Passear em Bonito (a 300 km de Campo Grande) pode ser uma experiência inesquecível para quem gosta de natureza, e não é à toa que a cidade está entre os destinos de viagem mais procurados no Brasil. Perto de completar 64 anos, o município famoso por belezas naturais, com seus rios de águas cristalinas, cavernas e cachoeiras, vem passando por uma mudança no perfil econômico: começou com a agricultura, migrou para a pecuária, e de meados dos anos 2000 pra cá tem se ancorado na exploração turística.
A geração de riquezas só cresce, mas nem tudo é bonito quando o assunto é a qualificação dos que ainda não estão inseridos neste novo mercado. O UOL visitou Bonito dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.
Muitas famílias que dependiam da lavoura perderam seus empregos e acabaram mudando para a região urbanizada. Em 2000, 24% da população vivia na área rural; em 2010, o índice caiu para 17%, segundo dados do IBGE. “São pessoas que não têm qualificação pra se adequar a esse crescimento e desenvolvimento da cidade”, diz Margareth Maneta, secretária executiva do Instituto Família Legal, entidade que atende moradores de bairros pobres de Bonito, em parceria com a Promotoria da Infância e da Juventude.
“Precisamos de mais cursos que possam envolver essa população ainda carente, são muitas vezes pais e mães que não têm estudo nenhum ou muito básico”, aponta Margareth.
Da população de quase 20 mil pessoas, 2.500 (12,5%) têm empregos diretamente ligados ao turismo, de acordo com a prefeitura, e outras 2.000 (10%) são aproveitadas informalmente na época de alta temporada.
O secretário de Turismo, Augusto Barbosa Mariano, disse que o processo de formação é gradativo, e que nos últimos seis anos mais de 3.000 pessoas foram treinadas. “O dinheiro nunca é suficiente. O cobertor é curto, a cidade é pequena, mas as necessidades são muitas", afirma.
Segundo Mariano, para 2013, estão previstos cursos de inglês e espanhol, com 40 vagas cada um, em parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego).
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/27/deveria-ser-obrigacao-da-prefeitura-formar-os-moradores-que-trabalham-no-turismo.js
Leonel Lemos de Souza Brito, o Leleco, candidato do PT do B à prefeitura, diz acreditar que as oportunidades são insuficientes e que o turismo não absorve toda a mão de obra. Ele propõe “realizar parcerias com a iniciativa privada local e com o governo do Estado para implementar uma educação continuada”.
Seu rival na corrida eleitoral, o ex-prefeito Geraldo Marques (PDT), também defende melhorias na qualificação dos trabalhadores, e afirma que “a prefeitura gastaria pouquíssimos recursos para oferecer essa capacitação à população, articulando parcerias com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)”.
O atual prefeito, José Arthur Soares de Figueiredo (PMDB), não concorre à reeleição pois já está em seu segundo mandato.
Quem já trabalha nas lojas, restaurantes, hotéis e pousadas reunidos no entorno da avenida central também sente falta de apoio da prefeitura. A vendedora Érika Menezes do Amaral diz que “se quiser fazer um curso de idiomas, é só particular, tem que pagar do bolso”. Na loja de biquínis onde ela trabalha, o número de clientes estrangeiros chega a 60% na alta temporada, e Érika já perdeu vendas porque fazer mímica não foi suficiente.
A garçonete Olir Godoy Correa recorre ao cardápio em inglês do restaurante para não fazer feio, e até arrisca falar uma ou outra palavra com os clientes, mas gostaria de ter um currículo que ajudasse a conquistar um salário melhor. “Para ser camareira, cozinheira, eles não exigem muito, mas você trabalha mais e ganha menos”, lamenta.
O guia de turismo Weliton Vargas Silveira também não fala nenhuma língua estrangeira. Segundo ele, Bonito passou 12 anos sem curso para novos guias, e uma nova turma teve início em agosto deste ano.
Gruta do Lago Azul é um dos passeios mais baratos
A frase que mais se ouve de quem conhece Bonito só reconfirma a fama que a cidade tem: “Bonito é mesmo bonito!”, diz o comerciante paulistano Georges Kadamani enquanto visita a Gruta do Lago Azul.
A gruta é o local que mais recebe turistas --55.367 pessoas fizeram o passeio em 2011-- e tem como grande atrativo um lago subterrâneo, visto a partir de uma abertura de 40 metros de diâmetro. O “azul” do nome, curiosamente intenso, vem dos reflexos que a incidência solar provoca na água.
O lago de fundo calcário tem pelo menos 90 metros de profundidade, já foi objeto de estudos de uma expedição de mergulhadores. O local armazena fósseis de mamíferos como a preguiça gigante, do período Pleistoceno, que ocorreu entre 1,8 milhão de anos a 11 mil anos atrás, além de uma variedade de espécies milimétricas de crustáceos. Os paredões ao redor têm milhares de estalactites e estalagmites, formações pontiagudas que vão do chão ao teto.
Antes de chegar à gruta é preciso fazer uma caminhada de cerca de 15 minutos por um trecho de vegetação, e depois descer uma escadaria feita na rocha. Esse é um dos passeios mais baratos em Bonito e custa R$ 36 por pessoa.