram agressões e ovadas antes do debate da TV Globo, na última quinta.
Nos últimos dias, o PT decidiu explorar o quanto pôde um vídeo com uma entrevista do candidato a vice-prefeito de Lacerda, Délio Malheiros (PV), realizada em 29 de junho. Na ocasião, Malheiros, ao lado de Leonardo Quintão (PMDB) –derrotado por Lacerda no pleito de 2008-- disse que o prefeito se apropria da máquina pública e que utilizaria as obras de prospecção do metrô para fins eleitoreiros –as acusações fizeram com que o Ministério Público pedisse a inelegibilidade do socialista há três dias do primeiro turno.
Cinco dias depois da entrevista, logo após PT e PSB romperem, Malheiros foi registrado como vice na chapa de Lacerda, justificando o giro com o argumento de que o cenário político havia mudado.
O vídeo de Malheiros chegou a ser utilizado pelo PT no último programa eleitoral de tarde, exibido na quinta-feira (4). O partido tinha a intenção de exibi-lo na propaganda noturna, mas foi impedido pela Justiça Eleitoral.
A carta na manga do PSB também foi um vídeo, no qual Dilma Rousseff, durante evento oficial do governo federal em julho, afirma que Lacerda é um dos melhores prefeitos do Brasil. A Justiça também proibiu o PSB de utilizar a peça no programa eleitoral de quinta, mas o partido usou o vídeo nas inserções ao longo do dia.
Dilma x Aécio
A presença de Dilma e Aécio em Minas Gerais ajudou a apimentar a disputa em Belo Horizonte. Ao saber que a presidente participaria de um comício na capital mineira, o senador afirmou, citando Lula, que Dilma era gaúcha e não tinha direito de se meter no pleito em Belo Horizonte.
No comício, realizado na quarta-feira (3) na região do Barreiro, Dilma respondeu ao senador, dizendo que não deixou Minas Gerais para ir à praia --quando não está em Brasília, Aécio passa grande parte do tempo no Rio de Janeiro--, e sim porque precisava fugir dos militares durante a ditadura. Sem citar o tucano, a presidente afirmou que “ninguém é dono de Minas” e chamou de mesquinhas as críticas que recebeu.
Aécio novamente atacou a presidente, desta vez em passeata junto com Lacerda, nessa sexta-feira (4), no centro de Belo Horizonte, quando disse que Dilma está ficando parecida com Lula, por, segundo o senador, ser agressiva com os adversários.