Antipetismo no Sul ajudou a barrar apoio de PSD a Lula no 1º turno
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não esconde seu desejo de ter como aliado no primeiro turno o PSD, comandado pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab. Os planos deste para o crescimento de seu partido, porém, são um dos principais impeditivos para que uma coligação para o Planalto seja formalizada agora, além de dificuldades regionais, em estados em que o PSD é contrário ao PT e a Lula. Os diretórios do Sul, por exemplo, nem cogitam essa possibilidade.
"Desconforto" é o termo utilizado pelo deputado estadual Milton Hobus, presidente do PSD catarinense, para explicar o que aconteceria caso o partido apoiasse um presidenciável de outra agremiação. "Por exemplo, nós aqui em Santa Catarina já declaramos que somos anti-PT."
Hobus sabe que, dentro do partido, nacionalmente, "filiados do PSD são mais simpáticos a essa ou àquela candidatura". Se houvesse uma escolha, haveria um "constrangimento", na opinião dele, que defende que o partido busque seu próprio presidenciável.
Um apoio ao PT, para ele, poderia esvaziar o PSD em Santa Catarina, além de reflexos em alianças locais que são costuradas com Progressistas, PSDB, União Brasil e Podemos, partidos que, em geral, são oposição ao PT.
O diretório do Rio Grande do Sul também nem considera a hipótese de um apoio a Lula no primeiro turno, dizendo que isso nunca foi cogitado.
Presidente do diretório gaúcha, Letícia Boll Vargas, diz que "o partido no estado já entende como definitiva a candidatura própria em primeiro turno", citando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que o PSD quer lançar para presidente.
No Paraná, então, a situação é mais crítica em relação a um apoio ao PT na eleição presidencial. No estado, governado por Ratinho Junior (PSD), seu palanque à reeleição será dividido pelos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PL) e Sergio Moro (Podemos), duas figuras notoriamente contrárias ao PT.
A pressão de petistas sobre o PSD aumentou pelo fato de Pacheco até hoje não ter confirmado que irá disputar o Planalto, como gostaria Kassab —quem já conversa com o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), como alternativa. O PSD gaúcho, inclusive, já aposta na concretização da filiação de Leite ao partido.
"A decisão de ter candidatura própria veio bem antes de o Lula ser candidato do PT, de o [João] Doria [(PSDB)] ser candidato. As alianças, em primeiro turno, são impossíveis", diz Kassab ao UOL ao responder sobre acertos em que deveria abrir mão da cabeça de chapa.
"E [impossíveis] no plural. Senão, parece que a gente tem alguma coisa contra as outras candidaturas, que nem foram analisadas porque é uma decisão irreversível ter candidatura própria."
Complicadores
Aliado do PT na Bahia, o senador Otto Alencar (PSD) acha complicado haver uma aliança de seu partido com Lula neste momento. "Tem diretórios, como o da Bahia, do Amazonas, que já têm compromisso com Lula, antes até de Pacheco ser lançado", diz Alencar, também presidente do diretório baiano. "E tem outros que já têm compromisso com outros pré-candidatos. É o caso do Paraná, por exemplo, que vota no Bolsonaro."
Existem vários complicadores que não permitem, na minha visão, ter uma aliança, como eu desejava, no primeiro turno
Otto Alencar, senador e presidente do PSD-BA
No caso da Bahia, por exemplo, apesar de não haver uma aliança formal nacionalmente, o PSD vai apoiar o PT no estado, uma aliança histórica. Alencar será candidato à reeleição ao Senado dentro de um acerto que terá como postulante ao governo o senador Jaques Wagner (PT).
O nome de Alencar, inclusive, foi colocado em uma polêmica nos últimos dias, em que haveria uma inversão nas posições, com ele disputando o governo e o atual governador, Rui Costa (PT), concorrendo ao Senado. "Não tenho interesse nenhum em ser candidato a governador", disse o senador, que reafirmou o desejo pela reeleição. Wagner também mantém sua pré-candidatura ao governo.
Blindagem com candidatura
Não ter presidenciável também criaria uma pressão para o PSD. "Se não tivermos candidatura própria, eu por exemplo, tenho muita simpatia por Lula", diz a secretária-geral do PSD da Paraíba, Eva Gouveia, que indica que, no estado, tem uma "maioria por uma adesão do partido a Lula".
"Particularmente, tenho acompanhado as decisões do diretório nacional, sigo a nacional, mas tenho conversado com muitos e dividido esse sentimento com o nosso presidente Kassab", diz Gouveia.
O PSD de Goiás, por sua vez, é favorável a uma terceira via, que poderia ser representada por Pacheco, e rejeita apoio a um dos dois polos. "Composição com Bolsonaro é descartada, e a maioria também não quer uma composição com Lula em primeiro turno", diz Vilmar Rocha, presidente do diretório goiano.
Com um candidato próprio, Rocha diz que, além de fugir da polarização, o PSD cria uma identidade própria, como tem sustentado Kassab, até em busca de ter a primeira bancada no Senado [hoje é a segunda] e consolidar como uma das três maiores da Câmara [tem a quinta atualmente]. "Qualquer outra opção vai dividir o partido. É por isso que a maioria gostaria de ter uma candidatura."
Para o senador Nelsinho Trad (PSD), presidente do diretório de Mato Grosso do Sul, um presidenciável seria como ter uma "locomotiva" que ajudaria o partido nas eleições para o Legislativo. "O partido precisa ter identidade e cara. Do contrário, acaba sendo coadjuvante de um outro."
Para Rocha, segundo turno, "é outra história", já que os cenários estaduais e, principalmente, do Poder Legislativo já estarão mais cristalizados. Mas a expectativa agora é em torno de Pacheco, que ainda não deu uma resposta definitiva. "Está na mão dele. Mas caso ele não queira, e isso tem que ser dito por ele, aí, sim, temos uma outra alternativa, que é o governador do Rio Grande do Sul", diz Trad, em referência a Leite.
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