Senador tucano diz que derrota em Curitiba foi "castigo merecido" para PSDB do Paraná
Rafael Moro Martins*
Do UOL, em Curitiba
“Foi um castigo rotundo, como diria Leonel Brizola. E merecido.” Assim o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, avaliou, ao UOL, a derrota de seu partido na eleição municipal de Curitiba.
Na capital paranaense, o partido abriu mão de lançar candidato para buscar a reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB), pupilo do governador Beto Richa (PSDB). Para isso, Richa costurou uma ampla coligação de 15 partidos.
Não deu certo: por 4.402 votos, Ducci ficou de fora do segundo turno, que será disputado por Ratinho Junior (PSC) e o ex-tucano Gustavo Fruet (PDT).
“É vexaminoso, deprimente, humilhante [perder já no primeiro turno]. Não tinha visto, até então, um candidato a reeleição ficar de fora do segundo turno. O pessoal que comanda o PSDB precisa entender esse recado”, falou Dias, num recado direto a Richa, seu desafeto desde 2010, quando ambos disputaram a indicação do partido para concorrer ao governo do estado.
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Um dos mais contumazes críticos do governo do PT no Congresso Nacional, Dias acusa o governador do Paraná e colega de partido de “fortalecer o projeto nacional da [presidente] Dilma [Roussef]”.
Na opinião do senador, Richa não é um “homem de partido”. “Ele não agiu na defesa do projeto nacional do PSDB. Todos os palanques [nos grandes municípios] foram montados para fortalecer a base aliada [de Dilma].” E por qual motivo? Dias argumenta que, no Paraná, o PSDB tornou-se um partido dominado pela figura de seu principal líder, Richa, que começou a traçar em 2012 a estratégia para buscar a reeleição, daqui a dois anos.
Nesta segunda-feira (8), Richa e líderes do PSDB estadual argumentam que o partido foi o maior vencedor das eleições no estado, amealhando 78 prefeituras. “Mas são todos pequenos. Só Curitiba soma mais eleitores que todos eles. Nas maiores cidades do estado, Richa abriu mão de candidaturas próprias para apoiar candidatos de partidos de apoio da presidente. Ao PSDB, reservou-se os municípios menores”, observa.
Assim, temos um caso raro de partido que chegou ao governo do estado e, em vez de engordar, emagreceu”, disparou o senador.
Derrota expõe racha no partido
As críticas de Alvaro Dias a Beto Richa colocam a nu um racha no PSDB paranaense, iniciado em 2010, quando ambos disputaram a indicação para concorrer ao governo do estado. O senador acusa Richa, à época prefeito de Curitiba, de descumprir acordo pelo qual seria candidato quem estivesse melhor nas pesquisas.
Vencido por Richa, Dias, apesar de figura de proa do partido no Congresso Nacional, hoje se diz “sem espaço” no PSDB paranaense – a tal ponto que sequer participou de campanhas de tucanos e aliados no estado.
O embate interno ganharia novo episódio quando Gustavo Fruet deixou o PSDB, em junho de 2011, para se filiar ao PDT, alegando ter sido preterido pelo PSDB em favor de Luciano Ducci na escolha do candidato à prefeitura de Curitiba em 2012.
Em 2010, as mesmas eleições que levaram Richa ao governo do estado consagraram Fruet em Curitiba. Candidato ao Senado, ele não obteve uma das duas vagas em disputa, mas, com 650 mil votos, liderou a apuração em Curitiba.
Tornou-se, então, candidato natural à prefeitura. Mas Richa, líder incontestável do partido, sinalizou desde o início de 2011 que seu preferido era Ducci, que fora seu vice-prefeito entre 2004 e 2010. A Fruet, restou abandonar o PSDB, alegando falta de espaço entre os tucanos.
À época, Dias criticou duramente a direção do partido por permitir a saída de Fruet. Richa e aliados, por outro lado, se disseram traídos pelo ex-aliado.
Richa defende-se: “Fruet nunca me procurou”
Neste domingo (7), após votar no primeiro turno das eleições municipais, o governador Beto Richa pela primeira deu detalhes da sua versão sobre a saída de Gustavo Fruet do PSDB.
“Ele jamais foi preterido [pela direção do partido]. Contávamos com um entendimento entre os dois potenciais candidatos (Fruet e Ducci), mas Gustavo sequer quis conversar a respeito”, disse, em entrevista exclusiva ao UOL.
Richa foi além: “Não fui procurado por ele (Fruet) para dizer que tinha o desejo de ser candidato uma única vez, em 2011 inteiro. Fiquei surpreso quando ele decidiu sair do PSDB e se aliar aos adversários mais ferrenhos, que tanto atacou no período em que compôs a CPI (dos Correios, que desvendou o escândalo do mensalão petista)”, garantiu.
“É evidente que ele (Fruet) sabia dos compromissos do grupo com o Luciano (Ducci). Mas em momento algum foi garantido a Ducci que ele seria candidato a reeleição, e ele nunca cobrou isso”, rebateu Richa.
“Tínhamos várias possibilidades. Uma delas, a de quem estivesse em primeiro lugar nas pesquisas seria o candidato. Mas ele (Fruet) não quis nem conversar a respeito. Acho que ficou muito cheio de si com os 650 mil votos [que obteve para o Senado em Curitiba em 2010]. Mas esses votos foram conquistados pelo grupo que depois ele abandonou”, teorizou o governador tucano, antes de saber do resultado das urnas.
“[Faltou espaço a Fruet] talvez por ele próprio não ter convivido com o partido. Vou dar uma prova concreta disso: quando saiu do PSDB, Fruet estava em primeiro lugar nas pesquisas pré-eleitorais para a prefeitura de Curitiba. Mas ele saiu do partido sem levou ninguém, nem mesmo vereador ou suplente. Pelo contrário – do PDT, de três vereadores, dois saíram do partido [para a base de Ducci]”, retrucou Richa.
Fruet: “Essa página virou”
Tanto Fruet quando Alvaro Dias, questionados a respeito, refutam a versão apresentada por Richa. “Há questões que são públicas e notórias”, disse, sem entrar em detalhes, no domingo, ao chegar ao TRE/PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná) logo após a confirmação de sua ida ao segundo turno. “Essa página virou. Não quero falar sobre isso agora.”
Dias foi mais direto. “[A versão de Richa] É risível. Gustavo insistiu, fez apelos de que pretendia concorrer à prefeitura, deu tempo ao partido. Para, depois, ser cuspido para fora dele.”
Em entrevista ao UOL na semana passada, o cientista político Adriano Codato, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), argumentou que Richa tentou uma “jogada ousada” ao apostar todas as fichas na reeleição de Ducci.
Caso vencesse as eleições com Ducci, o governador se consolidaria como maior liderança tucana no estado, de quebra tirando do caminho um potencial adversário interno (Fruet). Além disso, derrotaria Gleisi, provável candidata do PT em 2014. Mas, agora, irá assistir o ex-aliado buscar a prefeitura de Curitiba sem seu apoio.
*Colaborou Janaina Garcia