Produtores de soja do Centro-Oeste mantêm críticas e desconfiança em Marina
Guilherma Balza e Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo
-
Edson Silva /Folhapress
Candidata inspira resistência por posições sobre transgênicos e Código Florestal
Dentro dos diversos setores que compõem o agronegócio, um dos mais distantes da candidatura de Marina Silva (PSB) é o dos produtores de grãos da região Centro-Oeste.
As divergências entre a ex-ministra do Meio Ambiente com o segmento vêm desde a época em que a candidata ocupava a pasta federal (2003-08), e há rancores que ainda geram discursos de enfrentamento.
No último dia 18, o produtor Glauber Silveira, presidente da Câmara Setorial da Soja, do Ministério da Agricultura, e ex-presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), escreveu em seu blog um artigo cujo título não deixa dúvidas sobre sua posição: "Deus nos livre de Marina Silva".
"Eu respeito a pessoa de Marina Silva, mas isso não impede que eu pense primeiro no meu país. E não é só o agronegócio que me preocupa, é a posição radical tomada por ela em todos os fóruns que a vi participar. Posições essas, impregnadas de preconceitos que pouca contribuição trazem para corrigir o futuro", escreveu Silveira.
Nessa quinta-feira, em entrevista ao UOL, o ruralista mostrou que nada o fez mudar de opinião do dia 18 para cá. "A possibilidade de vitória da Marina me causa grande preocupação. Ela é uma pessoa extremamente radical, que durante toda a vida agrediu o agronegócio brasileiro", afirma o produtor.
Apesar de reconhecer que a candidata vem tentando se aproximar do setor que ele representa, Silveira não esconde seus senões, que, segundo ele, chegaram a ser comunicados ao então candidato Eduardo Campos: "Eu falei para ele (Campos) que precisaria olhar nos olhos da Marina para ver se ela está mesmo sendo sincera nesse abrandamento de discurso. A mim, particularmente, não convence. Eu não acredito que uma eleição possa mudar uma postura de uma vida inteira."
Silveira disse também que a candidata trata mal os produtores rurais desde quando era ministra. "Ela viajava para fora do país e saía dizendo que o Brasil desmata demais, que não se preocupa com a natureza, demonizando o produtor rural brasileiro. Ela prestou um desserviço ao país", acusa.
Finalmente, sobre a questão dos transgênicos, Silveira se mostra incrédulo sobre as declarações de Marina Silva, de que não seria contrária ao uso das sementes geneticamente modificadas: "Como ela não é contra os transgênicos? Ela foi contra a vida inteira! Ela acha que a soja transgênica faz mal. Eu acho que o que faz mal é passar fome."
Postura mais política e de menor enfrentamento é adotada por Carlos Fávaro (PP), presidente licenciado da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso) e candidato a vice-governador do Estado na chapa do senador Pedro Taques (PDT), que lidera as pesquisas eleitorais.
"Falando como candidato a vice-governador, eu digo que ela (Marina) será muito bem recebida aqui em Mato Grosso. Seu partido é um dos que compõem a nossa chapa, nós daremos palanque à sua candidatura e ofereceremos todo o apoio que ela precisar", disse o candidato, em entrevista ao UOL nessa quinta.
"Agora, falando como produtor, eu acredito que os representantes do agronegócio ainda se ressentem das declarações e posicionamentos que ela teve durante as negociações para a aprovação do Código Florestal. Não foi uma postura de quem quer o progresso do país", afirmou Fávaro.
Apesar disso, o candidato diz acreditar que o diálogo entre o setor e a candidata é possível. "Temos que abrir o diálogo. Eu espero que ela exponha suas posições de forma clara para que possamos buscar entendimentos".
Veja também
- Brasil tem lugar para extrativismo e agronegócio, diz Marina na COP29
- Comitê para debater crise climática não foi criado, critica Pacheco
- Marina defende Autoridade Climática em sua pasta na contramão de ruralistas
- Neste momento todo incêndio é criminoso e governo trabalha para elevar penas, diz Marina