Com campanhas milionárias, líderes de greves da PM no NE tentam eleição
Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
Líderes de greves no Nordeste nos últimos anos, policiais militares disputam a eleição em pelo menos cinco Estados da região. Juntos, eles pretendem gastar até R$ 24 milhões com as campanhas e apostam nos votos dos colegas de farda para chegar às assembleias legislativas ou à Câmara dos Deputados.
O UOL fez levantamento e encontrou pelo menos 10 líderes de paralisações nos Estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Maranhão que vão concorrer a cargos em outubro. Um dos líderes que comandou a greve baiana, em 2012, é candidato no Rio Grande do Norte.
Dos 10 candidatos, dois já exercem cargos eletivos: o Capitão Wágner e o Soldado Prisco, que são vereadores em Fortaleza e Salvador, respectivamente, e tentam cargos maiores agora. Outros tentam estrear.
Em Pernambuco há três nomes --que lideraram a greve de dois dias, em maio, que deixou um saldo de saques, assaltos e ruas das grandes cidades vazias.
Na Bahia, houve duas greves entre 2012 e 2014. Na última, em abril último, a paralisação foi comandada pelo soldado Prisco e pelo capitão Tadeu. Eles tentam agora voos mais altos.
Prisco, que é vereador de Salvador, quer uma vaga na Assembleia Legislativa, enquanto Tadeu –que chegou a exercer, mas teve o mandato de deputado estadual extinto em julho passado por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)-- tenta vaga na Câmara dos Deputados.
Presidente da Aspra (Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia), Prisco foi detido em abril, logo após o fim da greve da PM na Bahia, a pedido do MPF (Ministério Público Federal) para evitar que ele comandasse novas paralisações.
A prisão preventiva foi decretada pela Justiça Federal para garantia da ordem pública. Prisco ficou preso entre 18 de abril e quatro de junho, em Brasília. Ele também havia sido preso por um mês após a greve de 2012.
No Ceará, uma greve em 2012 também causou diversos transtornos à população. O vereador de Fortaleza capitão Wágner e o cabo Sabino foram os principais líderes daquela paralisação e agora fazem dobradinha concorrendo a deputado estadual e federal, respectivamente.
No Maranhão, houve greve em março. O Coronel Melo, apontado como principal líder, chegou a ser preso pelo comando da corporação, acusado de liderar protesto.
Ele também seria o líder da paralisação de 2011, a maior da corporação na história. Já o soldado Dauvane foi o líder na região sul do Estado, com base na cidade de Imperatriz. Os dois tentam cargo na Assembleia do Maranhão.
No Rio Grande do Norte, o Cabo Jeoás também é candidato à deputado estadual. Ele foi detido junto com outros 15 militares, em fevereiro de 2012, logo após a greve da PM da Bahia.
Prisão e expulsão como marketing
Na hora de fazer a propaganda eleitoral, uma das principais estratégias dos candidatos militares é anunciar a prisão em nome da luta da categoria.
"Foram 40 dias de prisão no BOPE em consequência da participação nas negociações de reivindicação de direitos em 2012 no Pará e na Bahia representando a ANASPRA (Associação Nacional dos Praças) Atualmente, ainda respondo a processo por defender os direitos dos policiais militares de todo país. Mas, a luta continua!", diz o cabo Jeoás em sua página de Facebook.
Outro que usa a prisão como propaganda é o soldado Prisco, que diz em um dos seus panfletos: 'Fui preso por lutar por melhores condições de trabalho."
O UOL conseguiu conversar com um dos candidatos.
"Somos candidatos para melhorar a segurança pública. Temos a experiencia e a vivência de policial militar, conhecendo de perto as deficiências, as necessidades das comunidade. Nessa área de segurança, ninguém pode contribuir mais que os policiais", disse o Cabo Sabino (PR), candidato no Ceará e que no ano passado foi expulso da corporação e recorre para tentar voltar a tropa.
Sabino diz que a população não reprovou a paralisação dos militares e concordou com a greve.
"A população apoiou integralmente. Toda a alimentação nos dias da PM foram doadas por pessoas, que iam deixar o local alimento, água, dinheiro, ainda sobraram 50 cestas básicas que doamos. Paralisamos sem dar um tiro", disse.
Para Sabino, o eleitor reconhece um perfil de político sério nos policiais. "As pessoas querem políticos sérios e encontram no profissional de segurança essa essência, essa honradez, essa seriedade.
"Mas não vamos atuar apenas na segurança. Temos muito a contribuir com educação, saúde e, principalmente com a questão das melhor idade, que tem os direitos desrespeitados", acrescenta.